Comunicação

Influenciadores Digitais: Tendências e Perspectivas

Segundo dia do 13º Muticom trouxe reflexões sobre o papel dos 'influencers da fé' e o impacto na vida da Igreja

Escrito por Luciana Gianesini

14 JUL 2023 - 18H53 (Atualizada em 15 JUL 2023 - 14H01)

Alberto Andrade/ A12

Leia MaisA igreja é uma grande influencer nas redes sociais?Dando continuidade à sua programação, na manhã desta sexta-feira (14) a segunda conferência do Mutirão de Comunicação Católica - Muticom abordou a temática dos influenciadores digitais, especialmente aqueles que tratam de conteúdo católico na internet.

Política e Religião estão interligadas

Com o avanço da tecnologia e o surgimento das redes sociais, os influenciadores digitais se tornaram figuras importantes no ambiente digital. Eles compartilham valores, constroem uma nova realidade e estão ligados a teorias comportamentais que moldam suas ações e perspectivas. No entanto, é fundamental entender que a questão sociopolítica está intimamente ligada à questão religiosa, e ambas desempenham um papel significativo nesse contexto.

A Igreja tem se mostrado atenta à participação política, convocando constantemente à reflexão por meio da Doutrina Social da Igreja (DSI) e outros grandes temas, frequentemente apresentados pelo próprio Papa Francisco.

Ao observar os influenciadores digitais, podemos perceber as perspectivas socioculturais e pastorais às quais estão vinculados. Suas visões eclesiológicas são reveladas por meio de questões como a preservação do meio ambiente (Casa Comum) e a Campanha da Fraternidade. Além disso, é importante questionar quem influencia esses influenciadores, quem os financia e quem lhes oferece suporte.

Leia MaisMuticom 2023: Como viver o amor ao próximo no ambiente digital?Muticom 2023: primeiro dia traz a sinodalidade como caminho para o encontroNo entanto, devemos ter cuidado com as "bolhas de filtro". Ao promovermos a maior Boa Notícia de todos os tempos, que é o Evangelho de Jesus, não devemos nos limitar a um ambiente que apenas confirma nossas próprias opiniões. Ao fazer isso, corremos o risco de nos radicalizarmos, acreditando apenas naquilo com que concordamos. Precisamos nos questionar: onde está o espaço para o diferente?

Fazedores da paz... mas nem sempre

Infelizmente, o conflito gera engajamento e o ódio acaba sendo um fator de envolvimento nas redes sociais. Muitos influenciadores, em busca de likes e popularidade, alimentam esse conflito, inclusive aqueles relacionados à fé.

A exemplo disso, nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um problema perigoso de radicalização, resultando em ataques a escolas, células neonazistas e outros atos preocupantes, tanto no país como em todo o mundo. Diante dessas questões, a influência digital tem uma forte relevância sociopolítica.

Por vezes, observamos uma suposta "isenção programada", onde alguns influenciadores evitam falar explicitamente de política, mas, mesmo assim, acabam fazendo política indiretamente. Essa abordagem pode levar ao culto do ego e a uma focalização excessiva em assuntos pessoais. É importante, então, que esses influenciadores promovam conteúdos relacionados à Sagrada Escritura, aos documentos da Igreja e a outras discussões que envolvam seus próprios temas e movimentos.

Em quem nós cremos?

Ao analisar o eixo teológico da pesquisa que deu origem ao tema desta Conferência, constatamos que o uso de uma suposta "autoridade para opinar" não se encaixa na comunidade eclesial nem na evangelização. Isso pode gerar rupturas, criar bolhas, disseminar fórmulas doutrinárias distorcidas e fortalecer crenças que a própria Igreja já não sustenta.

A intencionalidade também deve ser considerada, pois quando alguém utiliza as redes sociais para falar em nome da Igreja, é preciso ter clareza quanto às suas verdadeiras intenções, que em alguns casos podem ser divergentes.

Alberto Andrade/ A12
Alberto Andrade/ A12

No contexto da evangelização, foram identificadas cinco categorias de anúncio:

1. Prático-testemunhal;

2. Teórico-apologético;

3. Psicologista;

4. Cristianismo 'light';

5. Discurso permeado por fórmulas doutrinais.

É importante ressaltar que essas categorias podem desviar-se das demandas atuais da Igreja e do povo de Deus, desconectando-se da realidade cotidiana da Igreja e promovendo tensões, ataques a hierarquias e instituições, além de formar bolhas e grupos que rompem diretamente com a chamada Cultura do Encontro.

O 'cristianismo light' e os 'terapeutas da fé'

Alguns influenciadores, ainda, adotam um discurso 'psicologista', abordando a ansiedade de forma individual, mas negligenciando o propósito comunitário e eclesial. Isso pode resultar na subjetivação exagerada da mensagem do Evangelho.

Já o chamado 'cristianismo light' em geral aborda o tema da fé sem mencionar a Palavra de Deus, a Igreja, a Liturgia ou qualquer outro aspecto. Esse tipo de abordagem não engaja nem promove a prática eclesial, e muitas vezes é utilizado até para fins humorísticos. No entanto, quando tocamos em questões eclesiais efetivas, para quem se identifica com o "cristianismo light", isso pode soar como algo "pesado".

Leia MaisA evangelização na era digitalPara um estudo mais aprofundado, é essencial então analisar o público. Ninguém se torna um influenciador sem a credibilidade conferida pelos próprios seguidores. A Igreja no Brasil demonstra preocupação com essa questão, como foi expressado na Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 2023.

A perda de referências e da unidade

O surgimento de uma autoridade midiática muitas vezes se contrapõe à autoridade instituída, o que nos leva a refletir sobre o rumo que estamos tomando e para onde queremos ir. Será que estamos caminhando em direção à "presença plena", como mencionado no documento do Dicastério para a Comunicação?

É fundamental que haja uma reflexão constante para que possamos viver o caminho sinodal, buscando uma conversão pastoral contínua e comunicando a verdade da Igreja e de Jesus Cristo. Devemos analisar nossas intenções e avaliar como nossa presença nas redes sociais pode promover a evangelização.

O Evangelho, a caridade, a graça, a sinodalidade e a unidade devem ter primazia em nossa atuação, tanto online como offline.

:: Continue acompanhando a cobertura do 13º Muticom pela Rede Aparecida de Comunicação. Acesse a12.com/comunicacao

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Luciana Gianesini, em Comunicação

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...