Dúvidas Religiosas

Casei, mas não quero ter filhos!

Padre Jefferson Antônio da Silva Monsani

Escrito por Pe. Jefferson Antônio da Silva Monsani

22 FEV 2021 - 08H30 (Atualizada em 24 JAN 2023 - 16H36)

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Leia MaisPosso dar “um tempo” no meu casamento?O que você sabe sobre o casamento como vocação?O que o casamento representa para a Igreja Católica?Caros amigos, uma reflexão acerca da geração de filhos pede, antes, uma reflexão acerca da realidade da qual ela depende: o matrimônio. A Igreja, considerando atentamente os dados da Bíblia e da sua Tradição, propõe como elementos essenciais do matrimônio cristão a unidade, a indissolubilidade e a fecundidade (Cf. Gn 1, 28; 2, 24, Mt 19, 4-6).

De fato, é dupla a finalidade da união conjugal: o bem dos cônjuges, que se entregam um ao outro no amor, e a transmissão da vida, como transbordamento desse amor que sentem um pelo outro e que não pode se esgotar no interior do próprio casal (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2363).

Na realidade, por sua própria natureza, o matrimônio está ordenado à geração e à educação dos filhos (Cf. Gaudium et spes, 50). O mesmo Deus que criou o homem e a mulher e os entregou um ao outro, confiou-lhes a sublime missão de colaborar com Ele na obra da criação, quando lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 1, 28).

Um casal, portanto, que se fecha à transmissão da vida – sem que exista um motivo suficientemente grave e justo – acaba por negar um elemento intrínseco ao matrimônio, isto é, que está na própria essência do sacramento que receberam ao se casarem. Lembremo-nos de que uma das perguntas feitas ao casal durante a celebração litúrgica do matrimônio os questiona se estão dispostos a receber, com amor, os filhos que a eles forem confiados por Deus.

É fato que, hoje, muitos casais optam por não ter filhos e são diversos os motivos que podemos elencar para tentar explicar esse fenômeno. Em primeiro lugar, temos a chamada cultura do individualismo, que propõe o eu como valor absoluto e cujos efeitos, como bem sabemos, são altamente destrutivos às relações humanas. Uma consequência muito concreta dessa mentalidade é a ideia que filhos restringem a liberdade do casal, sendo, por isso, um obstáculo à concretização de seus projetos individuais. Para estes, os filhos são uma dívida, não uma dádiva (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2378).

É crescente, também, a chamada cultura do provisório, que leva as pessoas a rejeitarem tudo o que pede responsabilidade e compromisso. Além disso, a atual situação econômica e os diversos problemas sociais acabam por produzir nas pessoas a sensação de instabilidade e de medo em relação ao futuro.


“A tarefa fundamental do matrimônio e da família é estar a serviço da vida” (Catecismo da Igreja Católica, 1653), de modo que a recusa dessa missão divina por parte dos que podem realizá-la é, no mínimo, uma contradição. Naturalmente que não estamos fazendo uma reflexão saudosista, que pretende reproduzir no presente o passado, quando os casais, não obstante os poucos recursos materiais, tinham muitos filhos.

De fato, a geração de um filho não é, somente, um ato biológico, mas pressupõe aquilo que o Papa Francisco chama de responsabilidade geradora (Cf. Amoris laetitia, 82), no sentido de que a vida gerada precisa, necessariamente, de acompanhamento material, afetivo e espiritual por parte dos que a geraram. A Igreja é mestra ao ensinar que o matrimônio está, naturalmente, ordenado à transmissão da vida, mas é mãe ao instruir seus filhos sobre a maneira verdadeiramente humana e cristã de viver o dom da paternidade e da maternidade: respeitando a vontade de Deus, de acordo e esforço comuns, considerando as condições do tempo e da própria situação e com responsabilidade generosa.

É importante dizer, ainda, que o matrimônio não foi instituído tendo em vista, somente, a procriação (Cf. Gaudium et spes, 50). Lembremo-nos de que há casais que, mesmo depois de recorrerem aos recursos médicos legítimos, não podem gerar filhos. A adoção, para eles, pode ser um caminho válido para realizar a paternidade e a maternidade de maneira generosa, oferecendo um lar e amor a quem está privado de um ambiente familiar adequado.

De fato, as dificuldades e exigências do tempo presente não podem ser ignoradas. Porém, um filho não pode ser pensado à medida da própria comodidade. Ele será, sempre, “o dom mais excelente do matrimônio” (Catecismo da Igreja Católica, 2378). Deus dá a missão, mas concede, também, a graça necessária para bem realizá-la!


Escrito por
Padre Jefferson Antônio da Silva Monsani
Pe. Jefferson Antônio da Silva Monsani

Formado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Teologia pela Faculdade João Paulo II. É sacerdote na Diocese de Araçatuba (SP)

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