Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Dúvidas Religiosas Atualizada em 26 MAR 2019 - 11H47

Por que os padres modernos usam cada vez menos as vestes clericais?

É certo que depois do Concílio Vaticano II, muitos clérigos se afastaram de alguns símbolos considerados arcaicos. Mas a dúvida de hoje é: por que os padres modernos usam cada vez menos as vestes clericais no quotidiano?

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Há um cânon no Código de Direito Canônico que legisla a respeito desse tema: “Os clérigos usem hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pela Conferência dos Bispos e com os legítimos costumes locais”. (Cân. 284). Bem, este ó livro que obriga, exorta e defende legalmente os membros da Igreja Católica, por isso falamos de Lei Eclesiástica Universal. Assim sendo, é obrigatório aos sacerdotes, bispos e cardeais o uso das vestes clericais.

Por outro lado, o secretário da Congregação para os Bispos, Dom Lucas Moreira Neves, fez redigir uma regra aqui no Brasil, em 1987, dizendo que os clérigos deveriam usar um traje “eclesiástico digno e simples, de preferência o ‘clergyman’ ou a ‘batina’”. As palavras de Dom Lucas mostram que o tema é controverso, e que as vestes não são fundamentais na Obra da Evangelização.

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Em 2013, deparamo-nos com a Nova Edição do Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, que novamente vem insistir na importância de se cumprir a lei conforme se encontra no Direito Canônico, pois “numa sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero – homem de Deus, dispensador dos seus mistérios – seja reconhecível pela comunidade, também pelo hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade de detentor de um ministério público”. (61).

Enfim, a Igreja insiste com os clérigos no uso das vestes clericais decorosas, em todo momento da vida pública. É certo que esse tema gera paixões naqueles que defendem piamente o lado que mais lhe agrada. Os que amam andar por todo lado de batina ou de clergyman vão sempre defender de unhas e dentes essa norma, transformando-a em dogma da Igreja. Por outro lado, aqueles que abominam qualquer tipo de símbolo da Igreja vão se apresentar ao Povo de Deus de forma relaxada e indecorosa, insultando os demais que pensam diferentemente.

Estar no meio, buscando o equilíbrio e se afastando do fanatismo, é o melhor remédio. Sabe-se que hoje ninguém vai obrigar a maioria dos sacerdotes a usar clergyman ou batina, mesmo que voltem punições severas como outrora. Dessa forma, que nós clérigos nos apresentemos, então, com decoro e dignidade ao Povo de Deus, não só nas vestimentas, mas também nas atitudes.

Existe muita gente por aí usando batina e clergyman e sendo arrogante, iracundo, agressivo, emburrado e legalista, quase refundando a religião do Farisaísmo. Por outro lado, há tantos outros que pregam a simplicidade e o despojamento, mas que padecem dos mesmos vícios elencados acima. Portanto, sejamos decorosos e simples, mas de coração manso e humilde como Jesus nos ensinou!

Sim, o sinal é importante. As pessoas saberem que você é padre é um direito que elas têm. O símbolo fala muito na cultura de hoje. E isso também tem o seu lado negativo. Numa sociedade de fetiches, o clérigo com sua “farda” se torna alvo de desejos e paixões delirantes. E seu uso abusivo desses símbolos feito por meninos e jovens que só aprendem a repetir discursos de fundamentalistas também traz preocupações. Por outro lado, aqueles que se perdem no meio da multidão, sem serem reconhecidos, também correm os riscos que o anonimato apresenta. Por isso, com vestes clericais ou sem elas, sejamos fiéis ao que Deus nos entregou: o sacerdócio!

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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