Espiritualidade

CFE 2021: A urgência em formar cirandas e não bolhas digitais

Mariana Mascarenhas

Escrito por Mariana Mascarenhas - Redação A12

08 MAR 2021 - 13H37 (Atualizada em 08 MAR 2021 - 13H56)

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Neste mês de março, em que o Brasil completa um ano da primeira morte ocasionada pelo novo coronavírus, nós enfrentamos a pior fase da pandemia da COVID-19 no país, com mais de 260 mil mortos e uma média de quase dois mil óbitos diários. Ao olhar para tal cenário, será mesmo que podemos culpabilizar apenas o vírus por tamanho caos? Certamente não! Desde o começo da pandemia, são notáveis e vergonhosos o descaso e o descrédito de certos governantes com a situação, além da irresponsabilidade de muitos cidadãos, que naturalizaram a morte e passaram a não usar máscaras e/ou realizar festas e outros eventos proibidos, provocando aglomerações.

Diante de tudo isso, como demandar empatia dessas pessoas, que não têm amor nem pela própria vida? Além de serem irresponsáveis, muitas delas satirizam quem segue as devidas recomendações e ainda usam da internet para produzir e espalhar falácias sobre a pandemia, questionando sua existência e destilando palavras de ódio àqueles que as criticam por agirem de tal forma.

Darren Baker/Shutterstock
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Assim, se no período pré-pandêmico, as redes sociais já serviam de palco para troca de ofensas em uma sociedade brasileira extremamente polarizada, o cenário atual veio apenas escancarar tais divisões. Por isso, a proposta da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) de 2021, cujo tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a), se revela uma urgência neste momento ao nos convidar para a prática do diálogo fraterno por meio da construção da unidade na diversidade. Trata-se de um convite feito por várias Igrejas Cristãs que se uniram para celebrar e trabalhar a CFE, já que a Campanha deste ano é ecumênica.

Com base na CFE, cujo cartaz exibe a imagem de uma ciranda formada por pessoas de diferentes faixas etárias, etnias, gêneros, crenças etc., e considerando o cenário de polarização digital, quando se veem muitos internautas enxergarem apenas seus pontos de vista, isolados em bolhas digitais, podemos nos perguntar: como romper tais bolhas para formar cirandas digitais que permitam o verdadeiro diálogo com o outro e o cuidado com o próximo, especialmente nestes tempos pandêmicos?

O texto-base da CFE 2021 nos traz alguns pontos que podem nos auxiliar na resposta, exaltando a necessidade de construirmos “pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio” (2) por meio de uma verdadeira conversão. Para isso, somos provocados “a pensarmos e repensarmos cotidianamente nossa forma de estar no mundo. Ela (conversão) nos pergunta sobre como nos envolvemos com as transformações sociais, econômicas, espirituais, ecológicas, individuais e coletivas, a fim de que sejamos, cada vez mais, coerentes com os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos” (8).

CNBB
CNBB
Campanha da Fraternidade 2021

Tal reflexão nos impele a reconstruir nosso olhar, não somente para as mazelas da sociedade, mas, principalmente, a quem atribuímos a culpa por elas, manifestando, muitas vezes, expressões de ódio e preconceito, sem compreender a totalidade dos fatos.

Leia MaisComo a Campanha da Fraternidade de 2021 une em meio às diferenças?Um exemplo é o cenário de desigualdade social e de insegurança que sempre assolou o país e se intensificou ainda mais em razão da crise econômica gerada pela pandemia. Alguns detentores de poder, para se eximirem de suas responsabilidades por tal situação, apresentam falsas narrativas destinadas a gerar conflitos entre os próprios cidadãos, assolados por tais mazelas, como nos mostra o texto-base, no trecho a seguir:

“As pessoas reagem à situação de pobreza e insegurança e a reação, muitas vezes, se torna luta de fragilizados contra outros fragilizados por emprego, por lugar, por posição. A insatisfação se transforma em ódio, cuja força é direcionada contra inimigos criados pelo próprio sistema, que culpabiliza o pobre por ser pobre porque assim deseja, dizendo que é pobre porque não se esforça mais. O sistema joga as pessoas contra a pessoa imigrante, com o falso argumento de que os imigrantes 'roubam os empregos de brasileiros', joga contra os povos quilombolas, com o falso argumento de que estes 'recebem terra de graça'. Dessa forma, são criadas diversas narrativas para legitimar a exclusão e difundir na sociedade o ódio, a violência e a negação dos direitos humanos” (50).

Narrativas potencializadas pelas redes sociais digitais e seu poder de repercussão, com os inúmeros compartilhamentos, transformam mentiras em verdades. Por isso, o primeiro passo para sair da bolha está em olhar o todo, desconstruir preconceitos e abrir a mente e o coração para acolher o próximo, em uma grande ciranda, que deve ultrapassar o espaço virtual e se solidificar no real, principalmente neste momento em que o cuidado com o outro se revela fundamental.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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