Por Ir. Gilberto Teixeira da Cunha Em Espiritualidade Atualizada em 02 ABR 2019 - 16H14

Tráfico humano: violação grave da liberdade e da dignidade dos filhos de Deus

Como nos outros anos, a Igreja no Brasil durante o tempo quaresmal convida os fiéis a participarem da Campanha da Fraternidade, como um dos meios de maior conversão e a possibilidade de comprometer-se com o próximo.

O tema deste ano é a “Fraternidade e o Tráfico Humano” e tem como lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1)”. Algumas perguntas brotam ao ouvir esse tema: O que é o tráfico humano? Qual o seu alcance? Qual a sua relevância para nós? O que podemos fazer para mudar essa situação?

 

"O tráfico humano é uma das formas atuais de escravidão".

Primeiramente é importante entender que o tráfico humano afeta algo muito valioso que nós temos, um dos maiores dons que Deus nos presenteou: a nossa liberdade. Ao tirar a liberdade da pessoa fere-se a sua dignidade de filhos de Deus. Podemos dizer que o tráfico humano é uma das formas atuais de escravidão. Essa grave realidade é fruto da “cultura de morte” que vivemos, onde a ganância está acima de tudo, não importando se com isso prejudico o outro. Nas palavras do Papa Francisco ocorre uma “globalização da indiferença” (Lampedusa, 08/07/2013).

Embora aparentemente seja irrelevante abordar o problema do tráfico humano, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o tráfico humano renda anualmente 32 bilhões de dólares para o bolso dos criminosos, sendo um dos crimes mais rentáveis, junto ao tráfico de drogas e de armas. No início de junho de 2012 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que as vítimas de trabalho forçado e exploração sexual chegaram a 20,9 milhões de pessoas em todo o mundo. Deste total, 4,5 milhões (22%) são exploradas em atividades sexuais forçadas, 14,2 milhões (68%) em trabalhos forçados e 2,2 milhões (10%) pelo próprio Estado, sobretudo os militarizados. Impressiona que mais da metade das vítimas (55%) sejam mulheres e jovens, sendo que 26% são menores de idade. Muitas dessas vítimas são brasileiras ou passam pelo Brasil todos os anos. Esses números são bem relevantes, principalmente se considerarmos que em muitos casos não é possível identificar a vítima, porque ela não denuncia por medo ou por não ter consciência de que é uma vítima. Podemos inclusive deduzir que esse número estimado seja muito maior. 

Arte: A12/Diego Simari.

 

 

"As modalidades do tráfico humano são a exploração no trabalho, a exploração sexual, o tráfico para a extração de órgãos e o tráfico de crianças e adolescentes".

O tráfico humano pode ser bem abrangente. Além do tráfico para a exploração no trabalhopara a exploração sexual, os mais comuns no Brasil, também se realiza tráfico para a extração de órgãos e o tráfico de crianças e adolescentes. Essa última modalidade do tráfico afeta as vítimas mais indefesas. Somente na década de 80 quase 20 mil crianças foram enviadas ao exterior para adoção. De cada dez crianças (entre 7 e 14 anos), uma trabalha. Sem contar o grande número de crianças submetidas à exploração sexual ou a trabalhos domésticos. Tira-se a liberdade, a esperança, destrói-se a infância de tantas crianças, com toda uma vida pela frente...

Após vermos alguns números percebemos que o tráfico humano é um tema relevante e que essa realidade precisa ser transformada. E a primeira coisa a se fazer é entender como ele atua. A primeira característica é que é um crime organizado, com uma ampla estrutura e um sofisticado esquema para facilitar toda a operação. Os criminosos utilizam um fator que dificultam o seu enfrentamento: a invisibilidade, o silêncio das vítimas. A maioria das vítimas não denuncia, seja por inconsciência (não pensam que estejam sendo exploradas), por vergonha ou por medo. Outra característica muito comum neste crime é o aliciamento e a coação. A pessoa é iludida com uma oferta de trabalho irrecusável, com a promessa de realizar os seus sonhos, ganhar um dinheiro fácil que nunca imaginaria ganhar. Depois de enganada, na maioria das vezes levada a um lugar distante é submetida a práticas contra a sua vontade. A vítima já chega no local devendo os custos da viagem e fica totalmente nas mãos do explorador. Os aliciadores muitas vezes pertencem ao círculo de amizades das vítimas ou dos familiares. Normalmente são pessoas com boa escolaridade e com boa capacidade de convencimento. Aproveitam-se das vítimas, que muitas vezes são pessoas em situação de vulnerabilidade social. São pessoas com pouco poder aquisitivo, insuficiente formação, que moram muitas vezes em áreas rurais, com pouco horizonte de vida e baixas perspectivas de crescimento econômico e social. Então, mostrar um sonho, a possibilidade de uma vida muito melhor, pode ser muito atrativo. E quando a vítima percebe que o sonho na verdade é um dos seus maiores pesadelos é tarde demais...

 

"É importante que identifiquemos e denunciemos as práticas do tráfico humano e assim resgatarmos a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, as milhões de vítimas desse crime desumano".

Como então podemos mudar essa situação? A Campanha da Fraternidade nos propõe várias ações concretas. Algumas iniciativas inclusive já existem há muito tempo. De forma geral nos convida a identificar e denunciar as práticas do tráfico humano a fim de resgatar a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, as milhões de vítimas desse crime desumano. Mais detalhes da Campanha podem ser encontrados nos diversos materiais disponíveis em Edições CNBB.

Peçamos a Deus a graça de nos comprometermos com esta proposta de solidariedade aos nossos irmãos mais necessitados, guiados pelas mãos amorosas da Mãe Aparecida, pois é “para a liberdade que Cristo nos libertou” Gl 5,1

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