Quem nunca, principalmente na fase da infância e da adolescência, foi obrigado(a) a fazer algo sem a mínima vontade, que “atire a primeira pedra”. A questão é: quando se trata de atividades essenciais para a formação do ser humano, até que ponto é necessário obrigá-lo a exercê-las? Será que, assim, ele as cumprirá de modo adequado? Mas, não cumpri-las também seria prejudicial para o crescimento e forma de compreensão do mundo dos indivíduos?
Essas e outras questões sempre permearam minha mente e se tornaram ainda mais presentes no dia 23 de janeiro de 2021, data em que o influenciador digital Felipe Neto postou a seguinte mensagem em seu Twitter, rede em que possui quase 13 milhões de seguidores:
A postagem dividiu opiniões e gerou uma série de discussões, críticas e elogios ao influenciador. Enquanto muitos criticaram-no por considerar tal afirmação um desmerecimento de grandes escritores da literatura brasileira, outros concordaram, plenamente, com Neto. Eu confesso que, ao saber do ocorrido por sites de notícias, fiquei tendenciada a criticar o influenciador. No entanto, assim que acessei sua conta do Twitter para verificar o que realmente tinha postado – afinal, é essencial ouvirmos as fontes citadas em matérias para analisarmos a notícia sob todos os prismas possíveis – passei a me questionar sobre em quais aspectos Neto poderia ou não expressar uma realidade brasileira.
Leia MaisNesta segunda (14) é celebrado o Dia Nacional da AlfabetizaçãoAlgo que me incitou tal questionamento foi a palavra “forçar”, que iniciou a postagem. Obviamente, se estamos executando alguma ação de modo forçado, as chances de não obtermos um bom aproveitamento do que realizamos são grandes, considerando, principalmente, a questão de não termos buscado aquilo, por não nos proporcionar prazer.
Trata-se de algo que nos foi imputado. Além disso, basta observarmos os sinônimos do verbo “forçar” no dicionário, que reforçaremos a ideia de realizar algo por pura e simples obrigação.
Porém, à medida que continuei lendo a crítica de Felipe Neto, mais questões se instalavam em minha mente, afinal, se não podemos obrigar indivíduos a lerem determinada obra, correndo o risco de criar um maior distanciamento entre leitor e autor, também não podemos, simplesmente, retirar grandes clássicos literários da lista de leitura de adolescentes e jovens.
Não esperemos uma compreensão integral da obra pelos leitores, mas apresentar autores renomados de obras clássicas para jovens é uma forma, inclusive, de auxiliá-los a compreender melhor diferentes épocas de nossa própria história. E, como eu disse, trata-se de “apresentar” os autores aos estudantes, e não, simplesmente, forçá-los a ler algo que não faz parte de sua realidade.
Como colocado pelo Prof. Jack Brandão, Doutor em Literatura Alemã pela USP:
“O professor precisa desenvolver metodologias que, gradativamente, despertem no aluno o desejo de adentrar no universo literário. Todavia, isso não é feito entregando um livro nas mãos do estudante e solicitando a ele sua leitura. É preciso fazer uma espécie de alfabetização literária que pode acontecer, por exemplo, por meio de uma leitura conjunta de trechos literários, entre educador e educandos, a fim de que os jovens possam se familiarizar, aos poucos, com o mundo apresentado”.
Assim, tal alfabetização se faz cada vez mais necessária, especialmente na sociedade atual, marcada pelo bombardeamento imagético virtual, que acaba atraindo muito mais jovens para as telas do que para as páginas de um livro. Aliás, não apenas jovens, mas pessoas de todas as faixas etárias.
De acordo com a pesquisa Retratos da leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos. Em 2015, 56% da população brasileira admitiram ter hábitos de leitura. Em 2019, a taxa caiu para 52%. A pesquisa também constatou que a única faixa etária com aumento de leitores foi a de 5 a 10 anos e que a taxa de redução de leitores nas classes A (12%) e B (10%) foi maior do que nas classes D e E (5% para ambas). Outros dados interessantes levantados pela pesquisa são:
a) A Bíblia figura como o livro mais citado pelos leitores;
b) Machado de Assis, Monteiro Lobato e Augusto Cury aparecem como os autores preferidos do público
c) O grupo de pré-adolescentes de 11 a 13 anos compõe a faixa etária que mais lê no Brasil (81%).
Portanto, não é aconselhável forçar ninguém a ler, mas, por outro lado, não se pode, simplesmente, deixar de apresentar clássicos literários aos nossos jovens estudantes. A questão reside em como fazê-lo e, assim, despertar não apenas leitores mais aguçados, como críticos de mundo.
Papa se despede da Indonésia rumo a Papua-Nova Guiné
Esta é uma das maiores viagens apostólicas de seu pontificado, com mais de 12 dias percorrendo dois continentes.
CNBB divulga programação do Seminário de Iniciação à Vida Cristã para Presbíteros
Seminário de Iniciação à Vida Cristã da CNBB reúne mais de 150 inscritos e discute temas como catequese e mídias digitais. Saiba mais.
Ezequiel, o profeta da esperança
O livro de Ezequiel é o tema do Mês da Bíblia 2024, com o lema “Porei em vós o meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14), refletindo a esperança e a presença de Deus.
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.