Por Martín Ugarteche Fernández Em Espiritualidade Atualizada em 18 SET 2019 - 11H07

Meu filho é efeminado: o que fazer?

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Uma das características da natureza humana é a divisão dos sexos. O homem e a mulher descobrem em si características ou valores sexuais enraizados nessa divisão natural. Faz parte do que os filósofos chamam de contingência ou limitação humana o descobrimento dessas características nas pessoas de sexo contrário; características que não possuímos, mas que nos complementam e que nos resultam atrativas.

As reações que se despertam em nós diante dos valores sexuais mais ligados ao corpo e, inclusive, a algumas partes específicas do corpo, são as reações sensuais. As reações perante valores sexuais mais abrangentes, que se expressam corporalmente, mas que englobam a pessoa do sexo oposto como um todo, são as reações afetivas. 

As reações da sensualidade e da afetividade aos valores sexuais - a forte atração sexual, por exemplo, que pode existir entre um homem e uma mulher, ou o afeto carinhoso e terno entre os dois - não podem ser considerados ainda como amor. Porém, são materiais ou insumos importantes para a formação desse amor, cujo elemento mais essencial é a afirmação do valor da pessoa do outro.

A nossa fé nos ensina que a pessoa humana, única criatura que Deus amou por si mesma, somente se realiza plenamente por meio do sincero dom de si aos demais. Esse dom, no entanto, é impedido quando ela é tratada como um simples meio para obter prazer. Isso é, precisamente, o que acontece quando a relação entre um homem e uma mulher permanece no nível da sensualidade e da afetividade, sem envolver um compromisso mútuo no bem do outro.

Os parágrafos anteriores são uma breve introdução ao tema que hoje nos ocupa. Os valores sexuais próprios da masculinidade e da feminilidade não são possuídos uniformemente pelos homens e as mulheres. Algumas pessoas estão dotadas de uma sensualidade ou de uma afetividade mais ricas, mais reativas perante os valores sexuais. Ao mesmo tempo, algumas pessoas estão dotadas de valores sexuais mais acentuados do que outras, e são capazes de despertar nas pessoas do sexo oposto reações sensuais e afetivas com mais facilidade.

Lembremos o que foi dito acima: as reações sensuais e afetivas são materiais ou insumos do amor, mas o elemento formal do amor é o compromisso da vontade. A fé nos ensina que, nesse compromisso, o homem e a mulher são assistidos pela graça divina, que os vai transformando interiormente, e os vai tornando mais capazes do amor verdadeiro, do sincero dom de si à pessoa amada.

Não podemos esquecer o impacto da 'ideologia de gênero' na cultura e na educação. Esta ideologia relativiza as diferenças sexuais, considerando-as meras criações culturais. O corpo e as suas características sexuais, mais do que parte integrante da pessoa, em ocasiões passa a ser visto como uma espécie de 'cárcere do qual ela tem que se libertar', na descoberta da sua 'autêntica identidade'.

O enfoque da ideologia de gênero é não só contrário à revelação cristã, mas também ao realismo filosófico e à própria ciência biológica. O sexo não é uma construção mental, mas uma característica do ser da pessoa.

Leia MaisComo lidar com a questão da homossexualidade dos filhos?Para nós, cristãos, o conhecimento do próprio corpo, da própria sexualidade, é fundamental para entender quem somos; ele define o nosso ser e os caminhos do seu autêntico desdobramento na entrega e no dom de si aos demais. Naqueles chamados à vocação matrimonial, essa entrega e dom de si se expressa sacramentalmente nas relações conjugais, nas quais o homem e a mulher passam a ser um só corpo.

De acordo com a nossa explicação acima, que um homem seja 'efeminado' não significa, necessariamente, que ele se sinta atraído sexualmente por outros homens. Uma coisa é a posse, mais ou menos rica, dos valores do próprio sexo. Outra coisa é a sensibilidade perante os valores sexuais das outras pessoas.

Se o problema é mais profundo, e o jovem experimenta uma atração mais ou menos intensa por pessoas do mesmo sexo, devem ser levadas em consideração as orientações do Catecismo da Igreja Católica sobre o assunto (2357-2359).

Trata-se de pessoas profundamente amadas por Deus e chamadas ao desdobramento e à felicidade no sincero dom de si, tal como todas as demais pessoas, só que por um caminho particular, que passa por uma vida intensa de oração e de união esponsal com Deus pelo caminho da castidade.

Escrito por
Martín Ugarteche
Martín Ugarteche Fernández

Peruano, membro do Sodalício de Vida Cristã. No Brasil, desenvolveu diversos projetos de evangelização da cultura, como o Concurso Literário Histórias de Natal e a Exposição Fotográfica Vida em Movimento. Doutor em Filosofia, por muitos anos foi professor. Atualmente reside em Roma, onde é responsável de uma das comunidades do Sodalício na Itália e faz parte da equipe de formação. Lançou um curso on-line de filosofia cristã, que é oferecido pelo Centro de Estudos Católicos na sua plataforma digital.

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