A Igreja vive agora uma caminhada para a conversão, para que os fiéis possam renunciar ao pecado. A Quaresma sempre trouxe oportunidades de graça: oração, penitência e jejum. A palavra penitência se refere especificamente aos gestos e atitudes exteriores que fazem com que haja uma aproximação da pessoa com Deus e com seu amor.
Muitas vezes há uma confusão da penitência no sentido sacramental, que é a Penitência relacionada com o sacramento da Reconciliação, com fazer penitência quaresmal. No contexto da Quaresma, penitência é dedicar algum tempo para realizar um gesto de mortificação que faça perceber a finitude diante da grandeza absoluta de Deus.Os gestos e ritos penitenciais, nesse sentido, têm profundas raízes judaicas – e mesmo outros povos em outros contextos de religiosidade também praticavam gestos de penitência pessoal ou pública.
No fundo, a raiz do ato penitencial humano é colocar-se humildemente diante de Deus, reconhecendo-o absoluto diante de nossa fraqueza. “A ideia é sempre tornar-se menos indigno de estar na presença de Deus. Na Bíblia são muitas as passagens penitenciais e alguns gestos são significativos: rasgar as vestes, se cobrir de cinzas, fazer jejum”, detalha Padre Evaldo César de Souza.
Outros gestos penitenciais comunitários envolviam sacrifícios de animais, sendo que o mais simbólico era o envio do chamado “bode expiatório” para o deserto, levando consigo os pecados de toda a comunidade.
Por isso é que o profeta Oséias diz que Deus prefere a Misericórdia e não o sacrifício, aqui entendido somente como um gesto externo de oferecimento de algo ao Senhor”, mencionou. Não deixa de ser mais um ato de Penitência quaresmal o próprio ato sacramental do perdão. No Domingo da ressurreição Jesus disse (cf. Jo 20,22): “A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados”.
Penitência é gesto de liberdade
A Quaresma nos oferece um ‘tempo favorável’ para se deixar o pecado e voltar para Deus, e é por isso que fazemos penitência. Ele ainda explica que o objetivo não é nos fazer sofrer ou nos privar de algo que nos agrada, mas ser um meio de purificação de nossa alma: “Sabemos o que devemos fazer e como viver para agradar a Deus, mas somos fracos; a penitência é feita para nos dar forças espirituais na luta contra o pecado”. Padre Evaldo disse que todo ato penitencial pretende ser um gesto de abertura ao Sagrado, ao amor de Deus que tudo transforma a partir da abertura do coração humano.
Assim, uma verdadeira penitência só tem valor se for feita com o desejo íntimo de aproximar-se de Deus e de sua misericórdia redentora. “Penitências que sejam apenas atos externos de sofrimento não alcançam esse objetivo.
Nenhuma Penitência é obrigatória, mas sempre é um gesto de liberdade. Para entender melhor essa afirmação, Padre Evaldo exemplifica que assim como há remédios que nos auxiliam a melhorar rapidamente de uma gripe, na liberdade podemos escolher não tomar esse medicamento, retardando nossa melhora física, assim é a penitência: “Com ela nossa vida se abre mais rapidamente à percepção do amor de Deus e do valor das coisas sagradas; sem ela teremos um caminho mais longo para compreender a grandeza de Deus”.
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