Com a Tradição e o Magistério, as Sagradas Escrituras, que popularmente chamamos de Bíblia, são a fonte da fé da Igreja. Para chegar à Bíblia como a conhecemos hoje, foi necessário um longo processo. Com a inspiração do Espírito Santo e guiada por seus pastores, a Igreja definiu então os “Livros Canônicos”, com diferentes critérios para o Antigo e para o Novo Testamento.
Nesse processo, que levou cerca de 300 anos, alguns livros ou fragmentos chamados de “Apócrifos” não foram incluídos na relação dos livros canônicos e, por isso mesmo, bastante “discriminados”. Nos últimos tempos, sobretudo, após o Concílio Vaticano II, o valor dessa literatura tem sido redescoberto como fonte de estudo e de compreensão da vida das comunidades cristãs nos primeiros tempos do cristianismo.
Os livros do Antigo ou Primeiro Testamento se desenvolveram ao longo dos tempos, passados de geração em geração de forma oral até serem escritos, num processo que começou por volta de mil anos antes de Cristo.
Depois, cerca de 200 anos antes de Cristo, uma tradução grega dos textos hebraicos foi aceita como legítima e até mesmo inspirada. Pelo fato de ter sido escrita por 72 anciãos, sendo 06 de cada uma das 12 tribos de Israel, a tradução recebeu o nome de “Septuaginta” ou “Bíblia dos 70”, se tornando popular entre os judeus que falavam a língua grega, sendo ainda fonte de inspiração para os evangelistas e para os primeiros cristãos.
Além dos livros da Septuaginta o cânon católico do Antigo Testamento incluiu alguns textos como os Livros de Judite, Tobias, Sabedoria e Eclesiástico ou Sirácida, que não eram considerados parte das Escrituras Judaicas, mesmo sendo respeitados e lidos pelos judeus.
add_box Como ler a Bíblia? 3 critérios para interpretar a Sagrada Escritura
O Segundo ou Novo Testamento foi sendo composto a partir dos textos dos apóstolos, ou de pessoas que conheceram Jesus. Eles testemunharam os eventos e conversaram com pessoas que tinham presenciado o que se passou com Jesus, especialmente os fatos ligados à paixão, morte e ressurreição, sendo desta forma testemunhas privilegiadas. Com os escritos, procuraram então preservar a vida e os ensinamentos de Jesus a partir do que viram, ouviram e desses depoimentos recolhidos.
Com o passar do tempo, cópias desses escritos foram se espalhando entre as comunidades cristãs que as liam nas celebrações, especialmente aos domingos. Também as cartas de Paulo e de outros apóstolos foram sendo recolhidas e reconhecidas como inspiradas pelo Espírito Santo.
Com o fim das perseguições à Igreja, durante o século IV cresceu a necessidade de codificar a Bíblia de forma oficial porque o cristianismo já estava enraizado, com comunidades espalhadas por quase todo o Império Romano.
A aprovação do que hoje chamamos de “Livros Canônicos” começou com o Concílio de Laodiceia, em 363, e continuou com o Papa Dâmaso I, que confiou a São Jerônimo a tradução das Escrituras ao latim no ano 382, gerando a chamada “Vulgata”. O trabalho de compilar os livros canônicos foi concluído com os Sínodos de Hipona, no norte da África, celebrado em 393, e Cartago, também no norte da África, celebrado alguns anos mais tarde, em 397.
Com o trabalho de muitas mãos e de mentes inspiradas foram descartadas algumas obras que circulavam na época, fruto de heresias ou de escritos muito fantasiosos; as comunidades locais foram instruídas sobre quais livros deviam ser lidos pelos cristãos, com o descarte dos livros e fragmentos que são chamados de “Apócrifos”.
Os relatos apócrifos que não foram incluídos no cânon oficial da Igreja, ainda hoje despertam a curiosidade de muitos.
No início, a leitura desses textos era malvista, porque alguns deles eram relacionados com heresias ou escritos de forma que não era muito credível, mas aos poucos passaram a ser estudados porque ajudam a explicar aspectos importantes da experiência da fé das comunidades cristãs nascentes ou certas tradições da Igreja por trazerem elementos sobre a vida dos primeiros cristãos e de como compreendiam o “Evento Cristo” e sua irrupção na história humana que não aparecem nos evangelhos canônicos.
Muitos textos apócrifos foram elaborados a partir da cultura popular cristã primitiva, registrando elementos que não são comentados, registrados nos textos oficiais ou canônicos da Igreja.
A maioria dos textos apócrifos, de alguns restam apenas fragmentos, não está ligada a um apóstolo ou pessoa que teve contato direto com Jesus. Parte foi produzida por grupos não ligados à hierarquia das comunidades, transmitindo ideias e proposições consideradas desviantes daquelas que foram colocadas nos textos canonizados. De outros, até mesmo a autoria é desconhecida.
Existe uma relação de livros apócrifos escritos em latim, grego, siríaco, copta, armênio, georgiano, paleoeslavo ou etíope antigo. Algumas relações falam de 113 livros, sendo 52 do Antigo ou Primeiro Testamento e 61 do Novo ou Segundo Testamento, porém, muitos estudiosos continuam em busca de novos escritos e volta e meia fragmentos são descobertos por arqueólogos em escavações ou por historiadores que estudam manuscritos antigos arquivados em bibliotecas.
Outra relação fala de 52 livros referentes ao Primeiro Testamento e 128 ao Segundo Testamento, computando livros e fragmentos. A maior parte dos relacionados ao Novo Testamento foram escritos nos dois primeiros séculos da Era Cristã. Dentre eles, ao menos 15 são evangelhos, com narrativas que procuram compreender Jesus de forma diferenciada da oficial.
Alguns textos foram preservados, chegando até nós de forma completa, como o Evangelho de Tomé. De outros, foram encontrados apenas fragmentos, como é o caso do Evangelho sobre a Infância de Jesus.
Os evangelhos apócrifos procuram preencher lacunas relacionadas à vida de Jesus e de seus seguidores, sobretudo de sua infância, seja de forma complementar, aberrante ou alternativa em relação aos livros canônicos. Os aberrantes são fantasiosos ou exageram na descrição de Jesus e de seus seguidores.
Alguns trazem informações adicionais aos textos canônicos, demonstrando que havia outras formas de pregação e catequese que foram compiladas nos apócrifos. Alguns textos alternativos trazem narrativas não compatíveis com o cristianismo.
Alguns elementos da tradição da Igreja, não fundamentados nas Sagradas Escrituras, como, por exemplo, os que são relacionados com São Joaquim e Sant’Anna, ou então com os fenômenos fantásticos acontecidos na ressurreição de Jesus Cristo, possuem sua base nessa forma de literatura.
Ainda que a Igreja não incentive o manuseio desses textos de forma aberta, sua leitura acontece no âmbito dos estudos especializados, havendo coisas importantes neles, embora nem tudo o que esteja ali possa ser encarado como “verdades de fé”.
A literatura apócrifa ajuda a compreender melhor como o cristianismo se articulava em sua fase inicial e como as várias gerações de cristãos entenderam a figura e a mensagem de Jesus.
Parte desses textos são considerados documentos históricos, embora o que esteja ali não seja entendido como verdade, uma vez que os evangelhos canônicos são inspirados por Deus. Existe também um valor cultural nessa literatura que ajuda a entender a pluralidade do cristianismo nascente, quando ainda não era uma instituição oficial do Império e a comunidade nascente não tinha a universalidade que a Igreja católica hoje tem.
add_box Leia também: Bíblia, Tradição e Magistério: os fundamentos da fé católica
Papa Leão XIV: “a Palavra de Jesus liberta-nos”
Papa Leão XIV reflete no Angelus o Evangelho do dia que conta as obras de Cristo e destaca o chamado à alegria e esperança no 3º Domingo do Advento.
Papa Leão XIV recebe imagem de Nossa Senhora Aparecida dos redentoristas
Em audiência privada em que também estavam missionários redentoristas, Dom Orlando Brandes faz convite oficial para o Papa Leão XIV vir ao Santuário Nacional.
Um convite para o Natal: o amor de Deus em nossas vidas
É tempo de aprofundar e viver a alegria do Natal. O mistério deste período só pode ser vivido quando compreendemos o que é o amor. Prepare-se com a reflexão!
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.