História da Igreja

A reforma gregoriana e a necessidade de reforma da Igreja

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

04 AGO 2021 - 08H11 (Atualizada em 06 AGO 2021 - 15H23)

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HISTÓRIA MEDIEVAL 10

A reforma gregoriana

Como já vimos nos textos anteriores publicados sobre a caminhada da Igreja no período medieval, o Espírito Santo de Deus suscitou homens valentes e corajosos que, movidos pelo interesse verdadeiro de servir à igreja de Cristo, levaram a cabo o ingente trabalho de sua reforma, frente aos inúmeros desafios e problemas que a Igreja vivia no período da Idade Média que se sucedeu ao terrível “Século de Ferro” ou “Século Obscuro”.

A necessidade de reforma da Igreja

A reforma foi iniciada por alguns papas que vieram antes, mas ganhou força especialmente com o Pontificado do Papa Gregório VII. Por isso, passou para a história com o nome de Reforma Gregoriana. Por ela se restabeleceu o poder dos papas, livrando a Igreja da submissão ao poder temporal dos reis, príncipes e senhores feudais. Em decorrência da reforma, todos os seres humanos da Europa e de suas regiões limítrofes ficaram submissos ao papa, que tinha o poder sobre qualquer ser vivente, representando o mandato conferido por Deus a ele de “ligar ou desligar na face da terra”.

Os papas passavam a ser considerados inferiores apenas ao próprio Deus. A Igreja Católica ganhou então um poder quase que ilimitado.

A Reforma Gregoriana é considerada por certos historiadores como a primeira grande revolução europeia, por conta do enfrentamento gerado entre o poder espiritual e o poder temporal. Mais tarde surgirá a famosa “Lei das Duas Espadas”, que porá nas mãos do papa tanto o poder temporal como o espiritual. Na América Latina, teremos uma correspondência à lei das duas espadas com a Lei do Padroado que, entre nós no Brasil, somente deixará de existir em 1891, com a primeira Constituição Republicana.

Foi o papa Gregório Magno que apresentou as formulações iniciais que levariam mais tarde à proclamação do dogma da Infalibilidade Pontifícia, marcando a supremacia da Igreja na ordem temporal e espiritual.

As medidas propostas por Gregório Magno começaram a ser implementadas ainda no papado de Leão IX, entre os anos de 1049 e 1054. Neste momento, um jovem diácono chamado Hildebrando da Toscana despontava dentre a cristandade, tornando-se uma figura muito evidente no papado. Hildebrando conquistou muita visibilidade por conta de sua defesa dos elementos da reforma na Igreja e da natureza do poder atribuído ao papa, tanto que, quando se tornou papa com o nome de Gregório VII, entre 1073 e 1085, logo foi identificado como reformador.

O objetivo da Reforma Gregoriana era fazer com que a Igreja e a cristandade voltassem aos tempos das primeiras comunidades animadas pelos Apóstolos, buscando sua originalidade. Mas, por outro lado, os objetivos da reforma propunham restabelecer o poder do papa sobre o poder feudal, pois a evolução da Idade Média havia feito com que o poder dos senhores feudais crescesse tanto ao ponto de praticamente comandar a Igreja.

Com a proposta de voltar aos tempos de Cristo, buscava-se colocar um fim à interferência e controle da vida da Igreja, especialmente no que tange à nomeação para as funções eclesiásticas. Essas nomeações eram arduamente disputadas, por tudo aquilo que elas representavam.

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As igrejas próprias

Uma realidade que era considerada como uma praga na vida da Igreja havia surgido por volta do século VII entre os francos, mas existia também na Itália e na Espanha. Tratava-se do sistema chamado de “igrejas próprias” ou “privadas”. Quando um senhor construía uma igreja, capela ou mosteiro no seu território, ele passava a considerar esse imóvel sacro como parte de sua propriedade. Desta forma, ele podia mantê-lo, deixar em herança, trocar ou doar e, a seu gosto, nomear ou demitir o seu cura ou abade.

Quando a autoridade religiosa morria, enquanto não se escolhia outra, os rendimentos eram usados pelo seu dono e ainda reservava as ofertas, os dízimos e as espórtulas par ao seu uso.

Leia MaisA Necessidade de Reforma na Igreja e a Ação do Papa Gregório VIIAo chegarmos ao século VIII, o número de igrejas próprias já era bem grande, quase superior ao das igrejas sujeitas à jurisdição dos bispos. Houve casos em que dioceses também se tornaram bens particulares, ocorrendo um verdadeiro leilão no momento da escolha de seu titular. Dioceses podiam ser compradas ou vendidas e o seu titular passava a ser simplesmente confirmado pelo papa, mesmo que a contragosto.

Ao chegarmos ao Século X, a própria sede papal havia se tornado como que uma igreja particular, sendo disputada pelas famílias da nobreza italiana. O colégio dos cardeais dividia-se entre cardeais nomeados por este ou por aquele rei, sendo mais fiel ao rei do que ao papa.

Esse sistema era totalmente estranho à concepção da Igreja, pois sempre coube ao bispo, como pastor, a nomeação dos titulares das igrejas e os administradores dos bens eclesiásticos. Ao papa, por sua vez, competia a escolha e nomeação dos titulares das dioceses.

Vitoria do movimento reformista

O movimento reformista de Gregório VII (1073-1085), antes monge Hildebrando, que lutou com bispos simoníacos e imperadores, conseguindo libertar a nomeação das autoridades da Igreja da influência imperial gerou um grande conflito, sobretudo, com o imperador, mas ao final das contas chegou-se a um termo positivo para a Igreja.

Na Concordata de Worms, assinada em 1122, foi sancionado o princípio que limitava o direito dos senhores em relação às igrejas próprias sem a proteção e apresentação do candidato eclesiástico. O ofício de escolha propriamente dito era conferido exclusivamente ao bispo. A concordata também estabeleceu outros princípios que libertavam a Igreja da ingerência do poder temporal, ingerência esta conhecida como cesaropapismo ou galicanismo.

A reforma gregoriana transformou a história europeia, pois de uma Igreja governada pelo poder temporal, passou-se a uma sociedade governada pela Igreja, a uma Sociedade considerada oficialmente cristã, mesmo que hoje se analise os prós e contras dessa situação. Em alguns manuais a Igreja chega a ser chamada de teocracia.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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