História da Igreja

A Necessidade de Reforma na Igreja e a Ação do Papa Gregório VII

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

17 MAI 2021 - 11H07

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA MEDIEVAL 09

Para os que acompanham os artigos que escrevo mensalmente, faço uma recapitulação para favorecer a nossa compreensão.

No período que estamos estudando, a Igreja enfrentava sérias dificuldades em sua vida interna e externa: A intromissão dos reis e príncipes na vida da Igreja era cada vez maior e, além disso, bispos e abades exerciam cargos na corte imperial, descuidando de suas funções pastorais.

Por outro lado, reis e príncipes concediam o serviço do episcopado aos que mais lhes fossem convenientes ou fiéis, pois bispados e abadias tinham uma função política, além da territorial. O rei nomeava o bispo, marcava os limites de sua diocese, convocava e presidia sínodos e concílios e construía igrejas e catedrais, chegando a sustentar os sacerdotes. Muitos bispos eram escolhidos entre seus parentes ou entre os seus partidários.

Leia MaisSacro Império Romano-GermânicoA intromissão na vida da Igreja

Este processo de intromissão ficou conhecido como INVESTIDURA LEIGA. Isto vai gerar muitos males, trazendo a corrupção para o interior da Igreja. Mas, aos poucos, a mentalidade reformista vai entrando na Igreja e as coisas começam a mudar. As ordens religiosas reformadas, os bispos e padres conscientes e também o papa trabalharão muito para reformar a Igreja.

Dos papas que governaram a Igreja neste período, o que mais se destacou, exatamente porque combateu os abusos e erros de seu tempo, foi o Papa Gregório VII. Ele governou a Igreja de 1073 a 1085. Além do problema político citado acima, as dificuldades maiores que precisou enfrentar foram a simonia, o nicolaitismo e o absenteísmo pastoral do clero.

Explicando cada termo:

• SIMONIA: É o comércio das coisas sagradas na forma de benefícios, cargos eclesiásticos, e funções na Igreja. Também vem a cobrança abusiva pelos sacramentos ou para conferir as ordens sacras.

• NICOLAITISMO: Trata-se do não cumprimento do celibato pelos membros do clero. Muitos padres se casavam e constituíam família, indo contra os ensinamentos da Igreja e contra o compromisso que assumiram. Inclusive algumas dioceses eram passadas de pai para filho. O termo vem de uma citação no livro do Apocalipse.

• ABSENTEISMO PASTORAL: Muitos padres e bispos se dedicavam mais à caça, festas, banquetes e jogos, expressão da vida mundana, esquecendo-se de suas obrigações espirituais, deixando de atender o povo.

Com esta situação penosa, quem sofria era o povo, pois a confusão era grande, fruto da falta de formação religiosa e instrução. Com isto, havia uma mistura de ideias e práticas religiosas, surgindo o sincretismo religioso e a grande confusão em assuntos morais e religiosos.

Aos poucos as coisas foram mudando. A ordem monástica de Cluny, criada em 910, passou a influenciar nas demais ordens, ajudando na reforma da Igreja. No futuro, esta ordem dará vários papas à Igreja, todos sérios e compenetrados de suas verdadeiras funções.

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Ação reformadora do Papa Gregório VII

Assim que assumiu o pontificado, em 1073, valendo-se da experiência e do conhecimento que tinha da Cúria Romana, passou a combater a investidura leiga, a simonia, o nicolaitismo e o absenteísmo pastoral, lutando contra o estado para restituir a liberdade à Igreja.

Combateu a imoralidade do clero e do povo, a indisciplina e a corrupção, proibindo o casamento dos padres. E ao povo, proibiu de assistir missas celebradas por padres que eram casados.

Para atingir estes objetivos reformadores, o Papa Gregório VII tomou várias atitudes: Escreveu cartas, fez visitas pastorais e viagens para incentivar as reformas necessárias, convocou concílios e sínodos, excluiu da Igreja os membros do clero que não obedecessem às suas ordens e centralizou o poder em suas mãos. E também trabalhou na reforma da liturgia da Igreja.

Por causa destas medidas, uma grande luta e disputa se instaurou entre o imperador e o Papa, tanto que Gregório VII morreu no exílio. Mas ao final as mudanças aconteceram, a Igreja se purificou, passando por uma nova época de vigor e entusiasmo.

O imperador se submete ao papa

Em 25 de janeiro de 1077, em meio à questão das Investiduras, o imperador germânico Henrique IV viajou ao castelo de Canossa e se ajoelhou diante do papa pedindo perdão.

No ano de 1075, o papa Gregório VII havia publicado vinte e sete normas sob o título Dictatus papae (Edito do Papa), pelas quais determinava que os bispos deveriam ser nomeados só por ele, e não mais pelo imperador. O próprio papa passaria a ser eleito por um conclave de cardeais, e não mais pelos nobres romanos.

Estas normas faziam parte de um vasto movimento de reforma iniciado pelo papado pouco depois do ano mil, visando a imposição de sua autoridade, até então bastante simbólica, sobre toda a cristandade.

O imperador Henrique IV se opôs a essas reformas que rompiam com a tradicional submissão do clero ao poder laico, e que colocava o soberano pontífice num patamar abaixo do imperador, determinando a deposição do papa. Este, por sua vez, respondeu com a excomunhão do imperador, privando-o dos sacramentos e da obediência de seus vassalos.

Leia MaisHistória da Igreja: Caridade e medidas sanitárias ao longo dos temposFidalgos alemães aproveitaram a ocasião para recuperar bens e vantagens que lhes haviam sido confiscadas. Rompendo com o imperador, elegeram, inclusive, um rei concorrente. Gradativamente abandonado por todos, Henrique IV temia que o papa viajasse à Alemanha para dar apoio aos dissidentes.

O imperador tomou então a dianteira, partindo para a Itália ao encontro de seu inimigo que estava visitando a condessa Matilde da Toscana, em seu castelo de Canossa. Mesmo sendo inverno, debaixo de muita neve, o imperador precisou esperar três dias até que o papa se dispusesse a recebê-lo, revogando a excomunhão e perdoando o penitente.

O imperador se aproveitou da ocasião para restaurar sua autoridade contra os príncipes dissidentes. Desrespeitando o acordo de Canossa, reuniu um concílio com bispos que lhe eram submissos, nomeando um antipapa de sua confiança.

O papa Gregório VII precisou se esconder junto dos normandos que ocupavam o sul da Itália. Os normandos, por sua vez, aproveitaram a chance para ocupar Roma e saqueá-la, a título de reinstalar o papa legitimo no Trono de Pedro. O papa reformador morreu em Salerno, abandonado por todos, em 25 de maio de 1085.

Depois dele, o pontificado teve ainda que lutar durante vários decênios antes de, em 1122, com a concordata de Worms, ganhar definitivamente a Questão das Investiduras. O papa afirmou-se desde então como o chefe inconteste da Igreja e maior autoridade do Ocidente.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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