PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA
HISTÓRIA MEDIEVAL 09
Para os que acompanham os artigos que escrevo mensalmente, faço uma recapitulação para favorecer a nossa compreensão.
No período que estamos estudando, a Igreja enfrentava sérias dificuldades em sua vida interna e externa: A intromissão dos reis e príncipes na vida da Igreja era cada vez maior e, além disso, bispos e abades exerciam cargos na corte imperial, descuidando de suas funções pastorais.
Por outro lado, reis e príncipes concediam o serviço do episcopado aos que mais lhes fossem convenientes ou fiéis, pois bispados e abadias tinham uma função política, além da territorial. O rei nomeava o bispo, marcava os limites de sua diocese, convocava e presidia sínodos e concílios e construía igrejas e catedrais, chegando a sustentar os sacerdotes. Muitos bispos eram escolhidos entre seus parentes ou entre os seus partidários.
Leia MaisSacro Império Romano-GermânicoA intromissão na vida da Igreja
Este processo de intromissão ficou conhecido como INVESTIDURA LEIGA. Isto vai gerar muitos males, trazendo a corrupção para o interior da Igreja. Mas, aos poucos, a mentalidade reformista vai entrando na Igreja e as coisas começam a mudar. As ordens religiosas reformadas, os bispos e padres conscientes e também o papa trabalharão muito para reformar a Igreja.
Dos papas que governaram a Igreja neste período, o que mais se destacou, exatamente porque combateu os abusos e erros de seu tempo, foi o Papa Gregório VII. Ele governou a Igreja de 1073 a 1085. Além do problema político citado acima, as dificuldades maiores que precisou enfrentar foram a simonia, o nicolaitismo e o absenteísmo pastoral do clero.
Explicando cada termo:
• SIMONIA: É o comércio das coisas sagradas na forma de benefícios, cargos eclesiásticos, e funções na Igreja. Também vem a cobrança abusiva pelos sacramentos ou para conferir as ordens sacras.
• NICOLAITISMO: Trata-se do não cumprimento do celibato pelos membros do clero. Muitos padres se casavam e constituíam família, indo contra os ensinamentos da Igreja e contra o compromisso que assumiram. Inclusive algumas dioceses eram passadas de pai para filho. O termo vem de uma citação no livro do Apocalipse.
• ABSENTEISMO PASTORAL: Muitos padres e bispos se dedicavam mais à caça, festas, banquetes e jogos, expressão da vida mundana, esquecendo-se de suas obrigações espirituais, deixando de atender o povo.
Com esta situação penosa, quem sofria era o povo, pois a confusão era grande, fruto da falta de formação religiosa e instrução. Com isto, havia uma mistura de ideias e práticas religiosas, surgindo o sincretismo religioso e a grande confusão em assuntos morais e religiosos.
Aos poucos as coisas foram mudando. A ordem monástica de Cluny, criada em 910, passou a influenciar nas demais ordens, ajudando na reforma da Igreja. No futuro, esta ordem dará vários papas à Igreja, todos sérios e compenetrados de suas verdadeiras funções.
Ação reformadora do Papa Gregório VII
Assim que assumiu o pontificado, em 1073, valendo-se da experiência e do conhecimento que tinha da Cúria Romana, passou a combater a investidura leiga, a simonia, o nicolaitismo e o absenteísmo pastoral, lutando contra o estado para restituir a liberdade à Igreja.
Combateu a imoralidade do clero e do povo, a indisciplina e a corrupção, proibindo o casamento dos padres. E ao povo, proibiu de assistir missas celebradas por padres que eram casados.
Para atingir estes objetivos reformadores, o Papa Gregório VII tomou várias atitudes: Escreveu cartas, fez visitas pastorais e viagens para incentivar as reformas necessárias, convocou concílios e sínodos, excluiu da Igreja os membros do clero que não obedecessem às suas ordens e centralizou o poder em suas mãos. E também trabalhou na reforma da liturgia da Igreja.
Por causa destas medidas, uma grande luta e disputa se instaurou entre o imperador e o Papa, tanto que Gregório VII morreu no exílio. Mas ao final as mudanças aconteceram, a Igreja se purificou, passando por uma nova época de vigor e entusiasmo.
O imperador se submete ao papa
Em 25 de janeiro de 1077, em meio à questão das Investiduras, o imperador germânico Henrique IV viajou ao castelo de Canossa e se ajoelhou diante do papa pedindo perdão.
No ano de 1075, o papa Gregório VII havia publicado vinte e sete normas sob o título Dictatus papae (Edito do Papa), pelas quais determinava que os bispos deveriam ser nomeados só por ele, e não mais pelo imperador. O próprio papa passaria a ser eleito por um conclave de cardeais, e não mais pelos nobres romanos.
Estas normas faziam parte de um vasto movimento de reforma iniciado pelo papado pouco depois do ano mil, visando a imposição de sua autoridade, até então bastante simbólica, sobre toda a cristandade.
O imperador Henrique IV se opôs a essas reformas que rompiam com a tradicional submissão do clero ao poder laico, e que colocava o soberano pontífice num patamar abaixo do imperador, determinando a deposição do papa. Este, por sua vez, respondeu com a excomunhão do imperador, privando-o dos sacramentos e da obediência de seus vassalos.
Leia MaisHistória da Igreja: Caridade e medidas sanitárias ao longo dos temposFidalgos alemães aproveitaram a ocasião para recuperar bens e vantagens que lhes haviam sido confiscadas. Rompendo com o imperador, elegeram, inclusive, um rei concorrente. Gradativamente abandonado por todos, Henrique IV temia que o papa viajasse à Alemanha para dar apoio aos dissidentes.
O imperador tomou então a dianteira, partindo para a Itália ao encontro de seu inimigo que estava visitando a condessa Matilde da Toscana, em seu castelo de Canossa. Mesmo sendo inverno, debaixo de muita neve, o imperador precisou esperar três dias até que o papa se dispusesse a recebê-lo, revogando a excomunhão e perdoando o penitente.
O imperador se aproveitou da ocasião para restaurar sua autoridade contra os príncipes dissidentes. Desrespeitando o acordo de Canossa, reuniu um concílio com bispos que lhe eram submissos, nomeando um antipapa de sua confiança.
O papa Gregório VII precisou se esconder junto dos normandos que ocupavam o sul da Itália. Os normandos, por sua vez, aproveitaram a chance para ocupar Roma e saqueá-la, a título de reinstalar o papa legitimo no Trono de Pedro. O papa reformador morreu em Salerno, abandonado por todos, em 25 de maio de 1085.
Depois dele, o pontificado teve ainda que lutar durante vários decênios antes de, em 1122, com a concordata de Worms, ganhar definitivamente a Questão das Investiduras. O papa afirmou-se desde então como o chefe inconteste da Igreja e maior autoridade do Ocidente.
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