História da Igreja

CNBB, a sociedade e Igreja no Brasil

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

09 ABR 2024 - 11H50 (Atualizada em 09 ABR 2024 - 15H38)

Divulgação/ CNBB

O regime ou Lei do Padroado, herança dos tempos da Colônia e Império, levou a um intenso processo de cooperação entre a Igreja e o Estado no Brasil. A população em sua maioria professava a fé católica, mas a instituição eclesial como um todo padecia de várias fraquezas com o reduzido número de circunscrições eclesiásticas como dioceses e paróquias. Além da persistência do problema das distâncias entre as dioceses e paróquias e, por esta razão, a consequente falta de comunicação, sobretudo, com as paróquias do interior.

O reduzido número de padres fazia com que a Igreja no Brasil dependesse do exterior, situação que perduraria mais ou menos até princípios da década de 1980. Leia MaisSaiba tudo sobre a 61ª Assembleia Geral da CNBB

Em fins do século XIX, porém, começou o processo de renovação com o reforço de suas instituições. A Igreja foi se libertando da tutela do estado, apesar da oposição interna de parte de seus membros.

A Lei do Padroado mantinha a Igreja numa espécie de “Gaiola Dourada” como o próprio episcopado reconheceu na Primeira Pastoral Coletiva, publicada logo após a instauração da República, em 1890.

Em linhas gerais era esta a situação da Igreja no Brasil em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, quando teria início o processo que levaria à criação da CNBB.

Intenso processo de renovação

Na segunda metade do século XX a Igreja no Brasil e na América Latina começou a viver um novo tempo, com a abertura de novas perspectivas eclesiais, teológicas e pastorais.

Até então o episcopado brasileiro era dividido em duas regiões ou conferências. A do norte tinha sua sede em Salvador–BA, congregando o episcopado do norte/nordeste. A do sul tinha sua sede no Rio de Janeiro, então capital da república, congregando o episcopado do sul/sudeste e parte do centro do Brasil.

“Diante das manchas do passado, não se abale a sua fé, pois a fraqueza dos homens vem provar que a Igreja é divina”.

No início dos anos de 1950, veio de Monsenhor Montini, futuro papa Paulo VI, o incentivo para se fundar no Brasil uma Conferência Episcopal como estava acontecendo em outros países. Dom Hélder Câmara, então bispo auxiliar do Rio de Janeiro, foi quem deu os primeiros passos para que a CNBB fosse desde então o órgão representativo da Igreja no Brasil.

A primeiras conversações foram definindo as finalidades e objetivos da CNBB que nasceu para aprofundar a comunhão entre os bispos, promover ação Pastoral de Conjunto, analisar termos da teologia e de pastoral e interagir com as outras conferências episcopais que também estavam se consolidando.

A CNBB, após a instauração do Regime Militar e da Ditadura no país a partir de 1964, assumiria uma postura político-transformadora, trabalhando o relacionamento entre os poderes públicos e os serviços do bem comum.

Neste contexto de mudanças o cardeal Ângelo José Roncalli se tornou papa com o nome de João XXIII, substituindo o papa Pio XII. Com ele a ideia da colegialidade avançaria ainda mais. Assumindo o pontificado, em 1959, convocou o Concílio Vaticano II, a maior obra da Igreja do século XX.

João XXIII havia escrito importantes encíclicas como a Mater et Magistra (1961) versando sobre a questão social e a Pacem in Terris (1963) sobre a paz mundial. Estas encíclicas completadas pelos documentos do Vaticano II explicitaram importantes conceitos que dariam a base não só à Doutrina Social da Igreja, mas embasariam a ação sociorreligiosa das conferências episcopais associados à ideia da colegialidade.

Modificações trazidas pelo Concílio Vaticano II

Para entendermos as razões da criação da CNBB em 1952, quase na antevéspera do Vaticano II e a presença da Igreja na sociedade do Brasil, é preciso compreender o contexto e o espírito da Igreja Pós-Conciliar.

“A reintegração da unidade entre todos os cristãos é um dos objetivos principais do Sagrado Sínodo Ecumênico Vaticano II”.

No espírito do Concílio a CNBB deve conduzir a Igreja no Brasil, criando um rosto próprio e “um novo modo de ser Igreja”. Para uma Igreja até então carregada de devocionalismos a religiosidade popular purificada torna-se expressão da fé do povo e eficiente instrumento de evangelização. A liturgia, ganhando cada vez mais um sentido pascal, se torna mais encarnada na realidade, mais direcionada para o sentido comunitário.

Ao mesmo tempo, a Igreja torna-se menos moralista e jurídica, mais bíblica e profética porque as Sagradas Escrituras se tornam fonte de inspiração para a ação eclesial e para a vivência cristã.

A Igreja desperta então nos fiéis e no clero o sentido da corresponsabilidade, tendo os conselhos de nível paroquial e diocesano como uma de suas melhores expressões. Fundamentadas no conceito de colegialidade, as assembleias da CNBB, realizadas primeiro em Itaici e, a partir de 2011, em Aparecida, ganham destaque na mídia católica e geral, chamando atenção de todos por ser um espaço de estudo, planejamento e orientação da vida da Igreja e da sociedade brasileira.

Conviver com a Pós-Modernidade

Nas últimas décadas, especialmente com o século XXI, temos o advento da chamada Pós-Modernidade, impactando na vida do ser humano e da sociedade como um todo, trazendo uma crise generalizada em todos os níveis, sendo que diante dele percebe-se, inclusive, o esvaziamento de instituições tradicionais como a CNBB.

Algumas perguntas devem orientar e normatizar a vida e a ação da Igreja neste momento: Que atitude deve tomar diante desta realidade? Qual a missão da CNBB diante de um contexto em continuado processo de mutação?

Desafios. O primeiro reflexo positivo é a necessidade de sair do imobilismo, buscando a renovação. Não podemos mais ficar “deitados eternamente em berço esplêndido”, como se canta no Hino Nacional, apenas contemplando os troféus e as glórias do passado.

A Igreja precisa acordar e sair da “sacristia” ou do gabinete, fazendo-se mais presente na sociedade, sendo uma “Igreja de Campanha” como nos pede o Papa Francisco.

A CNBB, numa assembleia como esta que acontece agora em Aparecida, precisa de uma dupla atitude, buscando métodos novos para superar os desafios e, ao mesmo tempo, dando uma roupagem nova àquilo que é antigo, sem cair em extremismos.

Ao mesmo tempo, em que valoriza a dimensão contemplativa, da oração e da espiritualidade a Igreja precisa redobrar o esforço missionário e evangelizador, fazendo surgir experiências pioneiras e renovação de experiências já existentes, sendo preciso repensar continuamente sua ação nos Meios de Comunicação e nas Redes Sociais, inclusive com a ação dos tão falados “influencers” católicos.

Numa sociedade que tende ao individualismo e personalismo vazio e estéril, há de se levar cada vez mais a valorização da vida comunitária como espaço de vivência e atuação onde se destaca a participação ativa dos leigos e nela a atuação da mulher, fazendo mudara face clerical da Igreja.

A partir desta visão nova de Igreja, o fio condutor deve ser os documentos basilares, como aqueles produzidos pelas Conferências Episcopais de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, que não perderam sua atualidade, somados aos documentos do Pontificado do Papa Francisco.

Por fim, é preciso encaminhar a restruturação da paróquia, organização básica da Igreja, em rede e setorização das comunidades, saindo de uma “Pastoral de Conservação para uma Pastoral autenticamente Missionária”.

A missão da CNBB no hoje de nossa história é desafiadora, mas não há de faltar a graça de Deus a conduzir e iluminar a sua caminhada.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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