Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H52

Igreja Espanhola: uma Igreja reformada e combativa

HISTÓRIA DA IGREJA
NA AMÉRICA LATINA  

Espanha na Época da Colonização

Os europeus começaram a chegar ao continente latino-americano em fins do século XV e início do século XVI. Naquele tempo o movimento protestante ainda avançava pela Europa, ganhando terreno em regiões até então colocadas sobre a tutela da Igreja. Mas, Espanha e Portugal foram dois países que pouco sofreram com o avanço protestante, pois seus reis permaneceram fiéis ao papa e contavam com ele para legitimar o seu processo expansionista.

Como estava organizada a sociedade espanhola na época do descobrimento:

População:

Era formada por aproximadamente 8 milhões de pessoas, contando entre elas cerca de 500 mil judeus e 1 milhão de muçulmanos e descendentes. Esta população concentrava-se mais na zona rural, com índice de até 80%, variando de região para região.

Distribuição nas diversas classes sociais:

Assim estavam organizadas as principais classes sociais na Espanha que mantinha ainda muitos traços da civilização medieval: 

- 3% classe média;
- 75 mil eclesiásticos (1% da população) sendo 2 mil do alto Clero;
- 120-140 mil religiosos;
- 2% de aristocratas;

Sociedade espanhola

Era extremamente desigual e nela apenas 2% da população concentravam em suas mãos aproximadamente 97% das terras e das riquezas. A Igreja tinha uma situação bastante privilegiada, contando com uma renda anual de 6 milhões de ducados (1 ducado correspondia a 20 dias de trabalho de um peão ou 8 dias de um trabalhador especializado).

Estruturação social:

Distribuição das classes sociais na Espanha do século XVI: 

- Aristocracia (50 famílias);
- Clero;
- Classe Média;
- Camponeses;

Foto de: reprodução.

Espanha Medieval

No início da idade moderna a Espanha ainda conservava fortes traços da Civilização Medieval. 

 

Porque a Espanha colonizou o “Novo Mundo”?

Esta é uma pergunta que muitos historiadores fizeram, mas a questão continua sendo motivo de polêmica. Entretanto, podemos afirmar que o catolicismo espanhol era diferente do restante da Europa. Era de uma “fogosidade” maior, pois a Península enfrentou quase 8 séculos de luta contra os “infiéis”. O catolicismo espanhol era marcado pelo martírio e pelo Espírito de Cruzada.

A tão necessária reforma eclesiástica aconteceu na Espanha com quase um século de antecedência do que no resto do continente. Ainda que a presença da Espanha na América tenha coincidido com a crise europeia trazida pela Reforma Protestante, isto pouco abalou a Península Ibérica como um todo. Além disso, os teólogos do século XVI não abandonaram o ideal de “Orbis Christianus”, ou seja, a constituição de um mundo genuinamente cristão-católico com a união do poderes da Igreja com o estado espanhol. Em vez de simplesmente coagir os infiéis a abraçarem a fé, motivava-se os batizados a conservá-la.

A perseguição aos judeus, da qual ainda hoje muito se fala, era obra do “Braço Secular”, devido aos interesses econômicos. O cristão e, sobretudo, o missionário ou colonizador que passasse à América devia possuir o "estatuto de limpeza ou pureza de sangue" e não podia, em hipótese alguma, ter descendência ou ligação com qualquer raça de infiéis.

Como já foi dito acima, permanecia ainda o ideal de cruzada, sendo que a conquista de Granada em 1492, último reduto muçulmano na Espanha, coincidiu com o descobrimento da América e fez aumentar este mesmo espírito. 

Foto de: reprodução.

Reconquista Espanhola

A luta contra os infiéis preparou
a Espanha para as grandes viagens
e conquistas ultramarinas.

A Igreja Espanhola

Era uma Igreja reformada. Seus bispos deviam ser espanhóis de sangue e residir em suas dioceses. Na vida interna da Igreja notava-se uma grande influência dos reis católicos. Grandes figuras do episcopado como Hermando de Talavera, Diego de Deza e Francisco Jiménez de Cisneros davam o tom da conduta e a linha de caminhada da Igreja, mas também, como era muito comum nesta época, havia um grande espírito nacionalista, e por ele a Igreja era mais afinada com os reis do que com o próprio papa, considerado muito distante da realidade e da cultuara espanhola. 

Como a Reforma Eclesiástica agiu na Espanha?

Os reis Carlos I (1516-1552) e Felipe II (1552-1598) procuraram pôr em prática os decretos conciliares oriundos de Trento, levando a cabo a reforma já iniciada há tempos pelos reis católicos. Entre as medidas tomadas para implementar a Reforma Eclesiástica podemos destacar a realização de Concílios Provinciais e Sínodos Diocesanos na Espanha e nas colônias, como o de Lima em 1582 e do México em 1585.

A ação de alguns grandes bispos e prelados, a renovação das congregações e ordens religiosas, com a criação de novos institutos também muito contribuiu para manter o espírito da Igreja espanhola.

No campo das ciências e das artes acontecia o florescimento da teologia e da literatura cristã e, paralelo a isso, havia a ação da inquisição contra os infiéis e hereges.

A Espanha, sobretudo, com Felipe II, tornou-se o principal campo de luta contra o avanço do protestantismo, pois defendendo a fé católica defendia os seus próprios interesses: 

- Combateu os focos protestantes nas cidades de Sevilha e Valadolid;
- Combateu e derrotou os últimos focos de muçulmanos na Espanha, participando da vitória contra os turcos em Lepanto (1571);
- Participou das Guerras de Religião na França (1562-1596), nos Países Baixos (1572-1600) e na Inglaterra (1588), onde se deu a derrota da “invencível armada” como grande revés deste período. 

A ação de Felipe II foi continuada por Felipe III (1598-1621) e por Felipe IV (1621-1665) durante a Guerra dos 30 anos até que se chegasse à Paz de Westfalia (1648). 

Foto de: reprodução.

Rei Felipe II

O rei espanhol Felipe II foi o grande promotor
da reforma eclesiástica em seu território.

Estrutura política da Espanha após a reconquista e unificação

Existia a junção de vários reinos. O reino de Aragão compreendia diversos territórios (Aragão, Catalunha, Valência, Sicília, Sardenha e Nápoles) que eram autônomos na administração, na justiça e economia. O reino de Castela, por sua vez, era um bloco unido, constituído por 18 províncias e alguns territórios autônomos que eram propriedade das ordens de cavaleiros. Havia ainda a Província Basca.

Com o casamento de Fernando e Isabel, os famosos reis católicos, a Espanha uniu todos os seus reinos e aprontou-se para a grande expansão ultramarina, dotando-se, porém, de alguns órgãos de Governo Central para controlar o seu expansionismo: 

- Conselho Supremo (de Aragão, Castela e Inquisição);
- Conselho de Estado – Consultivo;
- Conselho de Guerra – Só em tempo de guerra;
- Supremo Conselho das Índias – Para tudo o que se referia as colônias.

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.  
Mestre em História da Igreja 
pela Universidade Gregoriana

Escreve série sobre a  
História da Igreja no Brasil  
para o A12.com

 

 

Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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