História da Igreja

Primeira evangelização dos Povos Germânicos

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

17 DEZ 2020 - 11H04 (Atualizada em 17 DEZ 2020 - 15H12)

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HISTÓRIA MEDIEVAL - 04

Por volta do século V uma boa parte dos cidadãos do Império Romano sabia que eram parte da mais formidável, segura e sagrada estrutura política que já existiu na face da terra. Alguns julgavam que o Império era equivalente a um terreno do Reino de Deus. Nada poderia ser mais fascinante e abençoado que um Império governado por um imperador cristão e protetor da Igreja, preocupado com a fé de seus súditos. Mas, tudo era ilusão, pois há uns trezentos anos o Império já entrara numa fase de decadência motivada por fatores de ordem moral, econômica, política e militar.

Os povos germânicos que pressionavam as fronteiras e antes eram repelidos agora já não enfrentavam tanta resistência do império. O exército romano que abrigava mercenários em suas legiões não era mais a formidável estrutura protetora e garantia da ordem.

A decadência se acelerou quando Constantino mudou a sede do Império para Constantinopla, na Ásia, deixando Roma praticamente abandonada. No ano de 395, o imperador Teodósio dividira o Império entre seus filhos, criando um Império Ocidental, tendo Roma por capital e outro Oriental, tendo a capital em Constantinopla.

Povos asiáticos e europeus chamados de bárbaros por não terem a cultura romana, sonhavam em morar no território imperial: a fama, a cultura, as terras férteis, as riquezas tudo atraía esses povos. Era uma grande variedade de povos com cultura, língua e tradições diferentes que foram entrando no antes inexpugnável Império Romano: ostrogodos, visigodos, borgúndios, francos, anglos, saxões, eslavos, húngaros, búlgaros, hunos e diversos outros.

Queda de Roma e nova missão da Igreja

No ano 410, o rei visigodo Alarico invadiu e saqueou Roma. Os cristãos ficaram perturbados se perguntando se seria esse o fim da Igreja ao verem tantas vítimas entre crianças, virgens consagradas e monges. Haveria esperança para Roma e para o Cristianismo era o que todos se perguntavam?

Em 430, o norte da África estava assediado e prestes a cair. Agostinho, o grande bispo morreu numa Hipona cercada. A Bretanha cristã era assaltada pelos anglos e saxões e de lá praticamente desapareceu a fé cristã.

Em 452, o huno Átila ameaçou tomar e saquear Roma. O papa Leão Magno precisou intervir e, corajosamente, dirigiu-se ao seu encontro pedindo clemência, sendo atendido. Por esta mesma época, Santa Genoveva também conseguiu salvar Paris. Mas, em 476, Odoacro, rei dos hérulos, conquistou Roma e desta forma os bárbaros ocuparam o trono do Ocidente cristão. A sorte é que muitos desses povos eram inimigos entre si e guerrearam para o controle e domínio do espólio imperial. Do ponto de vista religioso alguns povos eram pagãos, outros influenciados pela heresia do arianismo, o que representava um duplo desafio para a Igreja.

Leia MaisA Invasão dos Povos Germânicos e a queda do Império RomanoO Império Romano do Oriente ainda resistiria por mil anos, mas com território cada vez mais reduzido até que, em 1453, Constantinopla seria tomada pelos turcos.

Nesta hora trágica e confusa, os pastores da Igreja assumiram a defesa e organização do povo romano e dos novos povos. Igrejas, mosteiros e cidades estavam destruídos ou constantemente ameaçados, mas era preciso socorrer os pobres e reorganizar a vida.

Os bispos, uma vez que a administração imperial havia entrado em colapso, passaram a centralizar a organização e o governo dos novos povos. Com sua cultura e qualidades pessoais os bispos tinham as condições necessárias para exercer essa liderança.

O Bispo de Roma, o papa, foi assumindo progressivamente o posto deixado pelo imperador, uma vez que o duque deixado em Roma para cuidar do governo civil era ausente. O papa Gregório Magno, por exemplo, se empenhou em reconstruir a cultura e a cidade de Roma.

Do meio da destruição e decadência surgiria uma nova força, primeiramente moral e depois política: a Igreja. Assim teve início uma nova etapa da história europeia, chamada de Medieval, marcada pelo predomínio da autoridade eclesiástica. Papas e bispos serão as maiores autoridades refazendo a antiga prosperidade e organização legislativa do Império romano.

Primeira evangelização dos povos invasores

A maioria dos povos germânicos que invadiram o Império Romano trouxe consigo a sua religião, com os seus deuses e seus costumes. Desde cedo, porém, a Igreja começou a trabalhar na sua conversão.

A primeira forma de evangelização destes povos se deu através dos cristãos que foram feitos prisioneiros, levados para as aldeias destes povos. Pelo contato com os cristãos parte das pessoas foram recebendo influências cristãs e noções do evangelho.

A segunda forma de evangelização se deu pelo trabalho dos monges itinerantes e pela ação dos diversos bispos que tinham a sede de suas dioceses em regiões de fronteira ou nas regiões onde estes povos se estabeleceram. O trabalho dos monges será de suma importância na conversão destes povos.

Por fim, a terceira forma de evangelização se deu com a ação dos papas, sobretudo, o papa Gregório Magno. Ele governou a Igreja de 590 a 604 e foi o grande incentivador da obra de evangelização dos povos germânicos, principalmente os anglo-saxões. O Papa enviou diversas missões evangelizadoras aos anglo-saxões. Essas expedições de monges saiam de Roma com o apoio e incentivo do Papa e com isto conseguiram faculdades especiais no seu trabalho.

Gregório Magno, pelo seu apoio à evangelização, pela reforma da Igreja e por causa das obras escritas que deixou é considerado um dos Papas mais importantes de todo o tempo antigo e medieval.


Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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