Igreja

A Arca da Aliança: verdade ou ficção?

Relíquia mais preciosa do judaísmo envolve muitos mistérios, principalmente sobre onde atualmente o objeto está localizado

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

29 NOV 2023 - 10H52 (Atualizada em 29 NOV 2023 - 12H07)

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Segundo a narrativa bíblica, o povo hebreu, ao assumir uma aliança com Javé, selada com a aspersão do sangue de um cordeiro, recebeu dez mandamentos gravados em duas placas de pedra. Os mandamentos eram pontos fundamentais que regeriam os hábitos, as crenças e toda a vida do povo.

Leia MaisÉ possível ser católico e maçom ao mesmo tempo?Ética e moral Cristãs: uma realidade a partir do EvangelhoPara manter as tábuas da lei, Deus mandou que se construísse uma arca que, além de proteger as placas, representaria sua aliança selada com o povo. O Livro do Êxodo traz regras exatas para a construção da Arca da Aliança:

“Diga aos israelitas que façam uma arca de madeira de acácia, de um metro e dez de comprimento por sessenta e seis centímetros de largura e sessenta e seis de altura. Revistam de ouro puro essa caixa, por dentro e por fora. E em toda a volta coloquem um remate de ouro. Façam também quatro argolas de ouro e ponham nos quatro pés, ficando duas argolas de cada lado. 

Façam cabos de madeira de acácia e revistam de ouro. Enfiem os cabos nas argolas nos lados da arca, para que ela possa ser carregada. Os cabos ficarão nas argolas da arca e não serão tirados dela. Eu lhe darei as duas placas de pedra, onde estão escritos os mandamentos; e você porá essas placas na arca. Faça também uma tampa de ouro puro, de um metro e dez de comprimento por sessenta e seis centímetros de largura. Faça dois querubins de ouro batido, um para cada ponta da tampa. Isso deve ser feito de modo que os querubins formem uma só peça com a tampa. Os querubins ficarão de frente um para o outro, olhando para a tampa. As suas asas ficarão abertas, cobrindo a tampa. Coloque dentro da arca as duas placas de pedra que eu vou lhe dar e ponha a tampa na arca. Ali eu me encontrarei com você e, de cima da tampa, do meio dos dois querubins, eu lhe darei as minhas leis para o povo de Israel”. (Ex 25, 10- 22)

A Arca da Aliança se tornou a mais preciosa relíquia do judaísmo, mostrando a evolução religiosa do povo que passa das influências politeístas para o culto ao Deus vivo e verdadeiro. Ela era levada em procissão quando o povo caminhava pelo deserto até ser depositada no Templo construído por Salomão em Jerusalém.

Para que você possa acompanhar este artigo, o Padre Inácio Medeiros gravou este podcast a respeito da Arca da Aliança


A sacralidade da Arca da Aliança

O mais antigo relato sobre a Arca da Aliança é do período do cativeiro do povo no Egito, por volta de 1300 a.C. Segundo a narrativa, o Livro do Êxodo fala que Deus selou uma aliança com o povo, por Moisés, aos pés do Monte Sinai.

Como as narrativas do livro do Êxodo foram elaboradas muito tempo após os fatos terem acontecido, especialistas da história bíblica explicam que os eventos iniciais da história hebraica podem ter sido formulados durante o cativeiro hebreu na Babilônia. Neste sentido, além de ser descrita como uma demonstração do favor divino, a Arca da Aliança era dotada de poderes sobrenaturais. Por isso, somente os sacerdotes levitas podiam entrar na tenda onde a Arca era conservada.

Mais tarde, durante as batalhas pela reconquista da Terra de Canaã, a Arca da Aliança era levada aos locais de batalha para animar os que lutavam e garantir as vitórias. O caráter sagrado da Arca também foi descrito no livro de Samuel, quando os filisteus a roubaram, sendo acometidos de diferentes punições misteriosas.

“E enviaram, e congregaram a todos os príncipes dos filisteus, e disseram: enviai a arca do Deus de Israel, e torne para o seu lugar, para não matar nem a nós e nem ao nosso povo. Porque havia mortal vexame em toda a cidade por onde a arca passava, e a mão de Deus muito se agravara ali”. (1Sm, 5- 11)

Depois que o povo entrou na Terra Prometida, no reinado do rei Salomão, entre 970 e 931 a.C. se construiu o Templo de Jerusalém, onde a Arca foi mantida. Após o reinado do Salomão houve a decadência que levou à separação do reino entre Judá e Israel. O povo perdeu sua liberdade e a localização da arca passou a depender do destino do povo devido à dominação estrangeira.

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No ano de 586 a.C. os babilônios conquistaram a cidade de Jerusalém e conforme o livro dos Macabeus, o profeta Jeremias teria escondido a Arca no monte Nebo, após profetizar a destruição de Jerusalém. Mas é possível que ela tenha sido levada como troféu ou espólio pela vitória e nunca mais se teve certeza sobre o seu paradeiro.

Quando os hebreus voltaram à Jerusalém, no ano de 539 a.C., reconstruíram o templo mantendo o local da Arca vazio, pois ela nunca mais foi encontrada.

Esta constatação foi feita pelo general romano Pompeu que ao tomar a cidade de Jerusalém, no ano 70 d.C. indagou sobre os motivos pelos quais os judeus mantinham um quarto vazio em seu templo. A tomada de Jerusalém e sua transformação numa cidade pagã com o nome de Aedes Capitolina provocou a chamada Diáspora Judaica, mantendo o mistério sobre o destino da Arca da Aliança.

No século XII, no período das cruzadas que tentavam libertar a Terra Santa do domínio dos mouros, apareceram relatos não comprovados de que a Ordem dos Templários tivesse resgatado e mantido em segredo várias relíquias do tempo dos judeus como a Arca da Aliança e também outras relíquias do cristianismo como o Santo Graal.

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Onde está a Arca da Aliança?

A existência da Arca e o seu destino é um grande mistério que volta e meia ganha destaque em filmes, documentários e obras literárias, todas bastante fantasiosas. As explicações sobre o paradeiro desta e de outras relíquias da narrativa bíblica confundem os limites entre fé e Ciência.

Antes reservadas aos estudiosos da Bíblia, as histórias sobre a Arca da Aliança ganharam o mundo com as aventuras de Indiana Jones no filme “Os Caçadores da Arca Perdida”. Se o destemido arqueólogo do cinema é bem-sucedido em sua busca, o paradeiro real da relíquia continua mais misterioso do que nunca.

Existe até um grupo religioso etíope que afirma manter a Arca escondida. Segundo eles, os monges da Igreja Santa Maria de Sião teriam recebido a arca das mãos de Menelik, filho que o Rei Salomão teve com a rainha de Sabá, em 950 a.C. Segundo os monges, a Arca da Aliança permanece escondida em um templo e até hoje ninguém recebeu autorização para entrar neste templo e, finalmente, desvendar o mistério sobre ela.

Sem maiores comprovações, fala-se de arqueólogos que realizam buscas na cidade de Jerusalém e em outros lugares. Mesmo não sendo encontrada ou sendo uma mera invenção mítica, a Arca tem importante significado religioso para os judeus e mesmo para os cristãos que expressam sua devoção em Maria, a Arca da Nova e Eterna Aliança que nunca mais terá fim, pois é o próprio Jesus.

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Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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