Por Valquíria Vieira Em Igreja Atualizada em 29 AGO 2019 - 10H28

Entrevista: Dom Júlio Endi Akamine fala sobre ideologia de gênero

"A sociedade será o que for a família"

Um tema muito discutido na mídia durante o mês de junho de 2015 foi a questão de incluir nos Planos Municipais de Educação a ideologia de gênero.

Na ocasião, o A12 conversou Dom Júlio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo (SP) e secretário geral do Regional Sul 1 da CNBB, que esclareceu a posição da Igreja diante dessa discussão, como o tema ainda pode estar em pauta na sociedade e a importância da família na educação e formação das pessoas.

A12
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A12 - Qual a posição da Igreja diante da ideologia de gênero e a preocupação com os que sofrem preconceito, discriminação ou algum tipo de exclusão?

Dom Júlio -
A Igreja rejeita, decidida e fortemente, a ideologia de gênero. Com a mesma clareza e decisão, rejeita o preconceito contra grupos sociais, a discriminação e a exclusão de pessoas. Uma coisa é ensinar e defender o rompimento entre o sexo biológico e a identidade sexual; outra é a atitude misericordiosa em relação às pessoas com tendências homossexuais.
A ideologia de gênero afirma que homem e mulher não diferem pelo sexo, mas pelo gênero, e que "ser menino ou menina é uma construção social imposta pela sociedade, família e educação". A ideologia de gênero vai no caminho oposto da lei natural e desconstrói o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável entre homem e mulher.

A Igreja rejeita a ideologia de gênero porque o projeto desconstrói a família. Segundo essa ideologia, os homens e as mulheres não têm atração pelo sexo oposto por natureza, mas por causa de condicionamentos da sociedade. Por isso, o desejo sexual pode ser orientado para qualquer sexo, o que justificaria o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Em vez da atração sexual pelo sexo oposto, a ideologia de gênero apregoa uma sexualidade perversa polimorfaBasta pesquisar a literatura disponível para se dar conta desse projeto de desconstrução da família, do casamento entre homem e mulher, da maternidade e paternidade. Cito um autor de vários manuais utilizados nas Universidades norte-americanas para ilustrar o projeto da ideologia do gênero:

“A supressão da família biológica fará desaparecer a obrigação de proceder à repressão sexual. A homossexualidade masculina, o lesbianismo e as relações sexuais fora do casamento não serão consideradas apenas de maneira liberal, mas também como opções alternativas, fora do alcance da regulamentação do Estado. Em vez disso, até mesmo as categorias de homossexualidade e de heterossexualidade serão abandonadas: a própria instituição das ‘relações sexuais’, em que o homem e a mulher exercem um papel bem determinado, desaparecerá. A humanidade poderá, enfim, alcançar a sua 'sexualidade natural', perversa e polimorfa” (Alison Jagger “Political Philosophies of Women’s Liberation”, Feminism and Philosophy, 1977, 13).

 A12 - Com a rejeição da ideologia de gênero nos planos municipais de educação, há possibilidade dessa questão continuar em discussão? Por quê?

Dom Júlio - A discussão vai continuar e é importante que os cristãos se engajem conscientemente no debate público, como cidadãos. Como cristãos, não queremos impor nossas convicções aos outros, mas também não renunciamos ao nosso direito de participar democraticamente da educação e dos rumos da sociedade brasileira.

Os adeptos da ideologia de gênero consideram a educação uma estratégia importante para impor as suas convicções. O que vimos até agora na votação dos Planos de Educação é o que se percebe no mundo todo: os defensores da ideologia de gênero lutam por integrar sua visão nos programas escolares, a fim de desconstruir e suprimir a família biológica tradicional.

Não é justo tratar os cristãos como cidadãos de segunda classe. Infelizmente, é próprio de uma ideologia a falta de diálogo com a ciência, com a realidade e com a sociedade. Uma ideologia é um sistema de pensamento fechado em uma lógica de ferro, que não permite a possibilidade de revisar sua própria posição. Muitas vezes, os cristãos são chamados de “dogmáticos” (no sentido pejorativo da palavra). Mas, se prestarmos atenção ao modo como os adeptos da teoria do gênero argumentam e agem, perceberemos como eles são “dogmáticos” (no pior sentido da palavra).

 A12 - Diante de toda essa discussão gerada em torno da ideologia de gênero, o que podemos destacar sobre a importância da família na educação e na formação da sociedade?

Dom Júlio - A família biológica, formada por um homem-pai e uma mulher-mãe e os filhos concebidos pela sua união (infelizmente temos que usar essa linguagem para maior clareza, num contexto de grande confusão!) é a célula-mãe da sociedade: a sociedade será o que for a família. A desconstrução da família, da paternidade e da maternidade não é uma questão privada dos indivíduos. Ela terá consequências deletérias para toda a sociedade.

Dois homens ou duas mulheres não concebem filhos! Sejamos realistas: a procriação humana (plenamente humana) precisa de pai e de mãe! Além disso, sabemos muito bem que pai e mãe não são intercambiáveis. Cada qual contribui para o filho de modo diferente, permitindo que este construa a própria identidade, principalmente a sexual.

Ter filho não é um direito! Ele não é um bem de consumo, que viria ao mundo em função das necessidades ou dos desejos ou dos direitos das pessoas. Embora o fato de alguém não poder ter filhos seja fonte de sofrimento, a reivindicação dos lobbies homossexuais não é legítima. É preciso um homem e uma mulher, ou melhor, um pai e uma mãe para gerar humanamente um filho. Querer ignorar essa exigência humana e biológica é um forte indício de que a reivindicação não é justa. E, se queremos falar mesmo de direitos, devemos falar do direito da criança a ter pai e mãe para construir a sua personalidade.

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