No dia 24 de dezembro lembra-se de todas as crianças órfãs. É também a véspera da celebração que culmina o tempo do Advento; o Natal do Senhor Jesus. Não é uma data do calendário da Igreja, mas do calendário civil. No entanto, a proximidade das duas datas pode levar a uma reflexão sobre a orfandade tanto física como espiritual em que vivem tantas pessoas atualmente. Vale a pena pensar por onde podemos tentar entender esse fenômeno e o que podemos fazer para ajudar a que cada vez menos pessoas vivam suas vidas sem a proteção e o amor de uma família.
Talvez possamos voltar até Adão e Eva para encontrar neles os primeiros órfãos da humanidade. Quando pecam, se afastam daquele que lhes dera a vida, de Deus Pai que os formou com amor para que vivessem junto a Ele no paraíso. Com esse primeiro afastamento do Pai, o mal entra no mundo, no coração do homem. Toda a história de Israel pode ser entendida como a história de um povo que caminhou pelo tempo em busca do retorno a casa do Pai. Desde Abraão até a vinda de Jesus, vemos como Israel foi crescendo em nova intimidade com Iahweh.
Leia MaisDia do Voluntário: desafio e missão na Pastoral da CriançaJesus, que é o mesmo Deus que se encarna, se faz homem no seio de uma família. E o faz justamente para mostrar que para que o ser humano seja pleno, ele precisa do apoio, do amor, do carinho, da experiência de uma família bem estruturada, que tenha a Deus como o centro de suas vidas.
Mas isso não quer dizer que o Senhor não experimentou o mal da orfandade. Pelo contrário, Ele, sendo quem era, experimentou o abandono do Pai de uma forma tão intensa que não podemos senão nos maravilhar e mesmo nos assustar um pouco com suas palavras na cruz: “Pai, porque me abandonaste?” Ele experimentou uma solidão real, e assim compartilha certamente os sofrimentos daqueles que ainda hoje sofrem essa mazela.
É um fenômeno difícil de entender, esse de que existam pessoas que abandonam os seus mais próximos. É igualmente difícil entender também como pode existir, em uma comunidade cristã, pessoas que se sintam excluídas, à margem, sem família seja pelo motivo que for. Podemos pensar naqueles que perderam os pais em alguma tragédia natural, ou mesmo em algum ataque feito por mãos humanas (ainda mais triste e trágico de aceitar).
O ponto é o seguinte: enquanto alguém não se sentir amado, não estamos realmente conseguindo transmitir a vida cristã para esse mundo. Pois, o que Jesus veio fazer foi justamente alcançar com seu amor todas as pessoas, em especial as que mais sofrem. Dentre os que mais sofrem, desde o Antigo Testamento se contam as viúvas e os órfãos. Não podemos fechar os olhos para essas pessoas, porque é Deus mesmo que quer olhar por eles através da comunidade cristã.
Talvez ajude a ter os olhos mais abertos a essa realidade o tomar consciência de que somos todos, de alguma forma, órfãos. A cada pecado que cometemos, desde o pecado original de Adão e Eva, nos afastamos de Deus Pai e ficamos longe da nossa verdadeira casa que é o Céu.
Estamos todos caminhando para a nossa verdadeira pátria. E se nesse caminho temos a benção de contar com uma família que nos auxilie, parece meio óbvio pensar que isso mesmo nos traz a responsabilidade de acolher com muito amor aqueles que foram privados de tão grande dom por qualquer razão. Para que essa perda possa ser interiorizada, reconciliada e que eles possam caminhar mais dignamente como verdadeiros filhos e filhas amadas de Deus que são.
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