Durante muito tempo, buscamos formas criativas de envolver as crianças na Missa. Criamos recursos, adaptamos linguagens, utilizamos símbolos visuais e músicas mais acessíveis, e tudo isso foi importante. Aprendemos a envolver as crianças.
Mas talvez o desafio agora seja outro, mais exigente e, ao mesmo tempo, mais profundo: como permitir que a missa envolva as crianças?
Essa inversão sutil de perspectiva pode nos levar além. Sai de cena o esforço em criar algo para elas, e entra o desejo de ajudá-las a experimentar o que já está presente, no coração da liturgia.
A Missa, em sua essência, não precisa ser “melhorada” para as crianças. Precisa, ser vivida com autenticidade — e acolhida com o coração livre e disponível, como o das crianças.
O primeiro passo é recordar que a Missa ultrapassa o plano do saber. Muitas vezes, nos preocupamos demais em explicar, em doutrinar, em tornar tudo “entendível”.
A liturgia não é apenas conteúdo (conceitual): é gesto, é silêncio, é canto, é cheiro, é beleza, é mistério celebrado. É sabor antes de ser saber. Nosso papel é proporcionar às crianças uma verdadeira experiência litúrgica — mesmo que elas não consigam explicar com palavras o que viveram.
E tudo bem! Essa experiência pode ser silenciosa, profunda e transformadora, mesmo sem se tornar totalmente consciente. Se vier tudo à tona na consciência de uma só vez, sinal que a experiência não foi vivida como deveria, pois o mistério de Deus ultrapassa o conceitual e o consciente.
Outro ponto essencial é resistir à tentação de criar “enfeites” para a Missa. A liturgia, em sua forma pura, já é riquíssima. Cada sinal, cada gesto, cada oração tem um valor formativo e espiritual profundo.
Quando sentimos que precisamos constantemente “enfeitar” a Missa para torná-la acessível, talvez seja o sinal de que ainda não compreendemos plenamente a força do que celebramos.
É preciso confiar na capacidade que as crianças têm de se abrirem ao mistério com a liberdade e a espontaneidade que lhes são próprias. Introduzi-las na celebração (mistagogia) é oferecê-las, desde cedo, o contato com a beleza do sagrado, com os símbolos que falam ao coração, com os gestos e com o silêncio que revela a presença de Deus — sem pressa, sem rigidez, com reverência viva e encantada.

3. Educar para o simbólico
Por fim, um gesto simples, mas cheio de valor: após a missa, lá no encontro de catequese, podemos convidar as crianças a partilhar como viveram aquele momento.
Perguntar: O que você sentiu? O que te chamou atenção? O que tocou seu coração? Esse tipo de escuta ajuda a criança a perceber que o símbolo não precisa ser explicado para ser compreendido. Ele é vivido, experimentado, acolhido.
Na liturgia, e na vida, quando tentamos explicar demais um símbolo, nós o matamos. O símbolo é pedagógico porque toca aquilo que não se diz com palavras.
E as crianças, por sua sensibilidade natural, são capazes de se deixar atingir por essa linguagem misteriosa e bonita. Elas não precisam “entender tudo”, precisam sentir-se parte. E, quando isso acontece, tornam-se protagonistas da fé, no tempo certo e com a profundidade que a experiência lhes oferece.
É importante também reforçar uma verdade fundamental: a Missa não é uma representação, mas um memorial. Não é teatro, é mistério celebrado. Por isso, as crianças precisam ser levadas para viver a liturgia a partir do real e não da encenação.
Não cabe, durante a missa, vestirmos crianças de Nossa Senhora ou de Jesus, como se estivéssemos encenando o que celebramos. A liturgia tem sua própria linguagem, sua própria força simbólica e espiritual, e é por meio dela — e não de representações — que a criança deve ser conduzida à experiência do sagrado.
A liturgia, quando celebrada com verdade, já tem tudo o que é necessário para tocar o coração das crianças. Cabe a nós, catequistas e agentes de pastoral, criar o ambiente, dispor os corações, escutar sem julgar e confiar na ação de Deus, que é discreta, mas eficaz.
Envolver as crianças, sim, mas sobretudo permitir que elas se deixem envolver por esse Mistério tão maior que nós. E nisso, elas têm muito a nos ensinar.
add_box Lugares para levar as crianças no Santuário Nacional
Fonte: *Esse artigo foi escrito sob supervisão do Professor Felipe Koller (Oficina de Nazaré), pós — doutorando em teologia pela PUC Campinas
Papa Leão XIV: “a Palavra de Jesus liberta-nos”
Papa Leão XIV reflete no Angelus o Evangelho do dia que conta as obras de Cristo e destaca o chamado à alegria e esperança no 3º Domingo do Advento.
Papa Leão XIV recebe imagem de Nossa Senhora Aparecida dos redentoristas
Em audiência privada em que também estavam missionários redentoristas, Dom Orlando Brandes faz convite oficial para o Papa Leão XIV vir ao Santuário Nacional.
Um convite para o Natal: o amor de Deus em nossas vidas
É tempo de aprofundar e viver a alegria do Natal. O mistério deste período só pode ser vivido quando compreendemos o que é o amor. Prepare-se com a reflexão!
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.