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Curiosidades da História: Conhecendo o Povo Filisteu

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

06 FEV 2024 - 14H23 (Atualizada em 06 FEV 2024 - 15H14)

Morphart Creation / Shutterstock

Como bem sabemos, quando vivia no sul da Mesopotâmia, na região da Caldeia, o povo judeu vivia em meio a outras civilizações, algumas bem mais desenvolvidas do que ele.

Ao chegar à Terra de Canaã se deparou com alguns povos que passaram a concorrer pela posse da nova terra. Alguns desses povos, como os filisteus, se tornaram inimigos mortais dos judeus, mas sua existência somente é conhecida devido às narrativas bíblicas.

Uma inimizade duradoura Leia MaisCuriosidades da história: A Torre de Babel de fato existiu?Curiosidades da História: Sodoma e Gomorra de fato existiram?Curiosidades da História: A Rainha de Sabá

Davi, contudo, pensou: algum dia serei morto por Saul. É melhor fugir para a terra dos filisteus. Então Saul desistirá de procurar-me por todo o Israel, e escaparei dele. Assim, Davi e os seiscentos homens que estavam com ele foram até Aquis, filho de Maoque, rei de Gate.

Davi e seus soldados se estabeleceram em Gate, acolhidos por Aquis. Cada homem levou sua família, e Davi, suas duas mulheres: Ainoã, de Jezreel, e Abigail, que fora mulher de Nabal, de Carmelo.

Quando contaram a Saul que Davi havia fugido para Gate, ele parou de persegui-lo. Então Davi disse a Aquis: Se conto com a tua simpatia, dá-me um lugar numa das cidades desta terra onde eu possa viver. Por que este teu servo viveria contigo na cidade real?

Naquele dia Aquis deu-lhe Ziclague. Por isso, Ziclague pertence aos reis de Judá até hoje. Primeiro Livro de Samuel, capítulo 27, versículos de 1 a 6.

De Josué até Jeremias, o Antigo Testamento descreve os filisteus como inimigos mortais dos hebreus. Eles são apresentados como guerreiros que combatem e humilham cruelmente os israelitas, oferecendo ao deus Dagan todos os bens que lhes são saqueados.

Numa das muitas lutas travadas entre os dois povos, os cadáveres degolados do rei Saul e de seus filhos foram expostos diante das muralhas da cidade de Beth Shean.

Porém, foi grande a vingança dos israelitas. Segundo a narrativa bíblica, o povo inimigo sofreu moléstias, ulcerações e chagas atribuídas como castigo do Deus Javé, dos judeus.

Davi, por ocasião de seu casamento com Michal, filha de Saul, presenteou sua noiva com o prepúcio de 200 filisteus mortos. Nos tempos em que ainda pastoreava as ovelhas de seu pai, Jessé, ele já havia sido protagonista de um célebre embate, em que demonstrou ao amedrontado exército israelita que bastava uma funda para dobrar a força filisteia, encarnada no gigante Golias.

Outro personagem conhecido desta luta foi Sansão, escolhido de Deus, viveu a amarga experiência de que nem sempre é vantajoso desposar uma mulher da tribo inimiga.

Origem e organização dos filisteus

O termo “filisteu” tem origem no vocábulo hebraico “plishtim”. Na verdade, não se tratava de um povo, mas sim da confederação de pelo menos cinco cidades-estado diferentes, cujos originários vieram do Mar Egeu, se estabelecendo no leste do Mar Mediterrâneo, no século XIII a.C.

As primeiras referências aos filisteus são encontradas em alguns escritos egípcios dos reinados dos faraós Mineptah e Ramsés III. Ao que tudo indica, este povo estava integrado aos chamados “povos do mar” também designados como “povos habitantes das ilhas” ou também “povos do norte”. Num vasto ciclo de invasões, devastaram a ilha de Chipre e a cidade de Ugarit, no norte da atual Síria, levando à queda dos Hititas. Segundo alguns historiadores, esse ciclo de invasões sinaliza o fim da Idade do Bronze.

As cidades-estado de Ecron, Gath, Gaza, Ashcalon e Ashdod constituíram uma aliança política e econômica. Localizada na costa sul do mar, são também conhecidas como pentápole filistina.

Eles dominaram os Cananitas ao se estabelecerem vindos da cidade de Kefitiu, localizada na atual Turquia, então conhecida como Ásia Menor. A pentápole daria origem ao núcleo da atual Palestina.

Depois de muito lutar, no século X a.C., a unificação das tribos israelitas sob o comando do rei Davi, levou ao enfraquecimento dos filisteus, que também sofreram a dominação de povos mais fortes e organizados como os assírios e os babilônios.

Askalon, Ashdod e Ekron desapareceram após os ataques realizados pelo monarca persa Nabucodonosor, no século VI a.C. Estas cidades, cada uma delas governada por um seranim, mesma coisa que “senhor”, não voltaram a ser edificadas nem habitadas pelos filisteus, que a partir de então deixam de ser mencionados em documentos da época ou posteriores. Por volta do século VII a.C. os relatos sobre o povo se tornam escassos, até que não se encontra mais nenhuma notícia.

A última menção aos filisteus ocorre no ano 712 a.C., quando a cidade de Gath que funcionava como sua capital, foi conquistada pelos assírios e obrigada a pagar pesados tributos ao rei Sargão II, que no mesmo período dobrou Ecron ao seu jugo. Ashdod já havia se tornado província assíria um ano antes. Em 701 a.C. o soberano de Ecron, o filisteu Padi, foi levado a Jerusalém por Ezequiel, rei judaico que se rebelara contra os assírios.

O conflito continua

Não fossem as narrativas bíblicas, os filisteus seriam muito mais desconhecidos como acontece com inúmeros povos desta e de outras épocas. Mas os escritores sagrados falam deles sempre em referência à rivalidade com os judeus. Tanto assim que gozam da inglória fama de incultos e bárbaros e a palavra filisteu tem sempre uma conotação pejorativa.

Os achados arqueológicos mais recentes ajudaram a trazer mais luz sobre a cultura filistina, comprovando um avançado grau de organização que comprova que a tribo sabia se portar como povo civilizado.

Inimigos jurados do povo judeu no passado, os filisteus controlaram um território que hoje em dia corresponde ao centro e sul de Israel e à Faixa de Gaza, razão pela qual a rivalidade continua, como atestam os recentes conflitos entre Israel e os palestinos.

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Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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