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Geração Z e os novos protestos globais nas redes sociais

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

04 NOV 2025 - 14H54 (Atualizada em 04 NOV 2025 - 15H37)

Davide Angelini/ Adobe Stock

Movimentação de grupos juvenis volta e meia acontecem, com maior ou menor intensidade. Durante o Regime Militar em diversas ocasiões, tivemos a movimentação da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nos anos de 1990, os “Cara Pintadas” esquentaram o clima, contribuindo na queda do Presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

A partir de 2014, surgiu o movimento “Vem pra rua” como uma tentativa de organizar e cooptar pessoas em razão da crise política e econômica no país durante o Governo Dilma (2016), tendo como alvo o próprio governo da ex-presidente, o combate à corrupção, o impeachment de Dilma Rousseff e a aprovação das 10 Medidas contra corrupção.

Fora daqui, no Oriente Médio e Norte da África, aconteceu a “Primavera Árabe’ que chacoalhou a vasta região dominada por governos islâmicos extremistas.

A movimentação atual, porém, tem como diferencial o fato de ser convocada e organizada pelas redes sociais, capitaneadas pela Geração Z que vem ganhando destaque nos últimos meses ao realizar protestos e movimentações contra governos em diferentes países mundo afora.

Impulsionados pelas redes sociais que sabem usar com maestria, os protestos desses jovens acontecem em países de realidade bem díspares como Nepal, Madagascar, Filipinas e Peru, já tendo derrubado políticos ou expondo os exagerados privilégios da elite em alguns países.

O que é a Geração Z

O conceito de Geração Z é atribuído às pessoas que nasceram entre 1995 e 2010, considerada a primeira geração nativa digital, porque nasceu e cresceu no mundo da “Ambiência digital”. Os jovens dessa geração nasceram e cresceram em um mundo marcado pelos avanços tecnológicos, pelo uso de dispositivos móveis e acesso facilitado à internet.

Esses jovens costumam ser mais críticos em relação aos problemas e desafios sociais, engajando-se em debates sobre diversidade, sustentabilidade, ecologia e política.

Se antes os sindicatos, partidos políticos, associações de classe e movimentos estudantis tinham papel central na convocação e realização, agora a movimentação que leva aos protestos acontece de forma autônoma pelas redes sociais.

Isso permite reações bem mais rápidas, sem necessidade das pesadas estruturas tradicionais. Mesmo não lutando buscando o poder, a movimentação dessa geração desafia as instituições, podendo gerar desfechos imprevisíveis, pois os governos já estão passando da surpresa e imobilismo inicial a uma reação que usa e abusa da violência. Certo é, porém, que concessões deverão ser feitas de ambos os lados!

Movimentação mundo afora

Nos últimos meses, foram protagonizadas manifestações em pelo menos 7 países da Ásia, África e América Latina. As motivações são bem variadas, mas acabam tendo um mesmo foco, incluindo o combate à corrupção na política e economia, as críticas à falta de investimento em saúde e educação, o fim da brutalidade policial, renúncia de governantes, suspensão de benefícios políticos, combate às regalias e privilégios da classe governante e das elites.

Dos países onde as manifestações aconteceram até agora, cinco tinham governos de direita no momento e dois eram administrados pela esquerda.

Os atos têm apresentado também alguns pontos em comum com a demonstração de insatisfação e frustração com o poder público, com a desigualdade social e com a proposta de luta por mudanças estruturais.

Mobilização social

Alguns analistas já enxergam nos protestos da Geração Z o início de uma mudança mais profunda na forma de organização e mobilização social, pois os seus membros têm grande facilidade de se conectar pelas Redes Sociais, apesar das diferenças próprias de cada realidade, vivendo o mesmo contexto de frustração e de clamor por mudanças.

As redes sociais amplificam rapidamente as percepções de injustiça, favorecendo reações imediatas que culminaram nos protestos. Apesar da repressão, a onda de protestos pode se espalhar por outros países, representando substancial mudança na forma de comunicação e organização.

Alguns dos mentores da movimentação são experts na geração do apelo emocional que desencadeou vários movimentos. O desafio é passar da reação emocional das movimentações para algo mais racional, gerando realmente as necessárias mudanças.

Na ação, cada plataforma ou cada rede social teve um papel específico, mas sua combinação produziu mobilizações muito rápidas.

Até agora, as movimentações não atingiram o contexto religioso da Igreja Católica ou de qualquer outra denominação religiosa, mas a pergunta que precisa ser feita é se a Igreja está preparada para se confrontar com as exigências e desafios próprios dessa geração e de todos aqueles que vivem sob o guarda-chuva da “Ambiência Digital”.

add Do Vinil ao Streaming: A Trajetória da Geração Z

Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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