O relatório anual da ICAN (Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares), divulgado neste mês de junho, apontou que os gastos militares com armas nucleares em 2024 ultrapassaram os US$ 100 Bilhões.
Essa cifra exorbitante engloba os gastos dos nove países que atualmente possuem armas atômicas — Estados Unidos, Israel, França, Rússia, Reino Unido, Índia, Paquistão, China e Coreia do Norte.
Atualmente, existem cerca de 12.000 ogivas nucleares, das quais quase 90% pertencem aos Estados Unidos e à Rússia.
O montante gasto teve um aumento de cerca de 11% em relação ao ano anterior. Isso equivale a 3.169 dólares por segundo, 274 milhões de dólares por dia e 1,9 bilhão de dólares por semana no ano passado.
Os números chamam a atenção também por evidenciarem um crescente rearmamento mundial, inclusive nuclear.
O relatório da ICAN denuncia que o dinheiro gasto em arsenais nucleares é “desperdiçado”, já que os próprios Estados dotados de armas nucleares concordaram formalmente — em uma declaração conjunta no início de 2022 —, que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”.
Os dados apontam e fazem um paralelo mostrando que todo esse dinheiro seria suficiente para alimentar as 345 milhões de pessoas que hoje sofrem com a fome e escassez de alimentos, por dois anos.
Os US$ 100 bilhões poderiam também ter sido usados para financiar medidas destinadas a enfrentar as ameaças à segurança representadas pelas mudanças climáticas, por exemplo, ou para fornecer fundos para melhorar serviços públicos essenciais, como saúde, moradia e educação.
Porém, apesar dos muitos apelos internacionais, vindos de diversos setores da sociedade, é improvável que haja uma inversão no crescimento e desenvolvimento contínuo de armas nucleares.
Em meio ao cenário de medo e tensão, é sempre importante lembrar que os ensinamentos da Igreja nos mostram que a paz é um bem supremo. Ela deve ser construída baseada na solidariedade, no amor e na coragem.
A paz não é a utópica e total ausência de conflitos. Ela precisa ser construída e mantida com valores traduzidos em justiça, reconciliação e respeito pela dignidade humana.
É por meio da palavra de Jesus Cristo e dos ensinamentos da Igreja que nos tornamos “instrumentos de paz”, citando a oração de São Francisco de Assis.
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Enquanto agentes da paz, os cristãos não devem se conformar com a propagação do medo ou a indiferença para com seus semelhantes. Pelo contrário, é preciso agir de forma confiante na ação de Deus.
Em Mateus 5,9, Jesus diz: “Felizes os que promovem a paz, porque Deus os terá como filhos.”. Este é um chamado à paz, a sermos agentes diretos de mudança, e tudo começa pelo ambiente em que vivemos e atuamos em nossa rotina.
Desde que assumiu como Papa, Leão XIV já se pronunciou diversas vezes contra a escalada bélica em todo o mundo. O Pontífice destacou em discurso no último mês de maio que:
“A Santa Sé está sempre pronta para ajudar a reunir os inimigos, cara a cara, para que conversem entre si, para que os povos em todos os lugares possam mais uma vez encontrar esperança e recuperar a dignidade que merecem, a dignidade da paz”, disse Leão XIV.
“A guerra nunca é inevitável. As armas podem e devem ser silenciadas, pois não resolvem os problemas, apenas os agravam. Aqueles que fazem a história são os pacificadores, não aqueles que semeiam o sofrimento”, acrescentou.
Já sobre a escalada do conflito entre Israel e Irã, no último sábado (14), Leão XIV lamentou as animosidades entre as duas nações, e clamou que “ninguém ameace a existência do outro, apoiar a paz”.
“A situação no Irã e em Israel se deteriorou gravemente”, disse o Papa ao final das saudações em várias línguas após a catequese, numa Basílica de São Pedro lotada com cerca de 6 mil fiéis.
Em tom angustiado, Leão pronunciou duas palavras fortes em seu apelo: “responsabilidade”, para com o próprio povo e o mundo, e “razão”, para não ceder à fúria cega.
Acompanhando as posições expressas várias vezes pela Santa Sé, o Papa Leão XIV chamou ao compromisso de “construir um mundo mais seguro e livre da ameaça nuclear”.
Este “deve ser buscado por meio de um encontro respeitoso e de um diálogo sincero para construir uma paz duradoura, fundada na justiça, na fraternidade e no bem comum”, completou.
O antecessor de Leão XIV fez diversas declarações clamando pela paz, pela ponderação e busca da resolução dos conflitos bélicos.
Em dezembro de 2024, Francisco fez um forte apelo por paz, e ao recordar a situação na Síria, Gaza, Israel e Ucrânia, reforçou a importância do caminho virtuoso do diálogo e da reconciliação.
“A guerra é um horror, a guerra ofende Deus e a humanidade, a guerra não poupa ninguém, a guerra é sempre uma derrota, uma derrota para toda a humanidade”, disse Francisco.
“A busca pela paz é uma responsabilidade não de poucos, mas de todos. Se a indiferença e a resignação aos horrores da guerra prevalecerem, toda a família humana sairá derrotada. Caros irmãos e irmãs, não nos cansemos de rezar por essas populações tão duramente provadas e de implorar a Deus o dom da paz.”, completou o Papa.
Até o final de sua vida, o Papa Francisco não deixou de levantar a bandeira da causa da paz. Em seu último discurso, ele pediu o fim das guerras em Gaza e na Ucrânia.
Durante as celebrações de Páscoa de 2025, ele destacou em sua fala:
“Que grande sede de morte, de matar, testemunhamos a cada dia nos muitos conflitos que assolam diferentes partes do nosso mundo! Quanto desprezo é despertado, às vezes, em relação aos vulneráveis, aos marginalizados e aos migrantes!”.
Tentamos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos
com as nossas forças e também com as nossas armas;
tantos momentos de hostilidade e escuridão, tanto sangue derramado,
tantas vidas despedaçadas, tantas esperanças sepultadas...
Mas os nossos esforços foram em vão.
Agora, Senhor, ajudai-nos Vós!
Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz.
Abri os nossos olhos e os nossos corações
e dai-nos a coragem de dizer: “Nunca mais a guerra”.
Com a guerra, tudo fica destruído!
Infundi em nós a coragem de realizar
gestos concretos para construir a paz.
Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor,
que nos criastes e chamais a viver como irmãos,
dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz.
Dai-nos a capacidade de olhar com benevolência
a todos os irmãos que encontramos no nosso caminho.
Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos
que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz,
os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão.
Mantende acesa em nós a chama da esperança
para efetuar, com paciente perseverança,
opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz.
E que do coração de todo o homem sejam banidas estas palavras:
divisão, ódio, guerra!
Senhor, desarmai a língua e as mãos,
renovai os corações e as mentes,
para que a palavra que nos faz encontrar
seja sempre “irmão”,
e o estilo da nossa vida se torne: Shalom, Paz, Salam!
Amém.
Papa Francisco, Jardins do Vaticano, 08 de junho de 2014
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