Música

A música e o silêncio sagrado

Escrito por Ir. Miria T. Kolling

22 JAN 2015 - 07H00 (Atualizada em 21 FEV 2025 - 15H46)

Reprodução

Disse com muita razão um músico indiano que, na Índia, o silêncio é mais importante que o som no fazer musical, e que nós, ocidentais, fazemos muito barulho e damos pouco espaço para o silêncio, para a escuta, para o recolhimento interior…

É verdade: só sabe louvar e cantar a Deus quem é capaz de silenciar o coração, de aquietar a alma e a mente, de escutar e acolher o mistério… Sobretudo quando se trata da ação litúrgica, onde Deus se faz Silêncio e Palavra, onde o Verbo se faz Carne, e a Palavra se faz Eucaristia, é importante nos educarmos para o silêncio fecundo, para a escuta atenta.

Só esta quietude interior faz brotar os sentimentos de confiança, as experiências vitais: a alegria, a paz, a sabedoria, a gratidão… só ele gera comunicação e comunhão, só ele nos permite mergulhar no mistério de Deus, que se revela não no barulho, mas na suavidade, na calma, no silêncio… (cf 1Rs 19,11-13).

O Estudo 79 da CNBB, sobre a Música litúrgica no Brasil, nos diz a este respeito, em seu n.º 326:

“A celebração deve comportar uma revalorização do silêncio, dentro de uma liturgia que, no espaço de poucos anos, passou de um acontecimento silencioso a uma vivência por demais sonora, cheia de palavras e música; ainda mais que o povo, às vezes, vem para a celebração depois de ter sido fortemente 'bombardeado' por um ambiente musical atordoante… Grande é a responsabilidade de encontrar um equilíbrio para esta questão.”

Portanto, o silêncio tem também uma função musical, é “silêncio musical”, uma vez que a música, assim como a palavra, só tem sentido se for também pausa reflexiva e contemplativa.

O silêncio é muito valorizado pela liturgia, previsto em vários momentos: no ato penitencial, antes da oração da coleta, após as leituras e a homilia, durante a narrativa da última Ceia, após a comunhão, devendo ser sempre bem conduzido… Mas também já antes da celebração é bom fazer silêncio na igreja e nos lugares próximos, tomando consciência de estarmos na presença de Deus.

São João Paulo II, em sua Carta Apostólica, ao retomar os Documentos do Concílio Vaticano II, incentiva a assembleia às aclamações, respostas, refrões, salmodias… exortando, porém, que “seja também observado o silêncio sagrado”. Por isso, é muito importante que o presidente, os ministros, o grupo de canto e instrumentistas, enfim toda a assembleia, aprendam a valorizar o silêncio orante, pleno do Espírito, a serviço da participação ativa dos fiéis.

O Espírito age no silêncio, é ele que nos conduz à contemplação do mistério de Cristo, e só uma abertura à sua presença e ação transformadora, num ambiente favorável — silêncio interior e exterior! — pode se fazer resposta de vida, pessoal e comunitária.

É preciso redescobrir e valorizar o som do silêncio nas nossas celebrações, hoje muito barulhentas, com instrumentos musicais e aparelhos ligados em alto som, muitas vezes sufocando a mensagem do canto, ou mesmo o cantar e gesticular sem parar, sem dar espaço à escuta e contemplação.

Vale a pena citar e recomendar o artigo “Para ti, Senhor, até o silêncio é louvor”, do Frei Faustino Paludo, à pág. 101 do livro “Liturgia no coração da vida”, da Editora Paulus:

“Iludem-se os que ainda pensam que celebra com maior intensidade quem mais fala, comenta, canta, faz barulho, movimenta-se, aplaude, ri, chora e dança. O desafio está em reconhecer que, em meio a tantos ruídos, perde-se a profundidade do que se fala, do que se canta, da ação que se realiza.”

A verdadeira música vem do silêncio e a ele nos leva!

Refrões orantes e contemplativos, pequenas frases bíblicas, uma palavra repetida verbal e musicalmente podem favorecer um clima de escuta, nos predispor à acolhida, criar a necessária sintonia do coração ao mistério, fazer o caminho do silêncio.

“O silêncio vem a ser a mãe, o útero da pessoa, posto que somente dele recebe vida que é comunicação.” (C. Kaufmann)

A gestação da vida começa no silêncio!

Fonte: https://www.irmamiria.com.br

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