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Livro "Invisíveis" retrata o drama dos moradores de rua durante a pandemia

Jornalista Karla Maria percorreu as ruas de Guarulhos e São Paulo, e colheu testemunhos da realidade conturbada de pessoas em situação de rua

Escrito por Redação A12

24 AGO 2023 - 16H27 (Atualizada em 25 AGO 2023 - 10H06)

Luciney Martins

No último dia 19 de agosto foi lembrado o Dia Nacional da Luta da População em situação de rua, data escolhida por causa do “Massacre da Sé”, em 2004, no qual sete pessoas foram assassinadas e oito ficaram gravemente feridas enquanto dormiam na região da Praça da Sé, em São Paulo (SP).

Leia MaisA pobreza crônica no BrasilO decreto 7.053 de 23 de dezembro de 2009 define a população de rua como “o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”.

No período anterior à pandemia do coronavírus, onde o cenário no país já era preocupante pelos cortes de políticas sociais, foi possível estimar o aumento crescente e acelerado da precarização da vida, e a consequente explosão da população em situação de rua, com o agravante da possibilidade de contaminação e morte por causa da Covid-19.

Deparando-se com esse cenário caótico, a jornalista Karla Maria percorreu as ruas de Guarulhos e São Paulo, e colheu testemunhos da realidade conturbada de pessoas em situação de rua, que vivem debaixo de marquises e viadutos, morando de forma improvisada e indigna, número que aumentou de forma exponencial devido àqueles que foram desempregados e, consequentemente, despejados.

A repórter fez o retrato deste sofrimento, que está no livro "Invisíveis: quando a rua é morada, o vírus é só mais uma ameaça", um relato cruel de um passado recente, mostrando que, além da doença física, a desigualdade também foi espalhada. 

O lançamento do livro-reportagem acontece nesta sexta-feira, 25 de agosto, às 19h, na Biblioteca Monteiro Lobato, no Centro de Guarulhos (SP).

Logo em março de 2020, quando o Brasil registrou a primeira morte pela Covid-19, Karla foi a campo, junto com Luciney Martins, fotógrafo da Arquidiocese de São Paulo (SP) e entrevistou 54 pessoas nos mais diferentes níveis de sustentabiidade social ou situação de rua.

Karla Maria - Editora Patuá
Karla Maria - Editora Patuá

Para o A12, a jornalista nos relatou o que foi mais surpreendente nas pesquisas que realizou junto às pessoas que não tinham onde se abrigarem durante a pandemia.

“Nas minhas apurações, me deparei com muitas situações diferentes, mas o que mais me chamou a atenção durante a pandemia foi ver famílias inteiras nas ruas das grandes cidades! Sabemos que a pandemia deu clareza à desigualdade social que sempre existiu de modo estrutural em nosso país.

Este período em que vivemos recentemente escancarou situações de famílias que não conseguiam pagar seus aluguéis, a dificuldade das mães solo com seus bebês, casais com suas crianças nas ruas, ou seja, meninos e meninas que tiveram suas infâncias roubadas, por mais que elas não lembrem no futuro o que aconteceu, os traumas adquiridos ao dormir na rua, na chuva, conviver com diversos tipos de violência impacta muito!

Além disso, mulheres que chegavam a São Paulo de outras localidades buscando alternativas, pois em suas cidades locais não estava fácil a condição de viver. Além do vírus, centenas de milhares de pessoas sofreram com a indiferença. O que eu observo é que a solidariedade e a organização da população é que possibilitou oportunidades de acolhimento e alimento para esta população que não contou com políticas publicas para amenizar esta dor”.

A partir desta obra, que dá vez e voz para estes homens e mulheres que ainda estão na rua após o período mais grave da pandemia ter passado, Karla também esclareceu quais atitudes que nós, como cristãos, podemos fazer para ajudar estas pessoas.

Luciney Martins
Luciney Martins

“Primeiro de tudo é não ignorar a situação dessas pessoasDom Angélico Sandalo Bernardino nos fala que pouco adianta a gente pular o pobre que está na porta da Igreja para comungar aos domingos, sendo que o próprio Cristo está naquela pessoa que mendiga atenção e comida. Devemos nós, como comunicadores católicos, sensibilizar as pessoas a partir desta realidade!

Não é possível que mulheres e homens, que seguem a Jesus Cristo se desumanizem e ignorem esta realidade. A partir dela, deve-se ter ações que provoquem mudanças, como a solidariedade vinda das Pastorais Sociais. Conviver com as pessoas é também doar um pouco do que a gente tem, ter compaixão com o próximo. Entender que se esta pessoa chegou a esse estado, foi por algum motivo emocional, de relacionamentos em suas casas, dependência química, depressão, ou seja, distante dos códigos que nós vivemos na sociedade.

Outra coisa é mexer nas estruturas de um país tão desigual a partir do voto. Votar não pensando apenas nas políticas para si mesmo, votar pensando que o Brasil precisa sair ou minimizar a desigualdade social. Sem mexer nestas estruturas arcaicas e pautadas na oligarquia da escravidão, não conseguiremos alcançar um país igualitário e justo! Votar consciente é papel de nós cristãos, católicos, de todo povo que tem fé!”.

A obra foi finalizada em 2021, e mesmo com as dificuldades de conseguir uma editora para o lançamento, Karla reafirmou o real objetivo de todo o repórter, ter o compromisso de retratar a realidade do nosso povo.

O trabalho de Karla foi apenas escutar e ouvir com sensibilidade os relatos para não expor ou humilhar as pessoas, mostrar que se tratava de um trabalho sério, de denúncia. Mostrar como parte da população brasileira passava por aqueles momentos difíceis – e continuam passando – era o mais importante.

Para mais informações sobre o livro e o trabalho da autora, acesse este link. 

Um dos exemplos da caridade aplicada durante a pandemia é o Padre Júlio Lancellotti, retratado pelo portal A12 em 2021:

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