Não podemos deixar cair no esquecimento a importância do professor e filósofo Anísio Teixeira na construção do pensamento pedagógico brasileiro. Com inspirações jesuíticas, pois queria ser um religioso, manteve esse ideal ao se dedicar à Educação.
Mais tarde, fundamentado no pensamento de John Dewey, analisou os problemas da educação brasileira e buscou soluções práticas e úteis para a educação e a escola. Ele teve preocupação permanente com a transformação da sociedade do seu tempo, que foi externada em seu livro “A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola” (2000. p. 115), afirma: “Épocas como a nossa já tem marcado a humanidade nas suas transformações históricas; mas não creio que nenhuma delas, como na atual, tenha havido uma consciência tão viva de transição e perigo”.
O modo prático de viver na efervescência das transformações, que a industrialização e o avanço tecnológico traziam, foi o ponto chave de suas preocupações. O que faria a sociedade com o surgimento da produção em massa, com a desenfreada urbanização, com as riquezas que certamente essa produção traria?
Leia MaisO vínculo significativo entre escola e vida Ao visualizar a situação de outros países que já tinham passado por este processo, se deparou com outra questão que o incomodou: o progresso moral cresceria na mesma proporção que os progressos materiais? Poder, desintegração das comunidades, as leis que regram a vida coletiva, os ideais comuns, foram situações inclusas nos 'medos' que circulavam seu pensamento frente à 'nova sociedade' que se instalava.
Uma questão que ainda hoje é atual, já que a busca do progresso continua. Papa Francisco, em discurso aos participantes no Seminário “Bem Comum na Era Digital” (27/09/2019) alertou que: "Se os progressos tecnológicos fossem causa de desigualdades cada vez maiores, não poderíamos considerá-los verdadeiros progressos. O chamado progresso tecnológico da humanidade, se se tornasse um inimigo do bem comum, levaria a uma infeliz regressão, a uma forma de barbárie ditada pela lei do mais forte".
Anísio Teixeira se angustiou com a falta de uma utopia capaz de caminhar na velocidade e na criatividade do momento. Grande foi sua preocupação, com a possível ausência de um ideal comum, que unisse fraternalmente a sociedade. Foi neste contexto, que também surgiu, a preocupação, com a educação.
O Progresso pode ser ameaçador ou libertador. Toda vez que ocorre a desqualificação dos valores essenciais ao bem comum, tonar-se ameaça. Papa Bento XVI, na Homilia Pascal (07/04/ 2012), refletiu: "Se Deus e os valores, a diferença entre o bem e o mal permanecem na escuridão, então todas as outras iluminações, que nos dão um poder verdadeiramente incrível, deixam de constituir somente progressos, mas passam a ser simultaneamente ameaças que nos põem em perigo a nós e ao mundo".
Anísio Teixeira foi designado para ocupar vários cargos na administração do sistema educacional do país. Tornou-se inevitável que a educação fosse a vertente principal de suas produções, reflexões e ações. Esta estaria pronta para caminhar, paralelamente, com a sociedade na qual está inserida? Mais do que isso, estaria pronta para atender a demanda de uma sociedade em avanço, mas sem ferir a condição humanitária da mesma?
Em sua Filosofia da Educação, o ensino, ato de se fazer educação, deve ter como finalidade a preparação dos homens do futuro, formando-os para as diversas modalidades da vida e da sociedade moderna, inclusive para o trabalho, sem abrir mão da dimensão humanitária. À escola é conferido o legado da promoção dos “homens novos” para a nova sociedade. Afirma Anísio Teixeira (2000. p.46) sobre a função da mesma: "Não se pode praticar tolerância e bondade como se pratica aritmética. Logo, se a escola quer ter uma função integral de educação, deve organizar-se de sorte que a criança encontre aí um ambiente social em que viva plenamente. A escola não pode ser uma simples classe de exercícios intelectuais especializados. Assim, é a nova psicologia da aprendizagem que obriga a transformar a escola em um centro onde se vive e não em um centro onde se prepara para viver".
O desejo de uma sociedade melhor torna-se claro quando Anísio Teixeira fala sobre educação e escola. Apesar de aceitar, mesmo com receio, as transformações e de alertar para que a “nova escola” não insistisse nos erros da escola tradicional, se manteve convicto da necessidade de um projeto de escola que. de uma forma ou de outra, respondesse aos anseios da nova sociedade, mas sem perder de vista, o projeto de conquista, dos ideais e valores, indispensáveis ao bem comum. Por isso, sonhou e trabalhou, para a institucionalização da Escola Pública para todos. Uma Escola que, de fato, atendesse radicalmente e literalmente os sentidos do Bem Comum.
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