“O cardinalato não significa uma promoção, nem uma honra, nem uma decoração; é simplesmente um serviço que exige ampliar o olhar e expandir o coração. E, embora pareça um paradoxo, poder olhar mais longe e amar mais universalmente com mais intensidade só é possível quando se segue o mesmo caminho do Senhor: o caminho da humildade e do abaixamento, tomando-se a forma de servo (cf. Fil 2,5-8). Por isso lhe peço, por favor, que receba esta designação com o coração simples e humilde. E, ao mesmo tempo em que deve recebê-la com alegria e regozijo, também a receba de modo que este sentimento se distancie de qualquer expressão mundanizada, de qualquer celebração estranha ao espírito evangélico de austeridade, sobriedade e pobreza.”
Essa foi a mensagem do Papa Francisco para os novos cardeais anunciados no dia 12 de Janeiro de 2014. Ele faz explícito que ser cardeal é um serviço humilde, seguindo o modelo do Senhor Jesus. Quis começar esse texto com essa mensagem, que talvez já seja conhecida pelos leitores, porque é a forma mais recente de se designar a pessoa do cardeal.
O Romano Pontífice escolhe livremente entre os homens que receberam pelo menos a ordenação sacerdotal e que se destaquem notavelmente pela sua doutrina, costumes, piedade e prudência (...)
Mas é interessante também porque ao mandar essa mensagem o Papa está levando em consideração a Igreja atual que nunca pode ser desvinculada de sua história. História que possui, naturalmente, luzes e sombras.
No artigo anterior pôde-se entrever, a grandes rasgos, a história do cardinalato. E se olhamos para trás, a origem dos cardeais não pode ser traçada desde um evento único. Foi um processo lento que se mescla inicialmente com a história do presbitério de Roma. Nesse presbitério, alguns presbíteros que possuíam as Igrejas mais importantes, foram ganhando um papel mais proeminente, até que foram chamados de cardeais.
O termo “cardeal” inicialmente era um adjetivo que qualificava esses sacerdotes titulares das Igrejas mais importantes convocados para ajudar na liturgia das quatro maiores basílicas de Roma. Mais tarde essa ajuda litúrgica passou a ser também administrativa e governamental. Cardo vem do latim e literalmente significa dobradiça. O Papa é como a dobradiça da porta da Igreja, que a abre ou a fecha. Pela proximidade com o Sumo Pontífice e importância dos trabalhos realizados pelos presbíteros das basílicas de Roma no governo da Igreja, eles foram chamados cardeais.
Foto de: reprodução
Ser cardeal está vinculado à humildade, ser como
Jesus, quando lavou os pés dos discípulos.
Outro fator que contribuiu muito para o crescimento da importância do colégio de cardeais foi a exclusividade na eleição do novo Papa. Na história da Igreja vemos que por muito tempo o poder secular, ou seja, imperadores, reis e monarcas, tiveram muita influência na escolha dos Papas. Essa história possui altos e baixos até que em 1059 Nicholas II conseguiu fazer com que os Papas fossem eleitos apenas pelos cardeais.
Desde então o papel dos cardeais vem evoluindo na Igreja e eles passaram a ter novas responsabilidades, honras e privilégios. O código de direito canônico, de 1986, no cânon 349 fala que ao cardeal compete prover a eleição do Romano Pontífice e ajudar o mesmo tanto colegialmente, quando são convocados para tratar de algumas questões de maior importância, como pessoalmente, por meio dos diferentes trabalhos que desempenham.
A única maneira de se tornar cardeal é sendo escolhido pelo Papa. O Romano Pontífice, segundo o cânon 351, escolhe livremente entre os homens que receberam pelo menos a ordenação sacerdotal e que se destaquem notavelmente pela sua doutrina, costumes, piedade e prudência na resolução dos problemas.
Ser um cardeal então sempre esteve vinculado ao serviço, que retamente entendido, está necessariamente vinculado à humildade, como vemos em Jesus ao lavar os pés dos discípulos na última ceia. Ser cardeal é, e sempre foi, servir de maneira muito especial o Papa e, consequentemente, a Igreja.
Mas sabemos que existiram homens que não responderam plenamente a essa missão. Na história podemos ver as luzes e sombras que sempre acompanharam e acompanharão a Igreja. Todos somos pecadores, começando por mim e por você. Por isso a mensagem do Papa, que conhece muito bem a história e a fragilidade do ser humano, é tão precisa e atual, já que ele convida a receber esse chamado ao serviço com muita alegria e com o coração simples e humilde, porque apenas dessa maneira é que se pode servir da maneira que um cardeal é chamado a fazê-lo, como o Senhor Jesus.
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