Depois de ouvir a ordem de retornar ao Egito em vista de libertar os israelitas e a promessa de que o Senhor o acompanharia (cf. Ex 3,10-12), Moisés questiona a Deus mais uma vez: “Se me perguntarem qual é o Seu nome; O que direi?” (v.13).

Ao responder, o Senhor se revela com um novo nome a Moisés, diferente daquele que aparece em Ex 3,6: “Eu sou aquele que é” (cf. Ex 3,14).

Um nome significa mais que um rótulo verbal, de acordo com a cultura daquela época. Para as pessoas bíblicas, um nome abrange toda uma realidade complexa como, por exemplo, a missão que uma pessoa tem.

Apenas para exemplificar, mudanças importantes na vida de uma pessoa são apropriadamente marcadas por uma mudança de nome, como Abrão para Abraão (cf. Gn 17,5), Jacó para Israel (cf. Gn 32,28) ou Simão para Pedro (Mt 16,17– 18).

Assim, o pedido de Moisés para que Deus revelasse seu nome consiste numa demanda de conhecimento adequado a respeito do Senhor, relativo à sua tarefa e ao seu caráter. Deste modo, a questão “Qual é o seu nome?” significa “o que tu podes fazer?” ou “qual é o teu caráter?”

A passagem de Ex 3,14 consiste num dos textos mais debatidos do Antigo Testamento. A expressão “Eu sou aquele que sou” constitui-se como um dos assuntos mais controversos entre os pesquisadores.

Para alguns estudiosos da Bíblia, a expressão “Eu sou o que sou” pode designar o fato de que Deus é o existente e Aquele que confere a existência. Neste sentido, seria uma referência ao Criador.

É importante dizer, contudo, que esta concepção não é tão aceita, já que ela está muito ligada às concepções filosóficas de um ser metafísico. O autor do texto sagrado, muito provavelmente, não tinha isso no seu imaginário quando escreveu esta narrativa.

Outros pesquisadores afirmam que é possível que o sentido seja a designação da presença viva de Deus diante de Moisés, do povo e do mundo. Deste modo, o que o autor queria expressar era que o Senhor participa da vida dos israelitas de forma dinâmica e não como um ser distante. Esta forma de explicar é mais aceita hoje em dia.

Em Ex 3,16, Deus ordena que Moisés reúna os anciãos de Israel. Esses são as lideranças do povo que já existiam no Egito (cf. Ex 4,29; 12,21; 18,12; 24,1; Nm 11,16.25). Com isso, o autor quer mostrar que há uma liderança partilhada. O Senhor quer contar com as lideranças populares para fazer seu plano acontecer.

Ainda no v.16 há um dado importante: o Senhor deseja que Moisés comunique às lideranças dos israelitas que Ele viu sua situação de opressão e que não ficará imune, mas que agirá, visitando seu povo.

Ex 3,17 traz o plano de libertação. O Senhor intenta fazer seu povo sair da aflição do Egito para subir até Canaã, uma terra que mana leite e mel. Deus quer que os oprimidos israelitas vivam em liberdade numa nova forma de organização da sociedade.

Ainda no v. 17, o Senhor assegura a Moisés que a liderança de Israel ouvirá a voz de Moisés. Os anciãos agirão com solidariedade, colocando suas vidas em risco, tanto pelo escolhido de Deus quanto pelo projeto da libertação. Aqui, o autor parece preparar o leitor para o fato de que não será assim em relação à liderança do Egito. O faraó não será solícito em deixar com que o povo de Israel seja liberto (v.19).

O conteúdo do pedido que Moisés e os anciãos farão ao faraó tem um cunho religioso. Eles pedirão para sair em marcha pelo deserto por três dias com a finalidade de oferecerem sacrifícios ao Senhor no deserto (v.19).

No Antigo Egito, havia o costume de se liberar, de vez em quando, os trabalhadores para participar em feriados religiosos. Porém, o autor, ao mostrar que o faraó recusará, enfatiza a crueldade com a qual os israelitas estavam sendo tratados. O povo não tinha sequer o direito de ter liberdade religiosa.

Diante disso, é que no v.19 Deus afirma que “sabe” que o rei do Egito não os deixará sair. Por causa disso, Ele precisará intervir, obrigando o opressor, com sua mão forte, a fazer com que os oprimidos saiam da escravidão.

A metáfora da mão do Senhor que tira seu povo do Egito é muito importante para a tradição bíblica. Deus ferirá o Egito com sua mão. Aqui, o autor utiliza mais uma vez o verbo “ferir”, pois esse foi empregado dentro da narrativa na qual Moisés “feriu” o soldado egípcio.

Com tudo isso, o autor revela que Deus não se acomoda diante das situações de escravidão de seu povo; Ele age e, até mesmo, “fere” os opressores.

Ex 4,1 apresenta a terceira das quatro objeções de Moisés em seu diálogo com Deus no monte Horeb, diante da sarça ardente (cf. Ex 3,11.13; 4,10). Ele teme a rejeição de seu próprio povo, ao afirmar: "Eles não acreditarão em mim" e "Eles não ouvirão a minha voz". Aqui, trata-se uma refutação direta da segurança dada por Deus em Ex 3,18. Assim, ao levantar essa objeção, Moisés recusa a certeza que Deus lhe deu.

Lida psicologicamente, essa troca de 3,18 e 4,1 sugere que, como as apostas são muito altas, a ansiedade de Moisés é igualmente alta. Entendida como uma peça de retórica estratégica, o protesto serve para aumentar o suspense e permitir (ou exigir) uma resposta ainda mais extrema de Deus.

Outro dado interessante consiste na utilização do verbo “acreditar”; Moisés afirma que os anciãos não acreditarão nele (v.1). No hebraico, esse termo aparece por quatro vezes neste conjunto de versículos (Ex 4,1.5.8-9). Sendo que por três vezes na fala direta do Senhor. Tal emprego aponta que Deus garante que o líder israelita terá crédito diante dos seus irmãos no Egito.

A resposta a essa terceira objeção consiste num ato radical de Deus que O revela como capaz. Assim, o objetivo das maravilhas, anunciadas anteriormente (cf. Ex 3,20), é evocar a crença (v.5).

A primeira maravilha forjada em resposta à ansiedade de Moisés é transformar um bastão em uma cobra e, depois, a cobra de volta em uma vara. Esses eram dois símbolos bem reconhecidos no Egito: a vara era um símbolo de autoridade; a serpente era a divindade patronal (deusa) do Baixo Egito (a região do Delta).

Quando Moisés realiza esse ato na presença de Faraó, o rei do Egito faz com que seus mágicos o imitem (Ex 7,8-13). No entanto, a serpente de Deus consome as serpentes egípcias e retorna ao seu estado original como uma vara. Embora o Faraó não estivesse convencido (3,20), a demonstração indicou aos israelitas que Moisés havia sido chamado por Deus (cf. Ex 4,30-31).

Esta narrativa intenta demonstrar que Moisés não será enviado sem a presença de Deus que o dá autoridade. O Senhor dos oprimidos não abandona aqueles que se colocam ao lado dos pobres.