Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 22 NOV 2017 - 13H43

O Concílio de Trento

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

História Moderna – 11

Sabemos todos que a Reforma Protestante em suas várias correntes teve um impacto forte na Europa do século XVI, muito além do aspecto religioso. Os reformistas, sobretudo, Lutero, tinham grande habilidade oratória e também uma forte penetração entre o público leigo, e ofereceram aos vários principados que compunham o Sacro Império Romano-Germânico a possibilidade de articularem-se politicamente sem a anuência expressa do imperador e da Igreja.

Por outro lado, os reformistas criticavam o comportamento dos representantes da Igreja que ocupavam altos postos dentro da hierarquia eclesiástica, que possuíam grande influência política, mas pouco cuidado espiritual. A despeito das propostas teológicas (para muitos, consideradas revolucionárias e heréticas), a Reforma Protestante acabaria dando brecha para as guerras civis religiosas na Europa, fato que daria origem ao moderno Estado Nacional, sob feições absolutistas. A guerra mais abrangente e importante foi a Guerra dos 30 anos que envolveu os países mais importantes da Europa entre 1618 e 1648.

Para deter o avanço do protestantismo a Igreja Católica convocou o Concílio de Trento.

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Uma bula do papa Paulo III convocou o Concílio de Trento

O concílio e seus efeitos

Leia MaisA Reforma CatólicaA fundação da Igreja AnglicanaO desdobramento da Reforma LuteranaUm concílio é o nome dado a uma reunião de cunho religioso realizado pela Igreja católica. Dos concílios os mais importantes e abrangentes são aqueles chamados de ecumênicos por reunirem representantes de toda a Igreja.

No século XVI, no contexto da Contrarreforma ou da reação da Igreja ao movimento da Reforma Protestante um concilio foi convocado pelo papa Paulo III, em 1546, na cidade de Trento, na área do Tirol italiano, derivando daí o seu nome, pois o concilio sempre recebe o nome da localidade onde os padres conciliares como são chamados seus participantes se reúnem.

Com o surgimento e consequente expansão do movimento protestante, muitas ações passaram a atingir a Igreja Católica. Uma reação a esta expansão, comumente denominada “Contrarreforma” foi guiada pelos papas Paulo III, Júlio III, Paulo IV, Pio V, Gregório XIII e Sisto V, buscando combater a expansão da Reforma Protestante e ao mesmo tempo fortalecer a Igreja. Além da reorganização de várias congregações religiosas já existentes, outras foram criadas, dentre as quais a Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas, tendo como fundador Santo Inácio de Loyola. Mas, sem dúvida alguma, a reação mais forte da Igreja se deu a partir do momento em que começaram a ser publicadas e colocadas em prática as decisões conciliares.

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O Concílio de Trento durou 18 anos e foi realizado de 1545 a 1562

Desenvolvimento do Concílio de Trento

A realização do concílio começou em 1545 a partir de uma bula papal publicada em 1542. Alguns historiadores defendem o argumento de que o concílio não pode ser encarado com uma resposta à Reforma Luterana, haja vista que a resposta à reforma alemã já estava sendo dada por via institucional e militar mediante as guerras internas do continente. O Concílio de Trento estipulava diretrizes espirituais de acordo com o que a tradição dos doutores da Igreja e dos santos sempre defendera.

O Concílio de Trento buscou estreitar a união da Igreja e reprimir os seus abusos internos. Os teólogos mais famosos da época contribuíram na elaboração dos decretos, que depois foram discutidos pelos bispos em sessões privadas.

Por conta das guerras incessantes, o concílio teve uma primeira interrupção em 1547. Seu prosseguimento aconteceu entre os anos de 1551 e 1552, quando teve que novamente ser interrompido. A terceira e última reunião ocorreu entre os anos de 1562 e1563, sob o pontificado de Pio IV.

No total o concílio durou 18 anos e seus trabalhos foram concluídos somente em 1562, tendo realizado 25 sessões plenárias em três períodos diferentes (1545 a 1547; 1551 a 1552; 1562 a 1563), quando afinal suas decisões foram solenemente promulgadas em sessão pública.


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O Concílio de Trento reafirmou a doutrina da Igreja e condenou os erros do seu tempo

Todo o corpo da doutrina católica foi discutido à luz das críticas do protestantismo. Entre suas decisões mais importantes o concílio condenou a doutrina protestante da justificação pela fé, proibiu a intervenção dos príncipes nos negócios eclesiásticos e a acumulação de benefícios; também definiu o pecado original e declarou como texto bíblico autêntico a tradução de São Jerônimo denominada “vulgata” (popular, ou de uso popular, em latim). Os sete sacramentos foram mantidos, assim como o celibato clerical, a indissolubilidade do matrimônio, o culto dos santos e relíquias, a doutrina do purgatório e as indulgências, recomendando a criação de seminários para a preparação dos que quisessem ingressar no clero, denominando-as seminários.

Ao contrário dos concílios anteriores, em Trento ficou estabelecida a supremacia dos Papas, tendo o papa Pio IV que ratificar suas decisões.

As primeiras nações a aceitarem incondicionalmente as resoluções do concílio foram Portugal, Espanha, Polônia e os estados italianos. A França, dividida pelas lutas entre católicos e protestantes demorou mais de meio século para aceitar oficialmente as normas e dogmas estatuídos pelo concílio, sendo mesmo o último estado europeu a fazê-lo.

Mas quando da promulgação das decisões do Concílio de Trento, as ideias protestantes já haviam se espalhado por boa parte da Europa Ocidental e Setentrional, e o propósito do concílio tridentino, de reafirmar as doutrinas tradicionais e reorganizar a ação católica. Mas a cristandade já estava definitivamente dividida entre católicos e protestantes, sem contar a divisão anterior, ocorrida em 1054 entre Igreja Cristã e Igreja Ortodoxa Grega.


Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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