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A Epifania de Caná

Escrito por Vinícius Paiva

04 JAN 2022 - 08H44 (Atualizada em 06 JAN 2022 - 08H24)

Shutterstock - Por jorisvo

No dia 06 de janeiro a Igreja celebra a Epifania do Senhor. Embora poucos saibam, a Solenidade da Epifania é composta por três narrativas bíblicas: A visita dos reis Magos (Mt 2,1-12), as bodas de Caná (Jo 2,1-12) e o batismo de Jesus (Mt 3,13-17). O que esses três acontecimentos têm em comum? A Igreja os considera como partes de um único mistério. A liturgia atesta tal certeza ao contemplar, no hino de Vésperas da Epifania, os Magos que seguem a estrela, o celestial Cordeiro lavado nas águas e as águas que se tornam cor d´aurora quando jorram o vinho de Caná. Trata-se de uma antiquíssima tradição patrística. Célio Sedúlio, por volta do ano 450 (Séc. V), escreveu um poema chamado Paean Alphabeticus de Christo para narrar a vida de Jesus, sendo que as estrofes 8, 9, 11 e 13 tratam da impiedade de Herodes e da Epifania do Senhor. São os mesmos versos que se cantam até hoje na liturgia do Oriente e do Ocidente.

É também por esse motivo, que no dia 06 de janeiro se festeja Nossa Senhora de Caná ou Nossa Senhora das Bodas de Caná. Essa devoção ganhou força após o Concílio Vaticano II e também com a Exortação Apostólica Marialis Cultus (1974), na qual o Papa Paulo VI destacou a “necessidade de um cunho bíblico em toda e qualquer forma de culto” da piedade cristã (MC 30). A devoção a Maria de Caná surge da Bíblia. A primeira imagem de Nossa Senhora de Caná foi confeccionada pelo já falecido Pe. Hector García no ano de 1982, fundador do Movimento Evangelho de Caná (1979) em Rosario – Argentina. A imagem de bronze foi abençoada pelo bispo de Rosario em 23 de outubro de 1982 e até hoje se encontra na sede do Movimento para visitação. Basicamente o que a diferencia de outras imagens da Virgem Maria são as duas talhas colocadas aos pés de Nossa Senhora, que segundo Pe. Hector García, simbolizam a esposa e o esposo. Nossa Senhora de Caná é padroeira dos casais e protetora das famílias, principalmente daquelas que passam por dificuldades.

Vinicius Paiva
Vinicius Paiva

No Brasil, a devoção a Nossa Senhora de Caná existe desde 2009, iniciada em Saquarema/RJ, por um grupo de jovens missionários sob a liderança de um leigo mariano chamado Vinícius Paiva. No começo não se sabia da existência do Movimento Evangelho de Caná, nem da imagem original criada pelo Pe. Hector García. Com o passar do tempo e as buscas na internet, descobriu-se a imagem argentina e fez-se a imagem brasileira de Nossa Senhora de Caná, abençoada solenemente por Dom Alano Maria Pena em 12 de janeiro de 2011 e que atualmente se encontra na Capela de Nossa Senhora de Caná (Penha Shopping - Rio de Janeiro), administrada pela Associação Missionária Servos de Maria de Caná. Com a Jornada Mundial da Juventude em 2013 os jovens de Caná do Brasil se encontraram com os jovens de Caná da Argentina. E desde então a devoção tem crescido em diversos estados brasileiros e também em vários países da América Latina.

O movimento de renovação ao culto marial iniciado por Paulo VI culminou com a proclamação do Ano Mariano e a publicação da Carta Encíclica Redemptoris Mater por João Paulo II em 1987. Por essa ocasião, o Papa solicitou à Congregação para o Culto Divino que reunisse numa coletânea textos celebrativos e tradições litúrgicas referentes aos títulos de Nossa Senhora, que foram rigorosamente selecionadas à luz dos escritos dos Santos Padres e documentos do magistério eclesiástico. Foi assim que surgiu a “Coletânea das Missas de Nossa Senhora”, publicada no Brasil pela CNBB em 24 de junho de 1987 e reeditada em 2015 em dois livros: missal e lecionário. Nessa coleção foram reunidos 46 formulários de diversos títulos marianos, divididos pelos tempos litúrgicos. A missa da Bem-Aventurada Virgem Maria de Caná, que se celebra a 06 de janeiro, foi catalogada como parte integrante do tempo litúrgico do Natal, do qual a Solenidade da Epifania faz parte.

Mas afinal de contas, porque Caná é uma epifania? A Epifania do Senhor significa a manifestação de Deus na história. Em Belém, a estrela indica e manifesta a realeza do recém-nascido, no rio Jordão, a voz do Pai testemunha a respeito de seu Filho muito amado e em Caná Jesus manifesta pela primeira vez seu poder e sua glória: “manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele” (Jo 2,11) – É o início dos sinais na teologia joanina. Por isso no ano litúrgico C, no domingo seguinte à Festa do Batismo do Senhor, abrindo o Tempo Comum, o evangelho proposto é o das Bodas de Caná (Jo 2,1-12). Quando João Paulo II instituiu os mistérios luminosos do Rosário através da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (2002), ao enunciar o mistério de Caná, o chamou de “a autorrevelação nas bodas de Caná” (RVM 21). Portanto é Jesus que se revela, é Jesus que manifesta no milagre de Caná o seu amor pela humanidade. Mas essa epifania também é precedida por uma estrela: a Virgem Maria.

Pe. Hector García, idealizador da imagem da Virgem de Caná, na homilia dos 25 anos de sua ordenação presbiteral (ele foi ordenado em 06 de janeiro de 1962), lembrou o sermão de São Boaventura sobre as três estrelas que nos conduzem a Cristo: a Sagrada Escritura, a Virgem Maria e a estrela interior que são as graças do Espírito Santo. Baseado em São Boaventura, Pe. Hector chamava Maria de “a epifania de Cristo”. Ou seja, ela ajuda na revelação do Filho, ela apresenta Jesus aos Magos, mas também aos noivos e aos serventes de Caná. Se em Belém sobram presentes, em Caná sobra vinho. Se em Belém as esperanças são renovadas pelo recém-nascido, em Caná as esperanças são renovadas pelo homem Jesus. O que está por detrás das três epifanias (Belém, Jordão e Caná) é o insondável mistério da Encarnação: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1,14), quer seja na manjedoura, no rio ou na festa de casamento.

O título de Nossa Senhora de Caná ainda é muito pouco conhecido e menos ainda compreendido em toda a sua profundidade teológica. A epifania de Caná não nos fala apenas de um milagre ou de uma festa de casamento que não acabou por falta de vinho, mas nos diz a respeito da própria vocação epifânica da Igreja, que assim como Maria, deve revelar Cristo ao mundo, deve estar atenta aos mais necessitados e repetir a todos: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Não por acaso, o evangelho proclamado todo ano na Solenidade da Imaculada Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil, é justamente o Evangelho de Caná. Pois assim como em Caná, Nossa Senhora continua socorrendo este país e cuidando de cada peregrino que visita sua pequenina imagem nesse grandioso Santuário. É ela que com a doce voz do Espírito Santo diz a cada um para não desanimar, para suportar o peso das talhas e não duvidar que o melhor está por vir: Jesus.

Vinícius da Silva Paiva
Membro da Academia Marial e da Equipe de Assessoria teológica. Especialista em Mariologia pela Faculdade Dehoniana e Academia Marial e Mestrando em Teologia Sistemática pela PUC-RS. Fundador da Associação Missionária Servos de Maria de Caná e Coordenador da Escola Maria de Caná.

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