Palavra do Associado

A Devoção mariana através dos séculos

Parte 2

Escrito por Academia Marial

07 MAI 2021 - 17H00 (Atualizada em 18 JAN 2024 - 11H15)

Victor Hugo Barros

O século IV da era cristã foi marcado por um período de certa tranquilidade para os seguidores de Jesus Cristo. Através do Edito de Milão datado de 13 de junho de 313, o Imperador Constantino, determinou que o Império Romano se manteria neutro em relação ao credo religioso.

O documento publicado, em forma de carta, colocava fim a perseguição até então sancionada oficialmente, especialmente a perseguição aos cristãos. Com esta liberdade religiosa, os locais de culto e propriedades confiscadas e vendidas foram devolvidas aos cristãos. Cessaram as perseguições romanas, mas iniciava-se na Igreja grandes dificuldades internas por conta de posições teológicas diferentes ou até mesmo muitas vezes opostas. Neste período as especulações em torno da Virgem de Nazaré vão crescer.

A necessidade de conhecer Maria de Nazaré no século IV vai girar em torno da questão da natureza de Cristo, conhecendo a natureza do Filho de Maria a Igreja conseguiria responder a muitas afirmações heréticas. Quatro concílios (Niceia em 325, Constantinopla I em 381, Éfeso em 431 e Calcedônia em 451) definem que em Jesus Cristo existe uma única pessoa com duas naturezas: humana e divina, sendo Ele ao mesmo tempo, homem e Deus. Diante desta afirmação conciliar, Maria, não é vista somente como mãe de Jesus Cristo homem, é vista também como Mãe de Deus Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Neste período que vai ficar conhecido como a “Idade de Ouro da Patrística – 325 a 451”, os padres do Oriente e do Ocidente vão abordar a temática das duas naturezas de Cristo com olhos postos em Maria de Nazaré.

Gregório Nazianzeno (+389) que é considerado o maior teólogo da Igreja Bizantina, vai afirmar que: “Nós não separamos o homem da divindade, mas o professamos um só e o mesmo antes não homem, mas Deus e único filho...; no fim, entretanto, também homem: homem assumido para a nossa salvação; passível segundo a carne, impassível na divindade, terreno e celeste a um tempo.

Cristo, portanto, tem duas naturezas (divina e humana), nãos duas pessoas; duas naturezas; duas gerações: uma eterna do Pai, a outra no tempo da mãe, que; por isso, é verdadeiramente Theotókos: “Se alguém não crê que Santa Maria é Theotókos, fica excluído da divindade”. ¹

  • São Basílio Magno (+369) defendeu a virgindade de Maria.
  • Santo Éfrém (306-373), monge e diácono, contemplou Maria, com um olhar profundo e concreto e compôs poemas para serem cantados pelas crianças.
  • São Gregório de Nissa (+aprox. 394) destacou que a resposta que Maria deu ao anjo, na Anunciação (“Como se fará isso, visto que não conheço homem?” – Lc 1,34), era uma expressão do voto de virgindade que teria feito.
  • Epifânio (+402), bispo de Salamina, no Chipre, acrescentou aos títulos de Theotókos e Sempre Virgem, o de “Mãe dos Viventes”, em oposição ao papel desempenhado por Eva.
  • Santo Ambrósio (+397) apresentou Maria como modelo das jovens que, pela virgindade, consagra-se a Deus. ²

Longe desta discussão em torno de Maria e seu Filho Jesus terminar, o século V da era cristã levantou outras questões mais acaloradas em torno de Maria Santíssima. E será o Patriarca de Constantinopla, Nestório, em suas pregações que colocará a Virgem Maria no centro de uma questão que fará com que a igreja se posicione definitivamente em defesa do título de Theotókos.

A controvérsia teológica começou com as pregações do Patriarca de Constantinopla, Nestório. Em oposição franca e direta ao Patriarca de Constantinopla levantou-se o Patriarca de Alexandria, São Cirilo. Rapidamente os partidos foram se formando e a confusão na fé da Igreja começou a instalar-se ao ponto de o papa, em comunhão com os bispos, convocar o Concílio de Éfeso, no intuito de dirimir a questão.

No fundo, o que estava em jogo não era tanto o papel de Maria Santíssima na História da Salvação, mas sim as duas naturezas e as duas vontades de Cristo. Nesse caso, se a Igreja não se pronunciasse - e as autoridades eclesiásticas notaram isso rapidamente - o que poderia se instalar no futuro era uma confusão doutrinária a respeito da própria cristologia. Para Nestório, Maria era só mãe do Cristo-Homem, porque lhe parecia absurdo uma criatura ser mãe do Criador.

São Cirilo repudiou estas afirmações com veemência, afirmando que não podia haver dois Cristos, um homem e outro Deus, mas um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem que por amor a nós encarnou-se no tempo. Portanto, a consequência lógica das afirmações de Cirilo era de que Cristo possuía em si duas naturezas e duas vontades que coexistiam sem que uma anulasse a outra e, portanto, Maria não poderia ser Mãe de uma parte de Cristo, mas sim do Cristo todo.

Por isso, não seria exagero chamá-la de “Mãe de Deus”, pois sendo Jesus a Segunda Pessoa da Trindade e, portanto, Deus, Maria era sua Mãe. No Concílio, prevaleceu a interpretação de São Cirilo, que encontrava sua fonte na Tradição e nas Escrituras e a posição de Nestório foi condenada. Daí em diante, por disposição da Divina Providência, a devoção e o culto a Nossa Senhora ganharam um impulso especial e seguem dando muitos frutos de conversão, realizando a profecia que Ela mesma fez: “Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada”(Lc.1,48)”. ³

Em Roma, no ano 432, o Papa Sisto III começou a construção da Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga igreja do Ocidente dedicada à Santíssima Virgem. Quis que essa Igreja fosse um canto de louvor e ação de graças ao Senhor pela solene proclamação do dogma da maternidade divina de Maria Santíssima, ocorrida no ano anterior, em Éfeso. No oriente, começou a ser cantado o hino Akáthistos – palavra grega que significa não sentado – de pé. Trata-se do mais célebre hino mariano, a mais bela composição mariana do rito bizantino, “um esplêndido hino” (João Paulo II, 25.03.88) ... tudo indica que esse hino, cujo original é em grego, tenha sido composto entre a segunda metade do século V e os primeiros anos do século VI, em Constantinopla.4

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Data deste século ainda, a mais célebre das imagens da Virgem Maria venerada pela igreja até os dias de hoje, a Salus Populi Romani (Protetora do Povo Romano). Acreditasse que o ícone tenha sido pintado por São Lucas. A tradição nos conta que em 05 de agosto de 358 no verão do hemisfério Norte, caiu neve no local onde seria posteriormente construída a Basílica. A Virgem Maria teria aparecido em sonho ao Papa Libério e pediu que a Igreja fosse construída onde caiu a neve.

No século VI encontramos na liturgia da Igreja expressões concretas em honra da Virgem Maria que exprimem fé e confiança na sua intercessão junto a Nosso Senhor Jesus Cristo. Encontramos, assim, no cânone romano da Santa Missa Nossa Senhora elevada ao primeiro posto.

Datam deste século duas gravuras de Maria Santíssima e seu Filho Jesus Cristo. No Monte Sinai uma gravura mostra Maria e o Menino Jesus em um trono entre os Anjos e Santos e outra ainda no Mosteiro de Santa Catarina tem a representação da Natividade.

Do século VII ao XI os Padres da Igreja seguem aprofundando em seus escritos a pessoa de Maria de Nazaré. Santo André de Creta que era bispo, pregador e liturgista, com sabedoria percebe de modo particular e profundo a santidade original da Mãe de Deus e no sermão da Natividade de Maria afirmou que “querendo o Salvador colocar no lugar da antiga criação uma nova, escolheu uma Virgem absolutamente integra e sem mancha para fazer dela uma nova terra, terra virgem, para realizar a própria encarnação, tornando-se Ele mesmo um novo Adão”.

Desenvolveu-se, no Oriente, uma grande síntese doutrinal, bem expressa na devoção, na poesia e na arte, prejudicada, contudo, pela perseguição iconoclasta (720-843), que destruiu quase todas as obras artísticas então existentes; as que se conservaram testemunham a teologia e a mística da beleza que inspiram a arte bizantina.

São João Damasceno (+749) destacou-se na defesa do uso de imagens. Sustentava que é lícito venerar ícones (= imagens), já que nossa veneração dirige-se à pessoa representada e nós honramos a Deus em suas obras. 5

Seguindo na linha das obras artísticas que restaram da perseguição iconoclasta encontramos o ícone Agiosorotissa (Mãe de Deus) em Constantinopla, datado do século VII.

“Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até a consumação eterna de todos os eleitos.

De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo”. 6

Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida
Editor-chefe do Projeto: O rosto Mariano do Brasil

Bibliografia:

1. Uma leiga chamada Maria / organizado por João Carlos Almeida – Aparecida,SP: Editora Santuário, 2019. 172 p.;14cm x 21cm.

2. KRIEGER, Murilo S. R. SCJ. Com Maria, a Mãe de Jesus: mariologia para leigos / Dom Murilo S. R. Krieger. - Aparecida: Editora Santuário, 2017.

3.CONTEÚDO aberto. In: Academia Marial – Theotókos: a Mãe de Deus - Disponível em:  Acesso em: 15abr 2021.

4. KRIEGER, Murilo S. R. SCJ. Com Maria, a Mãe de Jesus: mariologia para leigos / Dom Murilo S. R. Krieger. - Aparecida: Editora Santuário, 2017.

5. KRIEGER, Murilo S. R. SCJ. Com Maria, a Mãe de Jesus: mariologia para leigos / Dom Murilo S. R. Krieger. - Aparecida: Editora Santuário, 2017.

6.Lumen Gentium, pag.16

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