Por Carmen Novoa Silva Em Palavra do Associado Atualizada em 08 MAR 2019 - 13H48

Evangelistas da Ressurreição

(Mulheres 8 de março)

Thiago Leon
Thiago Leon


Dizem que os peregrinos-monges da Rússia, chamados "pustinik" em suas leituras, tem como regra ler não somente com sua inteligência (de forma crítica e analítica) mas colocando o intelecto no coração. Os assuntos lidos, são como mel em suas bocas. Leem apenas com fé e credulidade. E deixam que as palavras repousem mansamente em seus corações. Assim, alimentados, o Deus vem esclarecer as palavras, transmudadas num raciocínio atrativo, doces e sedutor quanto o é o produto das colmeias. Desta forma, como os “pustinik” resolvi elaborar um texto que falasse desse oitavo dia de março – que instituíram como “Dia Internacional da Mulher”. Não se constitui em escrito racional ou conceitual. Tampouco pleno de estatísticas, relatórios e tecnicismo apresentando as discriminações insanas e humilhantes por que passaram e ainda passam as mulheres há milênios. Pensei então, em comentar, num breve histórico, a situação feminina no âmbito cultural, especialmente no setor referente a livros e leitura.

No mundo antigo, existem célebres casos de misoginia. Cito as religiões orientais. Tal era sua aversão ao gênero feminino que culminaram em negar lhe a natureza humana. Os pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles julgavam a mulher defeituosa e incompleta. Eurípedes, delas dizia: “o pior dos males”. Pitágoras – “foi gerada pelo princípio negativo, o mesmo que gerou o caos e as trevas. O homem é o inverso”. Cícero, “se não fossem pelas mulheres os homens conversariam com os Deuses...”. Na Roma dos Césares – O supra sumo do elogio era ter em seu epitáfio a seguinte inscrição: “Ela permaneceu em sua casa, se dedicou a fiar lã”... Na Antiga Palestina – A mulher não podia frequentar escola; nem para ensinar ou aprender. “Sua única sabedoria é do fuso”, afirmavam. Os Rabinos da época: “Muito melhor, que a lei e a Torá desaparecessem, entre as chamas, antes de entregá-las às mulheres”. O mel que atrai e aprisiona teve inicio com Jesus. Sempre colocou o intelecto a serviço do coração ao fazer leituras do gênero feminino.

Cristo não tolerava segregações: Adotou em suas parábolas uma “linguagem feminina”. Algo audacioso. Uma afronta até, contra o estilo rabínico daqueles tempos. Se não vejamos: As parábolas – da mulher e o fermento da massa – (Lc 15,8). A das dez donzelas esperando o noivo da boda (Mt 25,1-13). A da viúva e o juiz iníquo (Lc 19, 1-5). Em todas fala positivamente da mulher, com apreço e com elogio. CRISTOFANIA – No entanto o ápice dessa ousadia de Jesus era, TEOLOGICAMENTE maior, quando elegeu-as oficialmente como encarregadas de testemunhar sua ressurreição. No Santo Sepulcro elas foram transformadas por Ele nas primeiras “evangelistas e embaixadoras da ressurreição”. Isso feito numa civilização (judaica) que negava à mulher o papel de testemunha em qualquer tribunal ou juízo. As mulheres nesse momento – maior, Ele disse o “sunsum corda”. “Elevem seus corações para a manifestação de minha glória...” Ainda no século dezenove era proibida, em muitos países da Europa, a entrada das mulheres nas Bibliotecas Nacionais. Podiam apenas percorrer com um guia em dias festivos. Aos livros eram permitidos olhar, mas nunca tocá-los. As mulheres desse século foram às ruas. Exigiram direitos que as mulheres como Santa Teresa D’Ávila, Santa Teresa de Lisieux e Santa Catarina de Sena (Doutoras da Igreja) possuíam, em séculos anteriores aos seus da era moderna. Como os “pustinik” cuja reflexão da leitura é efetuada no coração, lembro que até os dias hodiernos as mulheres do mundo das letras são ainda alvo de preconceito se realmente competentes e com talento. No Brasil, Raquel Queiroz, quando aos 19 anos escreveu. “O Quinze,” livro premiado, um critico literário ousou afirmar que seu pai o havia escrito. No Amazonas, Violeta Branca a 1ª mulher a ingressar na Academia Amazonense de Letras em 1935, seu livro “Ritmos de Inquieta Alegria” foi tido como doação poética bondosa de seu tio Leopoldo Péres a sua sobrinha. Como dizia o filólogo e acadêmico Pe. Nonato Pinheiro: em 1994: O brilho em demasia incomoda. Ainda mais se for de mulher...”

Carmen Novoa Silva é teóloga e membro da Academia Amazonense de Letras e da Academia Marial de Aparecida - e-mail: novoasilva@yahoo.com.br

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