Não apagam. Menos ainda se recebidas na quarta-feira de cinzas, com intuito de perdoar os pecados do carnaval. O rito cristão da imposição das cinzas marca o início da Quaresma e entrou no calendário católico, no século X em Roma. Até hoje abre os 40 dias de jejum, de penitência e purificação quaresmal, no esforço de peregrinar na conversão e celebrar a Páscoa de Jesus.
Jesus nos aconselha entrar pela porta estreita da salvação (M 7, 13-14). Isto exige arrepender-se dos pecados, com renúncias e a purificação. A imposição das cinzas nasceu em relação a Quaresma, mas como caminho pascal. Não tem outro.
Na Bíblia as cinzas significam, entre outros simbolismos, a fragilidade humana, os nossos limites, a caducidade das coisas, alegrias e prazeres da terra. Nas obras humanas, nos progressos da Ciência, no vai e vem da História que ora constrói, ora destrói o que é bom e seria útil e benéfico para todos, tudo passa e vira pó.
Só não passam, nem são vãos os passos rumo ao horizonte final eterno que estabelecem já entre nós o Reino de Deus. As cinzas não apagam o pecado, mas alertam para a desgraça que ele nos faz. O celebrante, quando as impõe em nós, nos diz: “Converta--te e crê no Evangelho”. Ou então: “Lembra-te que és pó e em pó te tornarás”.
Receber as cinzas é reafirmar a conversão cristã e reforçar o compromisso de seguir o Cristo padecente, crucificado e ressuscitado. Portanto, dedicar-se mais tempo à oração, mais atenção na escuta da Palavra de Deus, e abraçar renúncias pessoais livres, em vista do autodomínio sobre as más inclinações. A Quaresma começa com as cinzas, imagem da morte e do nada, mas produz vida.
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