Querido Dom Orlando, eu saúdo hoje ao Senhor, trazendo todo o carinho do povo de Roraima com a nossa Mãe Aparecida. A maior festa que temos em nossa Diocese é a Romaria de Nossa Senhora Aparecida. Neste ano, percorreram três imagens em todo o estado, passando todas as nossas comunidades.
Uma alegria estar nesse Santuário de tanta fé. Saúdo ao nosso querido padre Eduardo, reitor deste Santuário que alimenta a fé do nosso povo brasileiro. Saúdo Dom Ubiratan, franciscano como eu. Todos os meus confrades que estão aqui presentes.
Em nome do Provincial, Redentorista, saúdo todos os Redentoristas e demais pares presentes nessa na vida religiosa.
Todos os peregrinos e peregrinas que acorrem com fé e esperança a este Santuário e aqueles que nos acompanham pela TV e Rádio Aparecida. Queria inicialmente situar de onde eu venho: Diocese de Roraima, no extremo norte do país, faz fronteira com Venezuela e com a Guiana.
Desde 2018, a nossa Diocese vem acolhendo um fluxo migratório muito grande e com a caridade do povo de Deus de muitos lugares, já foi possível distribuir mais de um milhão de refeições para quem chega de outros países e vem buscar uma vida digna como o Senhor quer para todos. Também uma Diocese que tem uma grande aliança com os povos indígenas. Desde os tempos mais remotos, essa Diocese que já tem 300 anos, Diocese não, mas como Igreja, como anúncio do Evangelho, 300 anos vem fazendo essa aliança do cuidado com os povos indígenas, com a demarcação dos seus territórios e a defesa da vida de todo o povo, especialmente os mais vulneráveis.
Dom Orlando e Padre Eduardo me convidaram para este dia, 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, me convidaram para vir da Amazônia para refletir o tema: “Com Maria cuidar da vida em toda a criação”. Vamos repetir? Com Maria cuidar da vida em toda a criação. E suspeito que eles me convidaram porque eu sou franciscano e porque vivo na Amazônia.
Então quero abordar esse tema com um olhar da Amazônia, tendo como inspiração São Francisco e a nossa padroeira, a Mãe do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Inicio por São Francisco. São Francisco viveu há 800 anos atrás, mas a sua mensagem ressoa por todos os cantos da Terra com uma urgência profética em nossos dias.
Ele contemplava, contemplava cada uma das criaturas e a todos chamava de irmãos e de irmãs. O irmão sol que clareia o dia, a irmã lua e as estrelas belas e esplendorosas. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, pelo irmão vento. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as criaturas. Louvado sejas pela irmã e mãe Terra. Ela como mãe nos garante o sustento.
Francisco, irmão universal. Ele conversava com o irmão lobo, conversava com os pássaros. Francisco nos torna pessoas melhores, numa harmonia com Deus, uma harmonia com o próximo, numa harmonia com todos os seres criados por Deus.
Qual é o segredo de Francisco? O seu segredo é a sensibilidade com o cuidado. Cuidado especialmente com os pobres, cuidado com os pobres e cuidado com toda a criação de Deus. O Papa Francisco, quando ele toma o nome do “poverello” de Assis, chamando-se Francisco, quis recordar dessa vocação fundamental de todo o ser humano.
O cuidado da criação e o cuidado com os pobres, com os marginalizados, com os vulneráveis. Na espiritualidade cristã, irmãos e irmãs, nunca se pode separar o cuidado dos pobres com o cuidado de toda a criação.
Na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que neste ano nós comemoramos 10 anos, Francisco dizia: não há duas crises neste momento da história no planeta Terra. Não há uma crise ambiental separada de uma crise social, crise ambiental com essas destruições que nós acompanhamos, a poluição, a devastação das florestas, a contaminação com mercúrio do garimpo nos nossos rios, a destruição da biodiversidade e a crise social, a fome que aumenta no mundo, as guerras, as violências, o aumento cada vez maior da falta de moradia, falta de condições de trabalho. Papa Francisco dizia: não são duas crises. Há uma única, uma única crise que é a socioambiental, provocada por um modelo de economia, de sociedade, da ganância, do lucro, do poder.
As grandes vítimas desta mentalidade no mundo sempre são os mais pobres, sempre mais pobres. A Campanha da Fraternidade que nós celebramos neste ano nos convoca a refletir a fraternidade e a ecologia integral. O lema: “Deus viu que tudo é muito bom”, da leitura que nós ouvimos hoje do Gênesis.
Deus criou o céu e a terra, criou todas as coisas e, ao final, o homem e a mulher e disse: “Tudo está muito bom”. Tudo que Deus criou é bom, é ótimo, é perfeito, é excelente, não há como aperfeiçoar a criação de Deus. E como São Francisco, nós somos agora convidados a contemplar a bondade da criação, a beleza da criação e a reconhecer que tudo que Deus criou é bom, é muito bom.
Mas não é isso que nós vemos quando olhamos para os lados. Destruição, guerras, violências, fome, pessoas expulsas de suas casas. Por isso essa contemplação da bondade da criação não pode ser uma contemplação passiva como quem fica de braços cruzados, a ecologia integral exige que cuidemos ao mesmo tempo do meio ambiente e que o cuidemos da justiça social.
É urgente defendermos a biodiversidade, a dignidade humana que protegemos, que protejamos as florestas e os direitos dos povos que nelas habitam como os povos das cidades, os povos do interior do nosso país.
Eu queria só recordar um fato, que São Francisco se converteu ao evangelho no momento em que, em Assis, diante do bispo ele se despojou, despiu-se das suas segurança e das suas vestes. Hoje, a Igreja nos chama a uma conversão semelhante de espírito, da nossa mentalidade antiga, de uma vida consumista. A converter-nos a nossa indiferença de espírito diante do sofrimento humano e a nossa insensibilidade, do sofrimento dos pobres e da nossa complicitade com todos os sistemas que destruem a vida.
Eu peço a vocês olharem um pouquinho para trás, não para trás fisicamente, mas na história. Lembrem a vida dos nossos pais. Era uma vida mais simples, sem o consumismo desenfriado que nós temos em nossos dias.
Era uma vida mais sóbria. E o Papa Francisco diz nós não temos a possibilidade de continuar nesse desenvolvimento desenfriado explorando a mãe terra porque ela é finita. A solução é uma vida de sobriedade responsável e feliz.
Mas eu queria agora que todos nós voltássemos os nossos olhares e contemplássemos Maria, nossa mãe. Contemplar nela o seu exemplo de fé, o seu exemplo de humildade, do cuidado, da partilha, do serviço e do amor ao próximo. Em primeiro lugar, irmãos e irmãs, contemplamos os evangelhos e vejamos Maria, Maria como uma pessoa de fé generosa, humildade e acolhedora com a vontade de Deus.
Diante do Anjo que traz a mensagem de Deus, Maria com grande fé e humildade não hesita: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra”. Vamos repetir, como Maria: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra”.
Ela, Maria, como a fé generosa, um coração aberto entrega-se a vontade de Deus. A mentalidade contrária a de Maria é daqueles que só pensam em si mesmos, em tudo que é em benefícios, em tudo que é em lucro.
Para esses tudo, irmãos e irmãs, é negociável. Nessa mentalidade não há limites, não há fronteiras, não há escrúpulos, não há lei nem ética. Assim, irmãos e irmãs, é a economia predatória que muitos tentam impor no Brasil e no mundo.
Não se poupa a natureza criada por Deus, nem se poupa o ser humano. A exploração sexual, o trabalho escravo, o tráfico de pessoas entram na lógica de lucrar em cima de tudo. Inclusive, lucrar em cima das pessoas, tudo gera lucro.
É bom nós nos examinarmos. Nós estamos nos deixando corromper por esse fermento da maldade. Muitas vezes esse sentimento começa com a pergunta o que é que eu vou ganhar com isso? Maria nos ensina a gratuidade, nos ensina a generosidade, Maria nos ensina a doação sem limites.
Em segundo lugar, irmãos, contemplemos a figura de Maria, imaginemos ela no lar de Nazaré, com Maria e José. Maria cuidava da sua casa em Nazaré, educava Jesus, demonstrava a importância de zelar pelos bens que nos são confiados. Como uma Mãe que cura de um filho, Maria nos ensina a cuidar de todos os dons, de todos os bens que Deus nos confiou, que Deus nos presenteou, são dádivas de Deus.
Não podemos usar como se fossem recursos a ser explorados para aumentar a riqueza de alguns e a miséria da maioria. Assim faz o garimpo ilegal na Amazônia, enriquece alguns donos de empresas, a custa de exploração do trabalho escravo da contaminação dos rios. Hoje, todos nós na Amazônia estamos contaminados por mercúrio, porque o garimpo deixa o mercúrio nos rios, que se apega às plantas, os peixes pequenos comem aquelas pequenas plantas do rio e os peixes grandes comem os peixes pequenos e nós comemos os peixes grandes.
Certamente daqui a algum tempo vocês virão cenas de indígenas andando de cadeira de rodas no meio da floresta. O mercúrio vai fazendo perder a cognição e os movimentos. É sério o problema do modelo predatório na Amazônia.
A miséria aumenta e aqueles que bebem as águas que estão envenenadas, adoecem especialmente os povos indígenas. Eu morei no Marajó, fui bispo lá por mais de seis anos. A maior fonte de água potável do mundo, os ribeirinhos, não tem água potável na sua casa.
Bebem a água contaminada que produz muitas doenças. Em terceiro lugar, irmãos e irmãs, eu convido vocês todos e a mim para olhar, contemplar, para contemplar o olhar de ternura e esperança de Maria. Veja as imagens. Contemplem as imagens de Nossa Senhora. Contemplem a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Contemplem a imagem da Mãe olhando com o carinho para o seu Filho.
Maria olhando para Jesus. Ela nos inspira a uma visão de ternura pela beleza da criação e todas as pessoas de boa vontade devem aprender com ela esse olhar cuidadoso com todos e com tudo. Há um líder indígena famoso na Amazônia, Davi Kopenawa Yanomami, ele recorda a Terra não tem outra irmã. Se nós destruímos a Terra não teremos mais onde morar. Não teremos mais onde viver.
Maria nos ensina a cuidar e a proteger as águas, o ar que respiramos, as florestas e as flores dos nossos quintais e das praças das cidades. Quero apenas concluir recordando que no dia 4 de outubro, hoje, nós chegamos à culminância do período anual de oração chamado Tempo da Criação. Iniciado no dia 1º de setembro, um dia de oração pela criação e este tempo nos convoca a sermos todos nós guardiões da casa comum promovendo o respeito a justiça socioambiental e a responsabilidade pelo planeta e pelos seus habitantes especialmente os mais pobres e os mais vulneráveis.
Comecemos irmãos e irmãs pelas coisas pequenas. São Francisco dizia: “irmãos, comecemos porque até agora pouco ou nada fizemos. Quem for fiel no pouco também será fiel no mundo”.
Deus nos abençoe a todos nós e Nossa Senhora Aparecida proteja o nosso povo, a nossa terra, a nossa casa comum. Assim seja. Amém.
Fonte: Dom Evaristo Pascoal Spengler
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