Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 29 OUT 2019 - 11H18

Igreja na Idade Moderna: Fatores que impulsionaram a Reforma Protestante

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA
História Moderna – 01 

Em se comemorou os 500 anos da Reforma Protestante, movimento iniciado por Martinho Lutero e seguido por outros reformadores. A data foi comemorada a partir da publicação das 95 teses de Lutero, o que corrobora esse movimento de contestação à Igreja Católica, que não surgiu do nada, sendo originado a partir de uma série de fatores.

Numa nova série de artigos, acompanharemos o início, o desdobramento da Reforma Protestante, com as consequências que são sentidas até os dias de hoje.

Martinho Lutero afixa suas teses
Martinho Lutero publica as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha, no dia 31 de outubro de 1517. 

Um mundo em mutação

No início do século XVI, a mudança na mentalidade ou na ideologia que sustentava as sociedades europeias repercutiu também no campo religioso. A Igreja, tão onipresente na Europa medieval passou a ser duramente criticada. A crítica mais feroz dizia que a instituição católica estava em descompasso com as transformações de seu tempo. Por exemplo, a Igreja condenava o luxo excessivo e a usura, mas parte do clero vivia no luxo e na vida mundana. Além disso, algumas questões propriamente religiosas colocavam a Igreja como alvo da crítica da sociedade: A corrupção do alto clero, a ignorância religiosa dos padres comuns, também chamados de Baixo Clero e os novos estudos teológicos.

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As graves críticas à Igreja já não permitiam apenas consertar internamente a casa. As insatisfações acumularam-se de tal maneira que desencadearam um movimento de ruptura na unidade cristã: a Reforma Protestante. Assim, a Reforma foi motivada por um complexo de causas que ultrapassaram os limites da mera contestação religiosa.

Vejamos detalhadamente algumas delas. 

Novas interpretações da Bíblia

Com a difusão da imprensa, aumentou o número de exemplares da Bíblia disponíveis aos estudiosos e a Bíblia foi colocada nas mãos do povo. Um clima de reflexão crítica e de inquietação espiritual espalhou-se entre os cristãos europeus. Surgiu, assim, uma nova vontade individual de entender as verdades divinas com mais liberdade para a leitura e interpretação das Sagradas Escrituras.

Desse novo espírito de interiorização da religião, que levou ao livre exame das Escrituras, nasceram diferentes interpretações da doutrina cristã. Nesse sentido, podemos citar, por exemplo, uma corrente religiosa que, apoiada na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação do homem seria alcançada somente pela fé. Essas ideias opunham-se à posição oficial da Igreja, baseada em Santo Tomás de Aquino, pela qual a salvação do homem era alcançada pela fé e pelas boas obras.

Foto: Reprodução
Imprensa na Idade Moderna
A tipografia permitiu que os textos, antes manuscritos, fossem impressos a partir da elaboração dos tipos. Com isso cresceu a difusão dos textos das Sagradas Escrituras. 

Corrupção do Clero

A Igreja é santa, porque vem de Deus, mas é também pecadora, pois é formada por seres humanos falhos e fracos. Analisando o comportamento do clero, diversos cristãos passaram a condenar os abusos e a corrupção presente no meio dele.

O alto clero estabelecido em Roma e em outras cidades estimulava negócios envolvendo religião, praticando muitas vezes a simonia (compra e venda de bens espirituais) que daria origem ao comércio de relíquias, muitas de origem duvidosa, seja aquelas ligadas ao próprio Cristo como de supostos objetos pessoais dos santos ou de lugares considerados sagrados.

Além do comércio de relíquias, a Igreja passou a propor as indulgências. Mediante certa contribuição destinada a financiar algumas obras da Igreja, os fiéis poderiam "comprar" a sua salvação ou obter outros favores espirituais. No plano moral, membros da Igreja também eram objeto de críticas. Multiplicavam-se casos de infidelidade ao celibato, casos de vícios graves ou ainda casos de bispos que vendiam os sacramentos, acumulando riquezas pessoais. Esse mau comportamento do clero representava sério problema ético-religioso, e o fato dos sacerdotes serem os intermediários entre os homens e Deus. 

Nova ética religiosa

A Igreja católica, durante o período medieval, condenava o lucro excessivo (a usura) e defendia o preço justo. Essa moral econômica entrou em choque com a ganância da burguesia. Naquele tempo o sistema capitalista baseado no comércio estava em franco desenvolvimento e as cidades que haviam perdido população voltavam a se encher.

Grande número de comerciantes não se sentia à vontade em tirar o lucro máximo nos negócios, pois temiam a condenação da Igreja. Os defensores dos grandes lucros econômicos necessitavam de uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista comercial. Essa necessidade da burguesia foi atendida, em grande parte, pela ética protestante, que surgiu com a Reforma.

Mapa da expansão do Movimento Protestante
Expansão do Movimento Protestante da Reforma. 

Sentimento nacionalista

Com o fortalecimento das monarquias nacionais dos Estados Modernos os reis passaram a encarar a Igreja, que tinha sede em Roma e utilizava o latim, como entidade estrangeira que interferia em seus países. A influência da Igreja como instituição passou a ser combatida a todo custo.

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A Igreja, por seu lado, por causa da Lei das Duas Espadas, insistia em se apresentar como instituição universal que unia o mundo cristão. Essa noção de universalidade, entretanto, perdia força à medida que crescia o sentimento nacionalista. Cada Estado, com sua língua, seu povo, sua cultura e suas tradições, estava mais interessado em afirmar as diferenças do que as semelhanças em relação a outros estados.

A Reforma Protestante vai corresponder a esses interesses nacionalistas e por isso o movimento que era de caráter religioso passa a ser explorado pelos reis e príncipes sequiosos de se libertar da tutela da Igreja. A doutrina cristã dos reformadores, por exemplo, passou a ser divulgada na língua nacional de cada país e não mais em latim, o idioma oficial da Igreja católica.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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