Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 27 MAR 2019 - 11H00

Os Precursores da Reforma: John Wyclif e Jan Huss

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA

História Moderna – 04

Há 500 anos, precisamente em 1517, surgiu em várias partes da Europa, sobretudo, na região mais ao norte um movimento de contestação à Igreja Católica que os historiadores chamam de Reforma Protestante. Este movimento surgiu com o caráter inicial de buscar a reforma da Igreja, diante de uma série de erros e abusos que aconteciam, sobretudo, no episcopado e no alto clero.

O grande problema é que o movimento que foi encabeçado pelo frei agostiniano Martinho Lutero passou a ser explorado politicamente pelos reis e príncipes que desejavam se ver livres da influência da Igreja, se desvirtuando completamente. Como a Igreja Católica era uma instituição de caráter universal, os Estados Modernos que se fortaleciam não aceitavam mais um poder concorrente vindo de fora.

Este movimento que tem em Martinho Lutero, em Calvino e em Zuinglio seus principais expoentes não surgiu de repente, mas foi fruto de um processo que já vinha acontecendo. Pena que a Igreja enquanto instituição não percebeu a ameaça ou não deu a importância devida para o movimento reformista.

Martinho Lutero é o principal nome associado à Reforma Protestante do século XVI. Entretanto, partes consideráveis de suas ideias reformadoras vieram da inspiração de outros homens que haviam criticado a Igreja católica décadas antes do frade alemão.

 John Wycliff

Na Inglaterra, no final do século XIV, o padre e teólogo John Wycliff apresentou uma série de críticas às doutrinas católicas que iriam inspirar Martinho Lutero mais de um século depois. Dentre elas estavam a afirmação de que a salvação era conseguida através da fé em Deus, bem como o posicionamento contrário à venda de indulgências bastante praticada na época.

Seguindo esse posicionamento, John Wycliff se colocou também contra a doutrina católica que afirmava que com a realização de “boas obras” (como doações à igreja) se poderia conseguir a salvação eterna. Essas posturas influenciaram diretamente Martinho Lutero na elaboração de suas 95 Teses afixadas mais tarde na porta da igreja de Wittenberg.

Jan (João)

Ele também foi outra importante fonte de inspiração para Lutero. Jan (João) Huss defendia, assim como Wyclif antes dele e Lutero posteriormente, a autoridade das Sagradas Escrituras sobre a tradição da Igreja Católica e sobre a palavra do papa que era a palavra do magistério da Igreja. Esse posicionamento afrontava o poder do papa e abria caminho para que os fiéis pudessem ler e interpretar a bíblia conforme sua própria inspiração.

As consequências disso no plano temporal foram a ampliação da alfabetização para um número maior de pessoas, pois anteriormente apenas os membros do clero sabiam ler a bíblia e expressar a interpretação dos textos sagrados aos fiéis.

Outro ponto comum aos três reformadores foi a crítica à riqueza e ao luxo ostentados por membros da Igreja católica. Para os três reformadores, a Igreja deveria seguir aquele que teria sido um dos primeiros ensinamentos de Cristo, mantendo uma Igreja pobre, preocupada com os negócios da fé e não com o acúmulo material.

Fermentação de ideias e contestação

O posicionamento desses três reformadores serviu para embalar alguns conflitos sociais que cresciam no meio dos camponeses entre o século XIV e XVI. As questões religiosas no período passaram a tomar uma conformação de crítica prática, por parte do campesinato, ao poderio econômico, político e militar detido pela aristocracia.

trabalho camponês

A intensificação das obrigações servis, ampliando a exploração dos camponeses, levou à eclosão das Revoltas sociais entre o fim da Idade Média e início da Idade Moderna.

A diferença é que Martinho Lutero se colocou contra as rebeliões, condenando as ações camponesas, ao passo que John Wycliff e Jan Huss as apoiaram e/ou as influenciaram.

Por fim, é necessário frisar que nesse período histórico, entre o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, as divergências religiosas tomaram um caráter de conflito social pelo fato de o poder religioso constituir a base do poder econômico. E a Igreja estava aliada com a aristocracia que era a classe dominante da sociedade

Sendo a Igreja católica a maior proprietária de terras da Europa, bem como a posição social da aristocracia ser fundamentada por uma suposta vontade divina, as lutas dos camponeses e demais classes populares contra a exploração acabava atingindo os conceitos religiosos que justificavam ideologicamente a situação social. Esses conflitos levariam à diminuição da influência da Igreja Católica, com o início de um novo período histórico marcado pela força dos capitalistas.

Para John Wycliff a Igreja deveria retornar à simplicidade de suas origens, renunciando ao luxo e à riqueza. Ele ainda pensava que qualquer pessoa fosse capaz de compreender a Palavra de Deus por conta própria, sem a necessidade de intermediários, desde que dispusesse de meios para conhecer a Palavra. Por causa disso, Wyclif traduziu os evangelhos para a língua inglesa quando a língua oficial era o latim.

A Igreja católica entendia que apenas através de seus ensinamentos e de seus preceitos morais o fiel poderia chegar à Deus. Wycliff (que morreu em 1384) foi postumamente declarado herege pelo Concílio de Constança e teve seu corpo exumado e queimado em 1428.

Na região da Boêmia (atual República Tcheca) Jan Huss, baseado nas ideias de Wycliff, entrou em choque com a Igreja, também sendo considerado herege em Constança. Ele também foi queimado na fogueira em 1415; sua morte deu origem a uma guerra entre seus seguidores chamados Hussitas, e a Igreja, resultando em uma cruzada contra os Hussitas, assim como no passado já havia acontecido uma cruzada contra os albigenses.

:: O Fortalecimento dos Estados Modernos

Colunista padre Inácio

 

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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