Uma amiga partilhou comigo uma visão do matrimônio e da família. No contexto, ela estava explicando seu caminho de discernimento vocacional. Ela, que na época ainda estava namorando, falou que a visão que tinha do matrimônio era a de um trabalho em equipe. A união com o futuro esposo faria com que a complementaridade fosse em favor de cada um, e deles como casal. Dinâmica que aumentaria ainda mais com o nascimento dos filhos. Ela se via assim, formando essa equipe, caminhando unida ao seu marido.

Pois bem, como entender o projeto de Deus para a família?

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Seguindo a imagem desta amiga, acredito que Deus está totalmente a nosso favor quando se trata de vivenciarmos nossa vocação. Ainda mais numa vocação tão especial como a da família, que gera relacionamentos duradouros e profundos: “vida conjugal, paternidade-maternidade, filiação, fraternidade”.

Claro, um cristão poderia dizer que não tem nada de novo afirmar que Deus está a seu favor, mas às vezes esta percepção foge ao nos defrontarmos com os desafios e dificuldades da vida. Chegamos a sentir que Deus concorre conosco, ou que chega a estar contra nós.

Vejamos o que ensina um grande mestre sobre o amor familiar. Na Carta Familiaris Consortio (nº 1), São João Paulo II explicita como:

“consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda [...] a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família. Na sua realidade mais profunda, o amor é essencialmente dom e o amor conjugal, enquanto conduz os esposos ao ‘conhecimento’ recíproco que os torna ‘uma só carne’, não se esgota no interior do próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se tornam cooperadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana” (FC, 14).

Amor entendido como dom. Amor conjugal como caminho de conhecimento recíproco que leva à união. Projeção da doação mútua colaborando na obra criadora de Deus. Estas ideias são muito ricas. Não vale a pena agora comentá-las, simplesmente convido a relê-las (isso mesmo, recomendo voltar a ler com calma o parágrafo anterior!).

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E continua, "o matrimônio e a família dos cristãos edificam a Igreja: na família, de fato, a pessoa humana não só é gerada e progressivamente introduzida, mediante a educação, na comunidade humana, mas mediante a regeneração do batismo e a educação na fé, é introduzida também na família de Deus, que é a Igreja" (FC, 15).

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Eis, na minha opinião, o projeto de Deus para a família: cooperação mútua que expressa uma doação incondicional, assim como a responsabilidade de ser – também – cooperadores de Deus na sua obra criadora (conformando a comunidade humana) e reconciliadora (dando à luz para a vida divina, pelo Batismo e pela iniciação cristã como um todo).

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