Brasil

A proliferação das Fake News e a agressão à verdade!

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

09 MAI 2023 - 08H19 (Atualizada em 09 MAI 2023 - 10H20)

panuwat phimpha/ Shutterstock

“O drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade”. (Papa Francisco)

A proliferação das fake news é um dos maiores problemas da sociedade mundial atual. E no Brasil não é diferente. Não é de hoje que mentiras são divulgadas como verdades. Entretanto, o advento das redes sociais possibilitou que esse tipo de publicação se popularizasse devido à velocidade com que as informações podem circular. Leia MaisOuçamos a CNBB sobre os perigos da manipulação religiosa e fake newsTradição: passar adiante a Boa Notícia, combatendo as fake news

É de se notar que, em razão disso, como afirma o teólogo moral Pe. Rogerio Gomes “a verdade atravessa uma profunda crise na sociedade Pós-Moderna”.

Quando começou

A imprensa internacional começou a usar com mais frequência o termo fake news durante a campanha eleitoral de 2016, nos Estados Unidos, no final da qual Donald Trump foi eleito presidente.

A exemplo do que aconteceu nas terras do Tio Sam, aqui no Brasil a penúltima campanha eleitoral e o governo que se seguiu foram um tempo de forte e vasta veiculação falsas informações, com grupos organizados e patrocinados especificamente com esta finalidade.

O termo inglês fake news é usado para referir-se a falsas informações divulgadas nas mais distintas plataformas de comunicação, principalmente em redes sociais.

Elas são notícias falsas, mas são publicadas como se fossem informações reais e verdadeiras. Esse tipo de conteúdo, na maior parte, é feito e divulgado com o objetivo de legitimar um ponto de vista ou prejudicar uma pessoa ou grupo, quase sempre figuras públicas.

O poder das Fake News

As fake news têm um poder viral, se espalhando rapidamente, porque as falsas informações apelam para o emocional de quem as recebe, fazendo com que as pessoas consumam o material noticioso sem confirmar se o seu conteúdo é verdadeiro ou não. As pessoas não tem o hábito de checar a origem e a motivação das informações.

O poder de persuasão das fake news é maior e mais incisivo em populações com menor índice de escolaridade ou que dependem mais das redes sociais para obter informações. No entanto, podem também alcançar pessoas com um maior índice de escolaridade, já que o seu conteúdo está comumente ligado ao viés político ou religioso.

O poder das fake news é tão grande que elas podem interferir negativamente em vários setores da sociedade como política, religião saúde e segurança.

Segundo o moralista redentorista Pe. Marcio Fabri, “as fake news são um vírus da malícia humana, que se tornou epidemia pelos meios digitais de comunicação. Debilita opositores, agiliza conquistas, gera incrível renda aos donos dos meios. Contamina a verdade, a liberdade de expressão e as certezas. Por tantos interesses em jogo, é um vírus difícil de debelar. Mas não se pode desistir, pois disso depende a saúde da sociedade."

Projeto de lei

No início do mês de maio, foi apresentado no Senado Federal o chamado PL 2.630/2020, também denominado como Lei das Fake News. Esse projeto de lei, proposto pelo Senador Alessandro Vieira, do partido Cidadania de Sergipe, já está sendo definido como “Lei Brasileira de liberdade, responsabilidade e transparência na internet”, propondo mudanças no marco civil da internet, tendo entre outras a finalidade de responsabilizar as redes sociais que permitirem a difusão de ataques à democracia.

A lei foi aprovada pelo Senado, aguardando ainda a votação na Câmara Federal. Ela estabelece normas, diretrizes e mecanismos de transparência para provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privadas a fim de garantir mais segurança, liberdade de expressão, comunicação e manifestação do pensamento.

Conforme a explicação da proposta, a Lei das Fake News busca a aplicação de um programa de boas práticas, a partir de “medidas adequadas e proporcionais no combate ao comportamento inautêntico e na transparência sobre conteúdos pagos”.

O projeto é bem controverso e está gerando uma forte disputa no Congresso Nacional, especialmente com a ação dos grupos religiosos, e uma batalha direta entre o governo brasileiro e algumas empresas mundiais, como uma das “Big Techs”, o Google, uma das maiores companhias de tecnologia do mundo, acusada de abrigar grupos fornecedores de Fake News sem nenhum critério ou rigor. 

Questão moral e riscos

A mentira institucionalizada ou a sociedade da desinformação pedem a criação de uma legislação de internet, mesmo sabendo que ela tem o potencial de impactar a vida de milhões de brasileiros e de empresas todos os dias. Sendo assim, ela precisa ser feita de uma forma colaborativa e construtiva, com a adesão de entidades, instituições e veículos de comunicação, para não permitir que se tolha a liberdade de expressão, direito inalienável das pessoas.

Por outro lado, o Apóstolo Tiago já afirmava que “seremos julgados pela lei da Liberdade” (Tg 2,12). A partir dessa premissa, entendemos o estilo cristão de presença no mundo digital, como afirma Pe. Rogério Gomes, deve “se traduzir numa comunicação honesta e aberta, responsável, respeitadora do outro e verdadeira”.

O Catecismo da Igreja Católica é muito claro ao afirmar:

“Nada pode justificar o recurso às falsas informações para se manipular a opinião pública pelos meios de comunicação. Essas intervenções não ferirão a liberdade dos indivíduos e dos grupos” (n. 2498)

Assim, como comunicadores e como cristãos devemos aproveitar dos meios digitais e das redes sociais, que são os novos areópagos da atualidade, para uma comunicação fluída, não só de verdades de fé, mas também de valores da vida, sem fingimento, falsos moralismos e sim como adesão e compromisso com a verdade, cuja maior representação é o próprio Cristo que se propôs como “caminho, verdade e vida”!

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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