Brasil

Nossas Escolas clamam pela Paz e pelo Bem

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

27 MAI 2023 - 10H55 (Atualizada em 29 MAI 2023 - 10H35)

Monkey/Shutterstock

Vamos começar essa reflexão falando de espanto? Na verdade, mais do que falar, precisamos resgatar essa essencial condição da existência humana. No livro o Mundo se Sophia, de Jostein Gaarder, (p. 8) afirma que: 

“Por diversos motivos, a maior parte está presa de tal forma ao quotidiano que o espanto perante a vida é muito escasso”.

O espanto é a reação diante de uma situação inesperada, um fato que nos causa impacto emocional, por ser algo inexplicável. Pode ser uma situação específica e rara, ou mesmo a perpetuação de um comportamento ou condição, que se acomodou, como algo natural e comum ao cotidiano. Um exemplo, são as recorrentes ações de violência na escola.

“os ataques registrados desde 2002 aconteceram em 19 escolas públicas, entre estaduais e municipais, e em quatro particulares e “contabilizou 23 registros de ataques com violência extrema em escolas no Brasil nos últimos 20 anos, entre 2002 e 2023.” Telma Vinha, Pesquisadora

Vidas ceifadas pela barbárie, além da imensa dor, causada às Famílias e a todos que almejam a Paz e o Bem. Desde o massacre da Escola Municipal Tasso Silveira, no bairro de Realengo, em 11 de abril de 2011, no Rio de Janeiro, quando 10 alunos foram mortos e inúmeros feridos, ataques têm sido recorrentes.

No primeiro semestre de 2023 o ataque aconteceu na E.E. Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, no dia 27 de março, que culminou na morte de uma Professora e mais 05 pessoas feridas, entre elas, 04 Professores e um aluno. Houve o massacre aterrorizante, na Creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, em Santa Catarina, com a morte de 04 pequeninos. Também aconteceu, em 11 de abril, no Colégio Estadual Doutor Marco Aurélio, em Santa Tereza, Goiás, quando dois estudantes e uma professora foram feridos. Além desses, houve a descoberta, pela Polícia, de planejamento de ataque de uma Escola na Cidade de Maquiné em Rio Grande do Sul.

Em 2022, no dia 25 de novembro, em Aracruz, no Espírito Santo, duas escolas atacadas: Estadual Primo Bitti e o Centro Educacional Praia de Coqueiral, com três mortos e 12 feridos. No mesmo ano, em 05 de outubro, a Escola Carmosina Ferreira Gomes, no bairro Sumaré, em Sobral, Ceará, três estudantes são baleados. Em Ipaussu, no interior de São Paulo, em 15 de dezembro, a Escola Estadual Júlio Mastrodomênico a vice-diretora e uma professora foram esfaqueadas e um professor foi feito refém. Em 2019; no dia 13 de março, a Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo, foi atacada e houve 08 mortes, entre 05 alunos, 02 Professores e um morador.

Antes de nos espantarmos com as barbáries, ataques aterrorizantes às escolas, dentre outros, precisamos refletir sobre os espantos corriqueiros que devemos ter. O perigo da naturalização e da banalização de fatos, situações e comportamentos rotineiros, que causam "anestesiamento", nos jogam na insensibilidade do não perceber, de não reagir e de naturalizar, o que não deve ser naturalizado.

De repente, somos surpreendidos, quando os fatos extrapolam. Mas que espantos cotidianos são esses, que podem ser antídotos contra as barbáries? Vamos tentar responder essa indagação a partir de outras indagações:

A ausência do diálogo na família tem nos espantado? Os ataques aos valores Cristãos têm nos espantado? A substituição dos grandes influenciadores de nossas vidas: mães, pais, avô e avó, padrinhos e madrinhas, Professores, Padres, dentre outros, por influenciadores digitais e presenciais que, muitas vezes, influenciam na contramão dos valores, têm nos espantado?

A galopante escalada da relativização dos códigos morais, têm nos espantado? A investida desenfreada, do mal contra o bem, tem nos espantado? A dominação e a sujeição do bom pelo mau, tem nos espantado? A fragilização das relações humanas tem nos espantado? A negação à solidariedade tem nos espantado? A sexualização e "adultização" da infância, promovida por muitas músicas, danças, vídeos, “brincadeiras” e demais vias, tem nos espantado?

A banalização do sexo e a promoção da sensualidade apelativa, nos marketings das propagandas, programas de TV e nas mídias sociais, tem nos espantado? A corrupção endêmica que tomou conta de nosso país, tem nos espantado? O apogeu da impunidade e da permissividade, tem nos espantado? A perseguição aos Cristãos, tem nos espantado? A naturalização da ideia de que não existe verdade absoluta, tem nos espantado? Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, nos alerta:

"Com quem te identificas? É uma pergunta sem rodeios, direta e determinante: a qual deles te assemelhas? Precisamos de reconhecer a tentação que nos cerca de se desinteressar dos outros, especialmente dos mais frágeis. Digamos que crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem diretamente em cima". (64)

São muitas interrogações e nelas residem a possibilidade de implementação de uma sociedade mais fraterna. São interrogações que alertam para os espantos corriqueiros, que podem nos salvar do espanto com as barbáries. Se elas desaparecerem da vivência humana, certamente, as estruturas serão corroídas, e somente nos espantaremos quando desabarem. O processo de formação humana é longo, árduo e exige de nós toda atenção e empenho. Estamos vivendo tempos difíceis de extrema inconsistência, vulnerabilidade, liquidez. Ensina Papa Bento XVI na Carta à Diocese e a Cidade de Roma sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações:

Educar nunca foi fácil, e hoje parece tornar-se sempre mais difícil. Sabem-no bem os pais, os professores, os sacerdotes e todos os que desempenham responsabilidades educativas diretas. Fala-se por isso de uma grande "emergência educativa", confirmada pelos insucessos com os quais com muita frequência se confrontam os nossos esforços para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar um sentido à própria vida”.

É preocupante o ataque aos valores oriundos da Verdade. Assistimos ao acelerado recrutamento promovido pelas “verdades ilusórias”, que parecem tomar conta de todos os espaços, arrebanhando imitadores e, consequentemente, promotores das mesmas. Podemos dizer que são as “novas arenas” e “novos leões”, que devem ser enfrentados pelos seguidores da Verdade. Urge educar para a Imitação do Bem, para imitação do Bom, imitação das Virtudes.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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