Por Mariana Mascarenhas - Redação A12 Em Brasil Atualizada em 10 JUL 2018 - 08H21

O caos imperante no bolso do cidadão brasileiro


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Passado mais de um mês que a greve dos caminhoneiros paralisou o Brasil, o caos nacional, que aparenta ter cessado, continua a imperar na política e na economia do país. Iniciada numa segunda-feira, no dia 21 de maio de 2018, a greve atingiu os 25 estados brasileiros mais o Distrito Federal. A paralisação foi uma forma de manifestação contra a elevação acumulada de 21,5% do diesel desde julho de 2017, diante de uma inflação de apenas 2,76% nos últimos 12 meses, segundo IPCA.

No terceiro dia de paralisação, o caos já se instalara com o quase esgotamento dos estoques de combustível em diversos estados, estradas interditadas, preços ainda mais altos etc. Os resquícios da greve se prolongaram durante dias, mesmo após seu término, já que o combustível não chegou a todas as regiões do país no mesmo período.

Diante da confusão gerada, o então presidente da Petrobrás, Pedro Parente, anunciou uma redução de 10% no diesel, mas apenas por 15 dias, porém os caminhoneiros não estavam interessados em melhoras temporárias. O governo então prometeu reduzir, por 60 dias, em R$ 0,46 o preço do diesel, extinguir os reajustes diários e tornar mensal a revisão de preços. Para arcar com o prejuízo de 5 bilhões até dezembro, o Planalto afirmou que recorrerá à União.

O aumento do preço do diesel, num cenário de alta do dólar e do preço do barril do petróleo, é fruto de uma política de reajuste de preços da Petrobrás que acontece desde julho de 2017. Concretizada por Pedro Parente, a política determinou que os preços de derivados do petróleo comercializados pela estatal poderiam acompanhar diariamente as mudanças internacionais da cotação do óleo cru. O governo viu em tal medida uma forma de voltar a valorizar a Petrobrás, retaliando a política adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff de controle de preços para subsídio dos combustíveis.

Leia MaisMoradias irregulares e o olhar do poder públicoDados da crise de saúde no BrasilEnquanto se discute política, a economia segue a patinarSe a política de contenção de preços adotada por Dilma não foi a melhor solução para a manutenção do equilíbrio econômico, promover reajustes diários tampouco será. Em uma entrevista publicada com Jean-Paul Prates, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, ele explica como tal medida extrema não faz parte da cultura política daqui. “É como se quisessem fazer tudo de modo completamente oposto ao governo anterior. Mas o Brasil nunca teve essa cultura de reajustes em tempo real. A política anterior não era só da Dilma, ela vinha desde a década de 1950, passando pela ditadura e abertura democrática. Todos os governos praticaram algum tipo de administração na tarifa. Não se pode pular assim para outro extremo.”

Ele também citou o exemplo de países como os EUA e a Alemanha que contam com reservas estratégicas de petróleo, contrariando a visão errônea de que países desenvolvidos adotam a política de preços flutuantes para estimular a competitividade. Os EUA, por exemplo, possuem 500 milhões de barris de reserva estratégica para o caso de um aumento inesperado ou de desastres naturais. Prates não é a favor do congelamento de preços, mas defende a implementação de um imposto de amortização para tempos de alta.

A Federação Única dos Petroleiros apontou Pedro Parente como principal responsável pela atual crise, devido à mudança na política de preços, que resultou numa redução da carga de refino do país. Segundo a federação, o refino está sendo operado em 70% de sua capacidade. Assim, optou-se por exportar o petróleo cru, refiná-lo no exterior e importá-lo a preços mais elevados. Medida que, diante da elevação do preço do barril e do dólar, tende a agradar apenas a um pequeno grupo de investidores – com o aumento do caixa da estatal – e a oferecer sérios prejuízos para a população brasileira, por refletir no aumento dos preços dos produtos e serviços, já que o custo para o transporte será maior.

Num país considerado como um dos maiores produtores de petróleo do mundo e como o maior da América Latina, este é apenas mais um cenário fomentador da desigualdade social em que poucos se beneficiam financeiramente. O caos instalado pela greve terminou, mas, e quanto ao caos gerado no bolso da população por políticas desestruturadas que parecem não cessar nunca?


Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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