Brasil

O poder dos grupos paralelos ao estado

Milícias agem em muitos bairros das grandes cidades

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

25 OUT 2023 - 11H10 (Atualizada em 25 OUT 2023 - 12H30)

Marharyta Kuzminova/ Shutterstock

As primeiras favelas brasileiras começaram a surgir no final do século XIX, após a abolição da escravatura (1888), quando os escravos recém-libertados foram segregados da população branca. Sem outra alternativa muitos foram morar em zonas de risco próximas aos morros, córregos e outros terrenos pouco apropriados.  Leia MaisTrabalho escravo aumenta no Brasil e no mundo

O nome favela é oriundo de uma planta típica da Caatinga brasileira, passando a ser utilizado para se referir aos conjuntos de casas populares informais quando os soldados que haviam lutado contra Canudos (BA) retornaram para o sul e, sem receber aquilo que lhes fora prometido, não tiveram outro caminho senão engrossar o número dos que já habitavam em condições precárias.

As favelas cresceram muito no Brasil, sobretudo, a partir da década de 1920, quando o processo de industrialização se acelerou fazendo aumentar o número de pessoas que, saindo da zona rural, buscavam as grandes cidades.

O estimulado movimento de migração interna também contribuiu para o crescimento desigual e para o enchimento dos bairros da periferia dos grandes núcleos urbanos e ainda hoje o pobre é levado cada vez para mais longe do centro das grandes cidades.

Consequências do processo de favelização das cidades

O processo de favelização que ocorre não só no Brasil, mas em quase todos os países periféricos, é fruto das desigualdades sociais nas cidades, com sua urbanização desordenada caracterizada pela elevada concentração populacional, pelas casas feitas com base na autoconstrução, chamadas popularmente de barracos, pela predominância da população de baixa renda e pelos empregos informais.

Hoje, mais de 17 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil e as maiores delas são a da Rocinha, no Rio de Janeiro, e a de Heliópolis, em São Paulo cuja população supera o total de muitas cidades.

O grande problema, além da discriminação de todos os tipos que seus moradores sofrem, é a completa ausência do estado que fez com que crescessem sobremaneira as milícias hoje espalhadas por quase todas as favelas e bairros da periferia.

Os primeiros grupos de milícias formados por policiais militares e outros agentes de segurança pública que se têm registro no Brasil, foram criados durante a ditadura militar (1964-1985). Sua formação tinha como justificativa o combate ao avanço do crime organizado e do tráfico de drogas nas grandes metrópoles, dando à população a segurança que o estado não podia lhes oferecer.

As milícias aos poucos foram se consolidando em vários lugares, mas ganharam força especialmente no Rio de Janeiro, da década de 2000, tornando-se quase que um poder paralelo, ou “um estado dentro de outro estado”.

Se no início as milícias surgiram para combater o crime organizado e o tráfico de drogas, aos poucos passaram a organizar inclusive a venda de drogas, prática que antes era proibida, e também se organizam obtendo seus recursos a partir de ampla gama de serviços como a cobrança pela segurança que proporcionam aos moradores, pela construção e venda de imóveis ou aluguel de pontos residenciais e comerciais.

Uma recente pesquisa revela que a milícia e o tráfico estão presentes em 96 dos 163 bairros da capital carioca e em outros 11 municípios da região metropolitana.

O grande desafio é que hoje a milícia está ligada diretamente ao poder, alguns de seus líderes se projetaram politicamente assumindo cargos nas estruturas de governo, elegendo-se para cargos majoritários para receberem a proteção que a lei oferece.

Volta e meia alguns episódios como o caso Marielle, a morte dos médicos no Rio de Janeiro e agora os distúrbios com a queima de ônibus chamam a atenção para o problema que parece sem solução, mesmo com a organização de ações policiais periódicas nas comunidades como por diversas vezes tem acontecido, mas passando a polícia a vida continua tal e qual com os seus percalços.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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