Por Joana Darc Venancio Em Brasil Atualizada em 18 SET 2018 - 14H57

O voto: Escolha da vida ou da morte?


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Votar é o pleno exercício da liberdade de escolha. Por ela, podemos impedir que nossa existência individual ou social seja um amontoado de fatalidades. Ao refletir sobre o direito de escolha, precisamos recorrer aos versículos do Livro do Deuteronômio: 

Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a Ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias, na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais. (Dt 30, 19-20)

A Sagrada Escritura é clara. Diante de nós, está a vida e a morte. O que escolheremos? Estamos perplexos com tantas barbáries em nosso país e, cada vez mais, repugnamos a política. No entanto, antes de consolidarmos definitivamente nosso horror aos políticos, precisamos fazer, com coragem e com profundo exame de consciência, uma interrogação: “Como eles se tornaram nossos representantes?” A resposta é simples e direta. O Brasil é um país republicano, e a definição de República é: forma de governo na qual o povo é soberano, governando o Estado por meio de representantes investidos nas suas funções em poderes distintos. O conceito de República vem do latim res publica, que significa "assunto público".

Votar é o pleno exercício da liberdade de escolha. Estamos diante de uma constatação dolorosa: nós, brasileiros, não temos sabido escolher. O processo democrático brasileiro não tem gerado políticas que cuidam e protegem plenamente à vida. A posteridade da cidadania brasileira tem sido ameaçada ao longo das décadas. Os votos, que deveriam ser transformados em bênçãos, em muitos casos têm se transformado em maldições, que fazem padecer milhões de irmãos. A corrupção endêmica, nas grandes esferas políticas e, infelizmente, também no cotidiano das vida de muitos brasileiros, não permite a longevidade. Por todos os lados, ouvimos os sussurros do sofrimento gerado pelas escolhas mal feitas na hora de votar.

Nos dias de votação, 1º e 2º turnos, testemunhamos a festa da democracia. Bandeiras tremulando por todos os lados, ruas com tapetes de propagandas, camisas estampadas com os mais variados candidatos e partidos e tantas outras manifestações. Algumas, inclusive, proibidas. São dias bonitos, não podemos negar! Nesses dois dias, residem a treva da morte e a luz da vida. Os dois caminhos aguardando a decisão do cidadão, para que um deles repercuta no cotidiano dos brasileiros as consequências de sua escolha.

Todos os sinais de morte que testemunhamos na política nacional têm ligação direta com o voto. Os escolhidos que compõem os Poderes Legislativo, Executivo e mesmo o Judiciário, são frutos da democracia, da res publica. Ao serem escolhidos pelo voto, muitos já não se lembram mais que devem estar a serviço do povo.

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Este ano, escolheremos o Presidente da República, os Senadores, Governadores, Deputados Estaduais e Deputados Federais. Esse grupo de eleitos ‘determinará’ o rumo dos brasileiros. Não podemos permitir que a política se transforme em algo repugnante. Aristóteles, em Ética a Nicômaco (2002. p. 40), afirma que: “a virtude é uma disposição de caráter relacionada com a escolha”. Tendo em vista esta afirmação do grande filósofo, é possível concluir que o cenário da política brasileira é fruto das ações dos “eleitos”, mas mais definitivamente dos “eleitores”.

A Igreja no Brasil tem divulgado muitas notas, cartilhas e vídeos orientando sobre a importância de votar. Neste momento onde “todos os gatos são pardos”, o cristão precisa pedir discernimento ao Espírito Santo, para compreender bem as diferenças de propostas de cada partido e candidato. Precisa vasculhar com muito cuidado tudo o que é contrário à vida e à dignidade humana.

Um exemplo disso é o aborto. A Igreja é clara em seu posicionamento, que é o de Jesus: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.

Portanto, se eu sou a favor de Jesus, não posso igualmente ser a favor do candidato ou de um partido 
Quando votamos em um candidato, não estamos somente escolhendo uma pessoa, mas um projeto de sociedade. que tem em suas propostas regimentais a defesa do aborto ou de qualquer outra proposta contrária ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja. Por isso, é importante conhecermos nossa fé, nossa doutrina, buscando as bases que nos sustentam: Sagradas Escrituras, Tradição, Magistério.

Quando votamos em um candidato, não estamos somente escolhendo uma pessoa, mas um projeto de sociedade.

Afirma o Catecismo da Igreja sobre os direitos que devem ser garantidos, inclusive o do nascituro:

No momento em que uma lei positiva priva uma categoria de seres humanos da proteção que a legislação civil lhes deve dar, o Estado nega a igualdade de todos perante a lei. Quando o Estado não coloca sua força a serviço dos direitos de todos os cidadãos, particularmente dos mais fracos, os próprios fundamentos de um Estado de Direito estão ameaçados. Como consequência do respeito e da proteção, que devem ser garantidos à criança desde o momento de sua concepção, a lei deverá prever sanções penais apropriadas para toda violação deliberada dos direitos dela." Visto que deve ser tratado como uma pessoa desde a concepção, o embrião deverá ser defendido em sua integridade, cuidado e curado, na medida do possível, como qualquer outro ser humano. (§2273)

Não podemos nos esquecer também que candidatos “ficha suja” não devem ser escolhidos, pois já provaram pela conduta que faltaram com a ética e com a moral. Não vamos jogar fora essa grande oportunidade de mudar os rumos de nosso país. Vamos escolher candidatos que busquem o bem comum e que estejam em comunhão com os valores perenes.

A Igreja não tem candidato, e quando algum de seus representantes oficiais indica ou apoia um candidato ou partido, está desobedecendo a própria Igreja.
Por outro lado, ela tem ensinamentos que nos permitem votar discernindo entre as propostas de vida e as propostas de morte.

Fica o poema 'No caminho com Maiakóvski', de Eduardo Alves da Costa:

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada. 


Busquemos no Evangelho, nos Ensinamentos da Igreja e na poesia, a esperança que renova nossa capacidade de votar escolhendo a vida.

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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