Brasil

Semana de Arte Moderna: reflexo de um mundo em ebulição

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

07 FEV 2022 - 08H48 (Atualizada em 07 FEV 2022 - 10H01)

Durante muito tempo, a arte no Brasil teve como inspiração modelos e temáticas importados da Europa, sem um colorido mais brasileiro.

Até as primeiras décadas do século XX, o 'chique' era usar palavras francesas como as muitas que ainda hoje fazem parte de nosso vocabulário, tomar chá como os ingleses, usar ternos feitos com os tecidos importados de lá, usar aquelas pesadas roupas de lá (apesar de nosso clima tropical), ouvindo música também importada, como as óperas que se tocava em Milão.

Um pouco mais tarde, o foco da inspiração mudou-se para os Estados Unidos, sobretudo, a partir dos anos de 1960, haja vista a influência dos americanos ainda hoje na música, no comportamento, e até mesmo na forma de organização social.

Nas primeiras décadas do século XX, o mundo estava em ebulição. A Primeira Grande Guerra havia terminado, a Europa passava por um período de reconstrução e os efeitos maléficos da pandemia da Gripe Espanhola, que acontecera de 1918 a 1920 mais ou menos, haviam cessado.

Ao mesmo tempo, o Brasil também estava em ebulição, com um intenso trabalho de reconstrução social, crescimento das cidades e formação de uma elite intelectual pensante. Esses fatores possibilitaram o início do processo de modernização, e nesse clima é que aconteceu a Semana de Arte Moderna, considerada por muitos como o princípio de um novo processo de criação na arte brasileira, pela sua abrangência e pelas repercussões que causou.

vitormarigo/ Shutterstock
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Como se deu a Semana de Arte Moderna

Agora em fevereiro, se completam 100 anos que um grupo de artistas e escritores fez do Teatro Municipal de São Paulo o palco da Semana de Arte Moderna. Eles queriam que aqueles poucos dias (13, 15 e 17 de fevereiro de 1922) se transformassem num marco simbólico de transformação da arte brasileira, apesar dos atritos que a semana gerou. Mas os próprios envolvidos não poderiam nem imaginar o que essa semana representaria!

Aquelas noites no Municipal refletiriam o processo de mudança que vinha acontecendo há alguns anos na sociedade brasileira, especialmente nos estados da região sudeste.

O renomado pintor Di Cavalcanti estava planejando um evento de artes visuais e conferências para aquele período, mas o evento inicial acabou ampliado e transferido para o palco do Municipal, envolvendo outros estilos de arte.

Uma das “almas” da Semana de Arte Moderna de 1922 foi o diplomata e escritor maranhense Graça Aranha. Ele chegara há pouco do exterior, com o desejo de implantar aqui as novidades aprendidas no exterior no seu tempo de diplomata. Foi ele o responsável por sugerir a inclusão de artistas do Rio de Janeiro, como o compositor carioca Heitor Villa-Lobos, que se tornou uma das grandes figuras da semana.

Leia MaisSemana de Arte Moderna 1922: Uma semana revolucionáriaO conceito de modernismo

Para que possamos entender bem a Semana de Arte Moderna, é preciso que busquemos o significado mais profundo de modernismo, como conceito e tudo o que ele provoca.

Quando falamos de Modernismo ou de Movimento Moderno, lembramos do movimento artístico e cultural que surgiu no começo do século XX, com o objetivo de superar o "tradicionalismo" da época, experimentando novas técnicas e criações artísticas e um novo modo de se viver.

As condições do mundo após a Primeira Grande Guerra possibilitaram o surgimento do modernismo, primeiro na Europa e depois aqui no Brasil, provocando um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente nas artes e na sociedade brasileira nas primeiras décadas do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas.

No tempo do pontificado do Papa Pio X, o modernismo impactou profundamente a ação pastoral da Igreja, sendo objeto de aceitação de uns e de críticas ferrenhas de outros. Nesse tempo é que foram feitas algumas reformas na Igreja que possibilitariam, mais tarde, o advento do Concílio Vaticano II.

Por essas razões é que a Semana de Arte Moderna de 1922 ganhou força: pelo fato de desencadear um movimento de transformação que chega até os nossos dias.

Mesmo lembrando que nem todos os participantes da Semana fossem modernistas, as expressões que dela vão surgir serão marcadas por uma maior liberdade de estilo, de aproximação com a linguagem falada, de liberdade de pesquisa e ampliação dos horizontes da arte e da concepção de uma cultura que fosse mais brasileira.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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