Entender sobre Paz é fácil, pois o entendimento está ligado à nossa condição cognitiva. Podemos entender de paz, falar de paz, participar de eventos de paz, mas, não necessariamente praticar e promover a paz. A Paz deve ser uma escolha para além da cognição. Ela deve ser apreendida, e não somente aprendida. Precisamos de exemplos e de testemunho daqueles que promovem e vivenciam a paz e não somente falam de paz.
O hábito de paz se desenvolve pela imitação: “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. (Mt 5, 9). Quando nos interrogamos pela paz e buscamos caminhos de estabelecimento da mesma, estamos diante do grande desafio de refletir o que fizemos até aqui pela paz: tudo o que até agora foi realizado não foi suficiente para que a paz acontecesse; por que o mal se espalhou; por que vemos tantas causas contra a paz crescer entre nós?
Na mensagem do Dia Mundial da Paz em 2005, São João Paulo II, afirmou que:
O mal tem sempre um rosto e um nome: o rosto e o nome de homens e mulheres que o escolhem livremente. A Sagrada Escritura ensina que, nos inícios da história, Adão e Eva se revoltaram contra Deus e que Abel foi morto pelo irmão Caim. Foram as primeiras escolhas erradas, às quais se seguiram tantas outras ao longo dos séculos. Cada uma delas traz em si uma essencial conotação moral, que implica concretas responsabilidades por parte do sujeito e põe em questão as relações fundamentais da pessoa com Deus, com as outras pessoas e com a criação.
A paz que Jesus propõe aglutina todas as dimensões necessárias à promoção da paz. Alcançar a paz interior deve ser a meta para a implantação da paz. Para alcançá-la, é preciso “vencer-se a si mesmo”. Precisamos vencer nosso ímpeto contra a paz, a nossa falta de serenidade, falta de prudência, falta de mansidão. Podemos, sim ter uma paz inquieta, mas não a ausência da paz interior. Em qualquer situação, diante de qualquer dificuldade, nas menores e nas maiores, a paz interior será decisiva para que vivamos em paz.
Em algumas situações, buscar a paz é, necessariamente, caminhar na contramão, que não significa sob hipótese alguma ferir o outro, destruir o outro. Precisamos caminhar na contramão de muitas ideologias que não estão a serviço da paz, pois, sem que percebamos, trabalham para semear a discórdia, a negação dos valores e correntes que são contrárias aos ensinamentos de Jesus. São ideologias que irão gerar mais violência, desarmonia e desalento. Não podemos nos deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem: “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem” (Rm 12,21).
São João Paulo II, na Mensagem do Dia mundial da Paz em 1979 nos alertou que:
Aquilo que proporciona as visões de paz e aquilo que serve uma linguagem de paz deve exprimir-se em gestos de paz. Faltando estes, as convicções nascentes como que se evaporam e a linguagem de paz torna-se uma retórica, que bem depressa cai no descrédito. Podem ser muito numerosos os artífices de paz se eles tomarem consciência das suas possibilidades e das suas responsabilidades. É o pôr em prática a paz que leva à paz. Esta ensina àqueles que buscam o tesouro da paz que tal tesouro se revela e se oferece àqueles que modestamente, no dia-a-dia, realizam todas as pazes para que têm capacidade.
Leia Mais10 frases bíblicas para meditar a pazNovas cruzes não são respostas para pazRespeitar o outro não significa, em muitos casos, defender suas escolhas. Nem sempre o que o outro pensa tem que ser defendido.
Não podemos terceirizar a verdade e penhorar valores para negociar determinadas vantagens.
Não se vence o mal com o mal. A canção Águia pequena (Pe. Zezinho) tem um trecho que diz assim:
Tenho uma prece que eu repito suplicante
Por mim, por meu irmão
Dá-me esta graça de viver a todo instante
A minha vocação
Eu quero amar um outro alguém do jeito certo
Não vou trair meus ideais pra ser feliz
Não vou descer nem jogar fora o meu projeto
Vou ser quem sou e sendo assim serei feliz.
Na busca pela paz, precisamos escolher pilares fecundos para que não tenhamos a tentação de trair os grandes ideais que sustentam nossa vida. Não podemos colocar em risco os verdadeiros projetos, essencialmente aqueles que têm como centro os ensinamentos de Jesus e da Igreja. A paz não se faz apenas com ausência dos conflitos, mas pela superação de atitudes violentas quando os conflitos acontecerem. Os conflitos acontecem e ajudam, em algumas situações, em nosso crescimento coletivo e pessoal, mas conflitos não são guerras, não é destruição mútua, muito mens combate.
Mesmo nas tribulações, na dor, nos sofrimentos, nas perseguições, diante das injurias e dos mais variados obstáculos, devemos nos manter serenos, o que São Francisco define como “Perfeita Alegria”, em seu diálogo com Frei Leão.
Conclui São Francisco:
“Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo – dizia – está o de vencer a si mesmo e, com prazer; por amor a Cristo, suportar sofrimentos, injúrias e dificuldades”. (Fioretti, 8)
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