Comunicação

Escutar com o coração: quando Deus e a humanidade se fazem presentes

Mariana Mascarenhas

Escrito por Mariana Mascarenhas - Redação A12

05 JUN 2022 - 07H00

Em sua mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado em 31 de maio, o Papa Francisco nos convida a escutarmos com o ouvido do coração.

Este talvez seja um dos maiores desafios da humanidade, especialmente nesta era digital, em que muitos se aprisionam em bolhas virtuais, ignorando ou repreendendo tudo aquilo que não for condizente com suas crenças.

Assim, a partir das palavras do pontífice, percebemos a extrema urgência de romper nossas bolhas para vermos os clamores de nossos irmãos que habitam a Casa Comum, mas que, muitas vezes, se tornam invisíveis diante de nossos olhos.

Porém, para conhecer e acolher o outro, é preciso ir muito além do ver. É preciso aguçar os ouvidos de nossos corações, a fim de que possamos adentrar na realidade do próximo e compreendê-lo em sua totalidade, à semelhança da escuta de Deus, como nos diz o Papa:

“A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso ‘inclina o ouvido’ para o escutar. O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e ‘fechar os ouvidos’ para não ter de escutar”.

Leia MaisGiro A12 estreia com debate sobre a mensagem do Papa aos comunicadoresTodavia, para que a comunicação verdadeira aconteça, Papa Francisco ressalta que a primeira escuta deve ser a do nosso interior, envolvendo as exigências mais autênticas inscritas em nosso íntimo. “E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos.”

Assim, é preciso que nos deixemos surpreender e envolver pelo que o outro nos diz. Não se trata de ouvi-lo apressadamente, à espera de impormos nosso ponto de vista como verdadeiro e absoluto, pois, assim, estaremos dialogando em monólogo.

“Nestas situações, como observa o filósofo Abraham Kaplan, o diálogo não passa de duólogo, ou seja, um monólogo a duas vozes. Ao contrário, na verdadeira comunicação, o eu e o tu encontram-se ambos ‘em saída’, tendendo um para o outro”, nos alerta o pontífice. E, certamente, não há gesto mais lindo e fraterno do que cursarmos nossa jornada da vida ao encontro do próximo.

AM113/ Shutterstock
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Outra questão de extrema relevância apontada pelo Papa Francisco em sua mensagem se refere à necessidade de escutar e nos escutarmos dentro da Igreja:

“Nós, cristãos, esquecemo-nos de que o serviço da escuta nos foi confiado por Aquele que é o ouvinte por excelência e em cuja obra somos chamados a participar. ‘Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra’. Assim nos lembra o teólogo protestante Dietrich Bonhöffer (...)”.

Dessa maneira, que possamos abrir os ouvidos de nosso coração para que Deus se manifeste em nosso íntimo, pois Ele está sempre conosco, mas, cabe a nós aguçar a nossa escuta do modo mais profundo e verdadeiro para recebê-Lo. Recordemos, por exemplo, a passagem bíblica de Pentecostes, em que o Divino Espírito Santo desce sobre os apóstolos. Somente por meio da escuta verdadeira, os discípulos puderam manifestar os sete dons recebidos pelo Divino. E assim também deve acontecer conosco.

Leia MaisPapa convida forças comunicativas da Igreja no Brasil a assumirem compromissoAo escutarmos Deus com nosso coração, nós desenvolvemos o discernimento necessário para enxergarmos o mundo com os olhos de Deus (dom da sabedoria), interpretarmos Seus desígnios em nossa vida (dom da inteligência), orientarmos nossos pensamentos segundo o coração divino (dom do conselho), fortalecermos nosso espírito a fim de superarmos momentos difíceis (dom da fortaleza), compreendermos Deus por meio de nossa fé racional (dom da ciência), aumentarmos nosso vínculo com o Pai (dom da piedade) e reconhecemos nossa pequenez diante Dele (dom do temor a Deus).

Portanto, que possamos aprimorar o dom da Escuta para que Deus se faça presente em nós e nos permita viver Pentecostes, à semelhança dos discípulos, vendo e ouvindo a humanidade aos olhos do Divino.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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