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Dúvidas Religiosas

Uma pessoa já declarada santa pode perder essa condição?

Entenda como funciona todo o processo de canonização, as exigências e se é possível que a Igreja decida por reverter o processo e retirar esse status

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

19 AGO 2025 - 11H09 (Atualizada em 20 AGO 2025 - 08H17)

Owen Helai/ Adobe Stock

Quando uma pessoa morre em fama de santidade, qualquer fiel batizado, transcorrido o prazo de cinco anos dessa morte, embora o Papa possa dispensar esse prazo, como aconteceu em relação a João Paulo II, pode pedir ao bispo da diocese na qual a pessoa faleceu, por meio de um postulador que se faça a abertura do Processo de sua Canonização.

Concluído o processo, a pessoa recebe a inscrição no cânon ou catálogo dos Santos da Igreja. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1998, quando numa missa solene durante a Festa da Padroeira, a Congregação Redentorista solicitou a abertura do processo de canonização do Venerável Pe. Vitor Coelho de Almeida. Hoje o processo ainda não foi concluído.

Junto com o pedido chamado de “libelo”, deve ser apresentada ao bispo uma boa biografia ou ao menos um relatório cronológico do falecido que goze do “odor de santidade”, acompanhado de uma relação de seus escritos, caso existam, além de uma lista com nomes de testemunhas que possam depor, caso o processo seja aberto em nível diocesano.

De posse desse material e nada havendo contra a pessoa indicada, o bispo solicita a autorização ao Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma, fazendo acompanhar uma cópia de todo o material recolhido. Depois de estudar o material, o dicastério expede então um documento que, em latim, se chama Nihil Obstat” (Nada em contrário) com a autorização para que o processo seja iniciado.

Adrian Tusar/Shutterstock Adrian Tusar/Shutterstock Carlo Acutis teve rápido processo de canonização, que acontecerá em setembro de 2025

Na mesma ocasião o bispo diocesano comunica à Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) ou ao menos ao Regional do qual faz parte, solicitando o parecer dos demais bispos sobre a plausibilidade de ser ou não ser aberto o processo.

Nada havendo em contrário, o referido processo pode ser iniciado, não sendo possível, porém, prever a sua duração. Existem alguns processos, como o de Carlos Acutis, que será canonizado em setembro de 2025, que são bastante rápidos, e outros, como o de São José de Anchieta, que demoram muito mais tempo.

Fases do processo de canonização

O processo de canonização é muito sério, rigoroso e completo, passando por diversas fases que vão se sucedendo desde sua abertura.

Fase diocesana. Nessa fase acontece a investigação sobre a vida do candidato a santo, apresentando suas virtudes e defeitos que não podem obstaculizar o processo, com o recolhimento de testemunhos de pessoas e documentos comprobatórios de suas virtudes. A pessoa recebe então o título de Servo de Deus, devendo ser exumados os seus restos mortais e levados para um digno lugar.

Fase romana. Concluída a fase diocesana o processo é enviado ao Dicastério para as Causas dos Santos no Vaticano, onde peritos analisam toda a documentação que consta do processo e habilitados médicos analisam o possível milagre. O processo pode ser aceito, recusado ou o Dicastério pode pedir novos estudos sobre ele.

Com a aceitação o processo recebe uma “Positio” a comprovar que o Servo de Deus praticou as virtudes cristãs necessárias. Se teve fama de santidade na vida, na morte e depois da morte ou se é mártir, tendo sido assassinado por ódio à fé. Feitos todos os procedimentos e sendo positivos os pareceres, a Causa vai à análise do Papa que, aprovando-a, dá ao Servo de Deus o título de Venerável.

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Fase beatificação. Havendo a comprovação de um milagre feito pela intercessão do candidato, com uma cura cientificamente inexplicável diante da análise médica, ele pode ser beatificado recebendo o título de Beato ou Bem Aventurado.

A cerimônia de beatificação pode ser presidida pelo próprio Papa ou por um legado seu — via de regra, o Cardeal, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos — em Roma ou onde viveu ou atuou o Beato. A Beatificação dá o direito de culto público nas regiões ligadas à pessoa que foi beatificada. No caso de um mártir se dispensa o milagre.

Fase canonização. Após a beatificação e com o culto público nos lugares de influência de quem foi beatificado, deve ocorrer um segundo milagre que também precisa ser comprovado por peritos, e agora é necessário também para um mártir o papa proclama a pessoa como santa, realizando uma nova cerimônia de canonização, após a qual a devoção é estendida a toda Igreja.

Com a canonização o processo é concluído, não havendo nada mais a se fazer, mas alguns santos podem ser declarados como padroeiros de uma cidade, de uma região ou de uma profissão, ou condição de vida humana.

Santo Afonso de Ligório, fundador da Congregação Redentorista, foi proclamado como patrono dos Confessores e Moralistas. Outros santos, e são bem poucos, que se distinguem pela sua sabedoria expressa nos escritos que deixaram e nos pensamentos que propagaram, podem receber, como aconteceu com Santo Afonso, o título de Doutor da igreja.

O Brasil hoje possui hoje 37 santos, sendo 30 homens e 7 mulheres e outros 171 processos em fase de encaminhamentos, sendo 54 beatos, 30 veneráveis e 87 servos de Deus.

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Uma pessoa canonizada pode deixar de ser santa?

A seriedade e a duração do processo realizado em relação à pessoa que inicialmente foi apontada como santa até chegar ao momento de sua canonização, faz com que a possibilidade da Igreja cometer algum erro sobre ela seja praticamente zero. Mesmo nos processos mais rápidos, essa seriedade e cuidado acontecem, como foi o caso de Madre Teresa de Calcutá, não existindo uma pessoa que duvide de sua santidade.

Em alguns casos, a Igreja, através do Santo Padre, pode dispensar o processo de canonização, como é o caso dos profetas do Antigo ou Primeiro Testamento. Não foram canonizados formalmente pela Igreja Católica, mas são considerados santos e venerados pela sua santidade.

A Igreja reconhece sua importância e dignidade, mas o processo de canonização, como conhecido hoje, só foi estabelecido séculos depois. Em outros casos, o papa pode dispensar alguma fase ou alguma exigência do processo, mas nada que prejudique a sua seriedade e a busca da verdade.

Reprodução/Wikipedia Reprodução/Wikipedia São Jorge, o Matador de Dragões , século XVI, por Georgios Klontzas


Concluído o processo de canonização, a Igreja Católica reconhece oficialmente a pessoa como santa e essa declaração torna-se permanente e irrevogável. Embora possa haver revisão histórica de figuras santas, ou até mesmo a suspensão de seu culto público, isso não implica em “descanonização”. Nem mesmo existe um processo para isso de acordo com o direito canônico existente.

Em alguns casos, a Igreja pode rever a vida de um santo e, embora não o descanonize, pode suspender seu culto público ou torná-lo facultativo. Isso pode acontecer devido a dúvidas sobre a autenticidade de certos eventos em sua vida ou por razões disciplinares.

São Jorge, por exemplo, teve seu culto universal suspenso em 1969, mas continua a ser celebrado em comunidades onde é padroeiro ou em muitas situações, como no Rio de Janeiro, onde é forte a devoção popular sobre ele.

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Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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