Espiritualidade

A unidade do ser humano em meio ao dualismo mundano

O Criador, além do corpo e da identidade, dá algo único para o ser humano. É o sopro divino, que nos diferencia dos outros seres criados

Fr. Rafael Peres Nunes de Lima C.Ss.R.

Escrito por Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R.

30 MAI 2022 - 07H57 (Atualizada em 30 MAI 2022 - 08H21)

Vivemos num mundo dividido entre um culto ao corpo perfeito e, de outro lado, a “salvação da alma”. Tal dualismo não começou na atualidade, nem em séculos passados, mas surgiu na antiga Grécia, com o surgimento da filosofia de Platão.

Em seu surgimento, o dualismo platônico mostrava o corpo como a prisão da alma, ou seja, o corpo (imperfeito, reflexo do mundo perfeito) aprisionava a alma (perfeita em ligação com o mundo das ideias).

Com o alvorecer da pós-modernidade, vemos um reflorescimento deste dualismo, mas alterado na questão do corpo. O corpo passou a ser cultuado mais profundamente e a busca pela perfeição corporal agora guia a sociedade. A alma já não tem tanto valor; ficou em segundo plano.

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Como enxergar o ser humano como um todo, sem divisões?

A sabedoria semita é fantástica ao ponto de mostrar uma outra visão em relação ao ser humano. Primeiramente, não há uma divisão entre corpo e alma. O ser humano, ao ser criado, é criado por inteiro.

O ser humano, na mentalidade semita, é um ser de relação mútua consigo mesmo, com o outro, com o mundo e principalmente com o Criador. Um ser de relação é também um ser sem dualidade. O בָּשָׁר (basar), ou seja, a carne mortal do ser humano - a vida, o corpo do ser humano - é criado por Deus. Este basar faz parte da criação e, por isso, está interligado com tudo.

Yahweh, ao criar o ser humano, o cria por completo, sem divisões, sem dualidades. Além do basar, o Criador ainda dá aos seres criados o נֶ֫פֶשׁ (nephesh), a capacidade de respirar. Na mentalidade semítica/hebraica, o ato de respirar é a capacidade de mostrar “quem você é”; o nephesh é a identidade do ser vivente.

Leia MaisA virtude da coragem a partir da confiança em DeusA vida como caminho para uma harmonizaçãoUma consciência despertaO Criador, além do basar e do nephesh, dá algo único para o ser humano. É aquilo que o diferencia dos outros seres criados.

O רוּחַ (ruah) é o sopro divino; é o pneuma que o Criador dá a nós, e isso nos diferencia dos outros seres criados, pois recebemos o sopro de Deus; recebemos o seu Espírito.

Portanto, a mentalidade semítica/hebraica nos ajuda a perceber a unidade do ser humano, como ser criado à imagem e semelhança de Deus.

Uma mentalidade dualista que cultua mais o corpo e despreza a alma, ou vice-versa, acaba por descartar a totalidade da vida humana.

O ser humano é único. A vida de cada ser é única. É preciso que percebamos que, ao compreendermos a unidade, também poderemos perceber que cada um forma um todo na Criação.

Escrito por
Fr. Rafael Peres Nunes de Lima C.Ss.R.
Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R.

Missionário Redentorista, Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e estudante de Teologia no Instituto São Paulo de Estudos Superiores – ITESP.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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