Muitas expressões acabam se naturalizando em nosso cotidiano e, com o passar do tempo, já não conseguimos recordar dos sentidos originários das mesmas. Uma das expressões que devemos investir tempo de reflexão é o conceito de “humanização”. Esse conceito ganhou força em muitos ambientes sociais e impregnou muitos deles divulgando a ideia do “atendimento humanizado” como o caminho de excelência.
O Dicionário da Língua Portuguesa define humanização como a ação ou efeito de humanizar, de tornar humano ou mais humano, tornar benévolo, tornar afável. Há uma corrente filosófica chamada Humanismo, que compreende o homem como o centro de todas as coisas e nele estão contidas as possibilidades de por si, reconhecer seus limites e potencialidades. Uma visão “antropocêntrica” que buscou combater, no final da Idade Média, a visão “teocêntrica”, ou seja, de Deus como centro da História.
O humanismo tem suas bases na racionalidade e no conhecimento científico e afastou outras dimensões que fazem parte da condição humana, assim como a fé e as emoções enaltecendo a racionalidade humana, pois somente ela é capaz de dar respostas e traçar ações que possam dar ao homem a segurança e a liberdade. Neste sentido, o homem depende unicamente da razão e basta-se em si mesmo. Ele é o protagonista da história.
Eis onde reside o grande perigo de não nos damos mais conta da origem das expressões. O Humanismo quis reinaugurar o que já estava inaugurado. Quis humanizar o que já era humanizado desde a Criação. O humanismo implantou a ideia de que era preciso colocar o homem como centro do universo, já que este estava em segundo plano. Dessa forma, foi ganhando força, espalhando-se, perpetuando-se e fazendo-nos acreditar que não pode haver humanização sem que seja a racionalidade humana o centro de todas as coisas.
Leia MaisHumanização e espiritualidadeO Papa João Paulo II, agora Santo, na Carta Encíclica Fides et Ratio, apresentou grande preocupação acerca da visão unilateral da razão, que se esqueceu da dimensão transcendental da humanidade:
No século passado, este movimento tocou o seu apogeu. Alguns representantes do idealismo procuraram, de diversos modos, transformar a fé e os seus conteúdos, inclusive o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, em estruturas dialéticas racionalmente compreensíveis.
Mas a esta concepção, opuseram-se diversas formas de humanismo ateu, elaboradas filosoficamente, que apontaram a fé como prejudicial e alienante para o desenvolvimento pleno do uso da razão. Não tiveram medo de se apresentar como novas religiões, dando base a projetos que desembocaram, no plano político e social, em sistemas totalitários traumáticos para a humanidade.
Foi dessa forma que começamos a pensar na proposta de “atendimento humanizado” na saúde, na educação, na igreja e em tantas outras instâncias do cotidiano humano. Ao compreender que precisávamos de humanização, definimos, talvez sem questionar, que nunca fomos humanizados? Onde fica, neste contexto, o desejo de Deus de nos criar à sua Imagem e Semelhança? Não teria Ele, pelo sopro Criador, constituído o homem como “ser humanizado” lhe tirando da condição inerte de barro?
Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”." "Deus os abençoou: “Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. (Gn 1,26-28).
Não significa negação da humanização nas relações cotidianas, mas ao contrário, uma valorização da condição que já foi constituída pelo Projeto de Deus. É preciso ter um olhar atencioso para que compreendamos que, ao criar a humanidade, Deus nos amou primeiro (1 Jo 4,19) e por isso Ele já nos deu um “atendimento humanizado”, nos constituiu cuidadores da Criação e nos abençoou. Deus é o Centro de nossa existência, de nossas buscas, de nossas respostas.
Voltando ao conceito de humanização, pensado somente pela lógica da racionalidade humana, este naturaliza a ideia de que a humanidade está sem rumo e precisa se aportar em algo que ainda não havia experimentado. Para os Cristãos, Jesus é o ápice da humanização de Deus: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade." (Jo 1,14). Quando assumimos a ideia do “atendimento humanizado” como um projeto de uma corrente filosófica, ignoramos o ensinamento de Jesus: "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos." (Jo 15,12-13)
A proposta da Igreja Católica “Educar ao Humanismo Solidário para Construir uma ‘Civilização do Amor’”, que pode ser conferida no documento da Congregação para a Educação Católica, que comemorou com 50 anos da Populorum Progressio em 2017, é uma proposta do Humanismo Solidário, que coloca Deus como centro da existência humana e Jesus como o a certeza de nossa esperança:
Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor. A caridade cristã propõe gramáticas sociais universalizantes e inclusivas. Tal caridade informa as ciências que, preenchidas por ela, acompanharão o homem em busca do sentido e da verdade na criação. A educação para o humanismo solidário deve então começar a partir da certeza da mensagem de esperança contida na verdade de Jesus Cristo. (17).
O “atendimento humanizado” é uma escolha da Igreja, que sempre se manteve atenta, para não ceder ao secularismo que, renovado ao longo do contexto histórico, com o aparecimento de muitas correntes, gera indiferentismo, ateísmo e relativização de valores do Evangelho.
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