Por Martín Ugarteche Fernández Em Espiritualidade Atualizada em 07 JUN 2021 - 09H15

Como Jesus tratava José?

Vou tentar responder a esta pergunta a partir da contemplação de um ícone que um amigo recentemente pintou e que ficará por algum tempo comigo, até que parta ao seu destinatário final.

Reprodução
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Alguns detalhes que posso perceber no ícone: São José ensina ao Menino Jesus um rolo, no qual está escrito, em hebraico o “Ouve Israel”, oração muito cara ao povo hebreu. Enquanto segura o rolo com a mão esquerda, com o dedo da mão direita aponta para o Pai do Céu. O menino, obedecendo seu pai adotivo, São José, tem o rosto virado para a direção indicada.

Isto nos leva a pensar na obediência, como atitude fundamental do Senhor Jesus para com São José.

Trata-se de uma atitude que caracteriza a Pessoa do Filho, que se encontra na base da sua Encarnação e que se prolonga ao longo de toda a sua vida na terra. Ao longo de todo o seu caminho, o Senhor Jesus aceita as mediações humanas, que também são para Ele canais pelos quais o Pai lhe manifesta a sua vontade.

Leia MaisComo Jesus tratava Maria?Como Jesus tratava as pessoas?O Evangelho de Lucas nos conta como depois da passagem da perda do Menino Jesus por três dias, quando foi encontrado no Templo, cuidando das coisas do seu Pai, voltou a Nazaré e era submisso a Maria e a José.

Esta submissão, que Jesus viveu para com a sua mãe e o seu pai adotivo, não é algo artificial n'Ele, mas se encontra no centro da sua identidade e missão e chegará à sua máxima manifestação no Getsêmani, quando a vontade humana de Jesus se conforma obedientemente à vontade do Pai: não se faça a minha vontade, mas a tua.

Voltando ao ícone pintado pelo meu amigo, gostaria de salientar o conteúdo da mensagem no rolo: “Ouve Israel”, porque a palavra obediência vem, precisamente, do verbo ouvir. Quem não ouve não pode obedecer; quem vive distraído (seja porque está fechado em si mesmo, nos próprios problemas, ou disperso na superficialidade do fluxo dos acontecimentos) nunca poderá verdadeiramente discernir a vontade do Pai.

Marco Sete/ Shutterstock
Marco Sete/ Shutterstock

Confirmando estas breves reflexões, podemos citar, a modo de conclusão, algumas linhas da bela Carta apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, escrita por ocasião dos 150 anos da declaração de São José como patrono da Igreja:

“Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus" (cf. Ex 20, 12)

Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsêmani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua, fazendo-Se «obediente até à morte de cruz (Flp 2, 8). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus «aprendeu a obediência por aquilo que sofreu» (5, 8).

Escrito por
Martín Ugarteche
Martín Ugarteche Fernández

Peruano, membro do Sodalício de Vida Cristã. No Brasil, desenvolveu diversos projetos de evangelização da cultura, como o Concurso Literário Histórias de Natal e a Exposição Fotográfica Vida em Movimento. Doutor em Filosofia, por muitos anos foi professor. Atualmente reside em Roma, onde é responsável de uma das comunidades do Sodalício na Itália e faz parte da equipe de formação. Lançou um curso on-line de filosofia cristã, que é oferecido pelo Centro de Estudos Católicos na sua plataforma digital.

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