Espiritualidade

A vida em comunidade e seus desafios

Padre Lourenço Kearns, C.Ss.R. (Arquivo pessoal)

Escrito por Padre Lourenço Kearns, C.Ss.R. (in memoriam)

27 AGO 2021 - 13H10 (Atualizada em 23 AGO 2024 - 17H13)

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Quando falamos da vida comunitária dentro do contexto da comunidade cristã, sempre há dois elementos que são diferentes, mas inter-relacionados:

1. A “comunidade apostólica” — isto significa a maneira que a comunidade se organiza em suas estruturas internas. O ideal é viver como Cristo vivia com os doze e como as primeiras comunidades cristãs nos Atos dos Apóstolos viviam. Inclui elementos como sua espiritualidade e fraternidade.

2. A “comunidade em missão” — esse elemento significa que a comunidade, por amor, precisa sair de si mesma para poder servir aos outros, especialmente aos pobres, os abandonados e os dependentes. Fala do carisma fundacional, um serviço específico na Igreja e no mundo, baseado na experiência mística do(a) fundador(a).

Esse segundo elemento precisa muito do primeiro, especialmente sua espiritualidade, para animar o carisma e purificar suas motivações interiores. Um elemento depende do outro. Espiritualidade antes de ação.

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Koinonia é formar uma comunidade de esperança. Irmãos(as) que vivem juntos com a mesma meta, isto é, a busca de fidelidade na vivência de sua consagração.

É um reconhecimento que, sozinho, é impossível manter a fidelidade na consagração batismal. “Eu preciso de você para ser fiel” em minha consagração!

Segue uma definição teológica da vida comunitária (ou koinonia): 

A vida comunitária é o que nos une — busca de fidelidade na aliança batismal — assim, não existe qualquer há distinção entre os membros. É, ou melhor, quer ser 'processo' de uma realização histórica — aqui e agora — com rostos concretos da comunhão trinitária (amor radical) vivida em fraternidade livre (opção livre) e em serviço ao homem e ao mundo (descreve o projeto ou carisma da congregação).

É comunidade acolhedora: isto significa a aceitação da totalidade de todos os outros membros dessa comunidade. A aceitação das coisas boas neles - seus talentos/ dons/ seu passado/ seu valor/ seus trabalhos dentro e fora da comunidade - mas também exige a aceitação das coisas difíceis nessa pessoa: seus defeitos, limitações/ pecados e fraquezas, etc.

Segundo o Evangelho, não podemos dividir a pessoa, aceitando o bom e rejeitando o mal. É o pacote todo. Significa que somos capazes de contemplar nossos(as) irmãos(as) e ver o “rosto do Criador” neles. Eles refletem o Criador se temos a paciência para buscar e apreciar. Mas significa, sobretudo, que sou capaz de acolher o diferente no outro, e não encarar essa diferença como uma ameaça para minha vida. É para Apreciar, e não condenar/criticar/ fofocar ou caluniar.

É comunidade perdoante: somos, por natureza, um grupo de imperfeitos vivendo em comunidade. Por causa disso, nos reunimos e vivemos juntos, para apoio na vivência radical da aliança de nosso batismoPrecisamos de muita coragem e honestidade para perceber que, às vezes, nós somos a causa da dificuldade no relacionamento e no acolhimento, e não o outro.

Às vezes, o diferente no outro me questiona, e fico inseguro, e até me sinto inferior diante dele. A tendência humana, normalmente, então, é reagir diante do diferente que ameaça minha pessoa. Exigimos que o outro seja como eu, uma “cópia xerox” de mim e, por isso, ela não pode me questionar, incomodar ou ameaçar, e precisa se moldar ao como eu sou.

Como é difícil, no primeiro momento, acolher o diferente no outro, porque, no fundo, não acolho a mim mesmo e minhas limitações!

Sendo imperfeitos, vamos ofender uns aos outros. É uma realidade bruta da vida comunitária. Ninguém escapa essa realidade, nem Cristo. A maioria das ofensas não são grandes e são fáceis para perdoar se houver generosidade, compreensão e amor no coração. Mas pode ser que haja uma ofensa maior e mais séria. Isto vai precisar de um processo de perdão.

Escrito por:
Padre Lourenço Kearns, C.Ss.R. (Arquivo pessoal)
Padre Lourenço Kearns, C.Ss.R. (in memoriam)

Nasceu em Nova York e veio para Brasil em 1968. Mestre em Educação Religiosa e em História, autor de nove livros sobre a Vida Consagrada e Espiritualidade. Foi Provincial de Campo Grande (MS) por seis anos e trabalhou por 33 anos na formação de futuros redentoristas.

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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