Se buscamos as origens do Carnaval, podemos ver alguns momentos importantes da evolução de sua história. O primeiro deles é o “Carnaval pagão”, que nos leva até o Egito, Grécia e Roma de antes da era Cristã. Celebrava-se aos deuses, sobretudo da fertilidade, para afastar as pragas da plantação e por uma boa colheita. Normalmente, essas festas se davam no fim do ano e no início do próximo ano, para agradecer também o fim do ano religioso e agrário.
O segundo momento seria o “Carnaval cristão”, que nos coloca no contexto de uma fé que se encontra com essas antigas festividades e a incorpora no seu calendário. A data do Carnaval é movida para justo antes do período da Quaresma, no qual a Igreja se prepara para as festividades da Páscoa com um acento maior na necessidade da conversão.
A partir de então a dinâmica do Carnaval se desenvolve, ganhando muita influência dos franceses. No Brasil, o Carnaval chega com os portugueses, na festividade chamada entrudo, onde as pessoas saíam as ruas e faziam uma série de brincadeiras, entre elas, se jogavam água, lama e dançavam pelas cidades. As perguntas que vêm à mente são as seguintes: Que relação existe entre a religião católica e o Carnaval? Por que incorporar essa festa ao seu calendário? Porque, se é uma festa pagã, não deixar de lado o Carnaval?
Existem muitos lugares que veem essa atitude da Igreja como algo desesperado por ganhar e controlar os fiéis, como uma imposição que vai contra a cultura local, sem respeitar as tradições ou como uma atitude errada da Igreja porque dialogar com o mundo seria necessariamente algo meio demoníaco. Como explicar, então, a atitude da Igreja?
Evangelização da Cultura
A resposta é simples: A Igreja sempre buscou Evangelizar a Cultura. Mas o que significa isso? A Igreja ama o mundo, ama as pessoas e por isso não fecha os olhos a nenhuma expressão cultural do ser humano. O Concílio Vaticano II, no documento Gaudium et Spes, diz:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”
Desde sempre Deus dialogou com o homem (Com Adão e Eva, com Abraão e todos os profetas) e, desde a encarnação de Jesus, onde Deus assume todo o humano, fazendo-se «semelhante a nós em tudo, menos no pecado» (Heb 4, 15), levou esse diálogo as últimas consequências, morrendo por nós na Cruz.
A Igreja, a exemplo de seu Mestre, continua esse diálogo, como nos diz o Papa Paulo VI em 1963:
“A Igreja olha para ele (o mundo) com profunda compreensão, com sincera admiração e com sincero propósito não de o conquistar, mas de o servir; não de o desprezar, mas de o valorizar; não de o condenar, mas de o confortar e salvar.”
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O termo “Evangelização da Cultura” apareceu pela primeira vez em 1975, no documento chamado Evangelii Nuntiandi, sobre a evangelização no mundo contemporâneo, e desde então se vem refletindo muito sobre o tema.
Muitos celebram o Carnaval fazendo atividades em comunidade, retiros espirituais para jovens, divertindo-se de acordo com quem são, filhos e filhas amadas de Deus. Em palavras mais simples, evangelizar a cultura significa entrar em diálogo com o mundo e discernir, à luz do Evangelho, aquilo que é realmente humano e aquilo que nos afasta de quem somos impedindo nossa realização como pessoas, alentando o que é bom e purificando o que não é.
Deus quer a felicidade do homem. Ele veio para que tenhamos vida em abundância (Jo 10,10), para que sejamos livres (Gal 5,1). Nos diz o Papa Emérito Bento XVI em um discurso aos políticos de Roma em 2009:
“O cristianismo é portador de uma mensagem luminosa sobre a verdade do homem, e a Igreja, que é depositária desta mensagem, está consciente da sua própria responsabilidade em relação à cultura contemporânea.”
Poderíamos dizer que evangelizar a cultura é, como nos disse Paulo VI no documento Lumen Ecclesiae, conseguir a “conciliação entre a secularidade do mundo e a radicalidade do Evangelho, evitando, por um lado, aquela tendência antinatural que nega o mundo e seus valores, mas, por outro, sem faltar às exigências supremas e inabaláveis da ordem sobrenatural“.
Voltando ao Carnaval
Expressões genuinamente humanas estão presentes no Carnaval desde sempre. Desde os desejos de honrar os deuses e pedir graças especiais como uma boa colheita, como a alegria, o desejo de comunhão e a celebração. Todas essas características, e talvez outras que não coloquei aqui, fazem parte do coração do homem e a Igreja não vai nunca, nem pode por sua missão, ir contra elas. Pelo contrário, iluminada pela mensagem de Jesus, ela busca dar a essas expressões o verdadeiro fundamento.
Apoiados pelo discernimento da Igreja, muitos celebram hoje o Carnaval fazendo atividades em comunidade, retiros espirituais para jovens, divertindo-se de acordo com quem são, filhos e filhas amadas de Deus, buscando justamente conciliar o que de bom e de humano existem nessa festa com a mensagem de Jesus, contribuindo, justamente, com a evangelização da cultura.
Para concluir, lembremos que logo após o Carnaval, na Quarta-Feira de Cinzas, começamos na Igreja a Quaresma, em preparação para a festa da Páscoa da ressurreição de Jesus. Se hoje podemos celebrar é porque Cristo morreu e ressuscitou por cada um de nós. Na celebração não nos esqueçamos que quanto mais convertidos, mais razões vamos encontrar para celebrar.
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