Espiritualidade

Para além da solidão

José Augusto Rento Cardoso

Escrito por José Augusto Rento Cardoso

28 SET 2021 - 09H05 (Atualizada em 28 OUT 2021 - 09H21)

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Quem já se sentiu sozinho? Quem já desejou estar sozinho? Quem já sofreu por estar sozinho? De fato, a experiência de solidão pode ser paradoxal. Não só por que diferentes pessoas podem se relacionar de forma diversa com a solidão, mas também pelo paradoxo dessa experiência no mundo atual.

Seria estranho afirmar que hoje uma pessoa pode se sentir sozinha. Isso por que a enorme facilidade de se estabelecer conexões, a enorme quantidade de estímulos, parece dizer que é impossível se sentir só. Entretanto, a experiência mostra o contrário. Muitas pessoas se sentem sozinhas e vivem a angústia da solidão.

Leia MaisDepressão e vida religiosa: entre o preconceito e a féAcredito que solidão e estar sem pessoas próximas, isolado, são experiências diferentes. Vejamos: Em algumas passagens da vida de Cristo, nos é relatado que Ele se afastou de seus amigos e das multidões para ficar sem ninguém e orar.

Certamente, essa experiência é muito necessária e presente na vida de sacerdotes e religiosos. Notem que essa experiência não leva ao isolamento, ao fechar-se em si, ao narcisismo proveniente do mergulho nas minhas experiências subjetivas.

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Esse recolhimento, se assim podemos dizer, abre a pessoa para o encontro. Encontro com Deus. Encontro com aquele que é mais íntimo em mim do que eu mesmo, para relembrar as palavras de Santo Agostinho.

De fato, essa atitude é importante. Na vida sacerdotal e religiosa, o encontro com Deus, a imersão no silêncio que leva a escutar a voz do Espírito é um caminho de renovação e de contínua conformação com Cristo, caminhando junto com Ele, rumo ao encontro com o Pai.

Leia Mais Como lidar com a solidão?No entanto, há a solidão. Solidão fruto do contínuo 'ensimesmamento' subjetivista. Da busca pela experiência emocional, e não pelo encontro com Deus. Solidão pelos desafios de um mundo 'dessacralizado', que não contribui para a vivência do estado de vida religioso ou sacerdotal.

Há a solidão pela falta de suporte, de amigos e, algumas vezes, pela dificuldade de ir ao encontro, de abandonar as crenças que afirmam que um(a) religioso(a) ou sacerdote não pode sofrer, fraquejar, pedir ajuda.

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Vivemos em um mundo que cultiva solidão. Por isso mesmo, continuamente, devemos lembrar que somos pessoas e que o cerne da nossa essência é ser imagem e semelhança de Deus. Um Deus que é Uno e Trino, que se relaciona.

Viver essa dimensão da 'relacionalidade' em nosso dia a dia é o caminho que nos leva a superar a solidão. Construir vínculos e não conexões.

Compreender a necessidade de pessoas que escutem e acolham, independente se você é um sacerdote ou um(a) religioso(a), se faz necessário para que não sejamos engolidos pelo vazio da solidão.

Escrito por
José Augusto Rento Cardoso
José Augusto Rento Cardoso

Casado, pai de três filhos, membro do Movimento de Vida Cristã e coordenador do Projeto Reconciliatio Psicologia Integral. É graduado em Psicologia, mestre em História e Filosofia da Psicologia e Pós-graduado em Psicologia Positiva e em Logoterapia e Análise Existencial. Atua nas áreas da Psicologia Clínica e Psicologia Jurídica. CRP 05/42118

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Por Redação A12, em Espiritualidade

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